No discurso pós-resultado, na esperada noite de 2 de outubro, Lula disse que nunca ganhou uma eleição no primeiro turno. Sempre, nas duas vezes em que chefiou o executivo nacional, chegou ao cargo no segundo turno das disputas. O mesmo pode ser dito de sua sucessora Dilma Rousseff, que teve a eleição de 2014 colocada em dúvida pelos adversários (auditoria dos votos). Em números arredondados, a diferença de Lula para Bolsonaro foi de 6 milhões de votos. Simone (quase 5 milhões de votos), grande surpresa do pleito, obteve mais votos que Ciro (3 milhões e meio de votos), que em 2018 ficou em terceiro lugar com mais de 13 milhões de votos.
Por aqui, o racha político entre PT e PDT parece que favoreceu a campanha do então candidato petista e agora governador eleito Elmano, aposta de Camilo para a sucessão do cargo. Desde as primeiras pesquisas, Capitão Wagner despontava como primeiro colocado e favorito para a chefia do executivo estadual. Nos últimos dias a surpresa foi a alavancada de Elmano (que contou com a ajuda de Lula) ao segundo lugar e depois ao primeiro, o que se confirmou com a votação e eleição com folga de mais de 1 milhão de votos no primeiro turno.
No jogo político de disputa pelo poder, ganância e rancor podem atrapalhar os que muito se projetam e se acham preparados. E no apagar das luzes, o cenário pode ser alterado pelas contrarregras que ficam nos bastidores. O país terá nova chance diante das urnas escolher quem o governará nos próximos anos. O mercado, o capital, os interesses financeiros têm peso na alçada e na manutenção dos nomes. As limitações e desgastes da turma que outrora esteve como mandatária são conhecidos. Falando sobre fatos da história, Marx escreve que acontecem “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
Mas agora é preciso levar em conta os mais de 686 mil mortos de covid, os 33 milhões que passam fome, os milhões de desempregados, os milhões em ocupações informais, a carestia de alimentos, a negação das vacinas, o flerte com inconstitucionalidades, o bang bang de cada um por si e armas para todos, a dúvida em relação ao processo eleitoral e ao formato da Terra. O atual segundo turno não é só mais um comum como tantos outros.
Por Felipe Feijão (felipe.feijao@opiniaoce.com.br)
Professor e colunista do GRUPO OPINIÃO CE