Dois anos depois, nesta quarta-feira (08), em ato no Palácio do Planalto, 21 obras restauradas, após o 8 de janeiro, retornaram oficialmente ao acervo da Presidência da República, incluindo um relógio pêndulo do século XVII e um quadro do artista Di Cavalcante. A solenidade contou com a presença do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Primeira-dama Janja, e também de Margareth Menezes, Ministra da Cultura; Edson Fachin, Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF); Ricardo Lewandowski, Ministro da Justiça e Segurança Pública, dentre outros representantes e também parte da equipe que contribuiu para a restauração das peças danificadas do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.
No momento, marcado por emoção, foi assinado também o decreto que institui o Prêmio Eunice Paiva de Defesa da Democracia. Em seu discurso, Lula destaca a importância do sistema democrático.
“A Democracia é uma coisa muito grande, para quem ama liberdade, para quem ama cultura, para quem ama inovação, para quem ama igualdade de direitos. Estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a Democracia está viva, ao contrário do que pensavam os golpistas do 8 de janeiro. Estamos aqui para dizer bem alto: Ditadura nunca mais, Democracia sempre”, destacou o presidente.
A restauração das peças contou com a colaboração do governo da Suíça e da embaixada da Suíça no Brasil, do Ministério da Cultura, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Universidade Federal de Pelotas. Para a primeira-dama, a preservação das obras que unem cultura, história e democracia é responsabilidade de todos.
“A memória é um dos alicerces mais importantes da nossa identidade enquanto brasileiros. Sua preservação não é apenas uma homenagem ao passado, mas também um compromisso com o futuro”, disse. “O restauro das obras de arte do palácio é a parte desse esforço comum com a nossa democracia. Não conseguiram impedir a liberdade nem destruir a beleza. Contra a violência e cinza do autoritarismo, fazemos brotar o colorido da nossa cultura e a alegria do nosso povo”, completou Janja.
RESTAURAÇÃO
A recuperação das obras foi realizada em uma inédita estrutura laboratorial de restauração montada no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, por meio da Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais e da Coordenação-Geral de Administração das Residências Oficiais. A iniciativa se deu a partir de uma parceria entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que possui experiência em conservação e restauração de peças de arte. Com investimento de R$ 2,2 milhões, o acordo durou cerca de um ano e nove meses, com repasses feitos pelo Iphan à UFPel, para a aquisição de equipamentos, contratação de bolsistas e gastos logísticos.
Entre as obras que já foram restauradas e entregues está o quadro As Mulatas, de Di Cavalcanti, uma tela com mais de 3,5 metros de largura por 1,2 metro de alturas. Considerada uma das principais obras do Salão Nobre do Planalto, o quadro foi perfurado ao menos sete vezes pelos vândalos durante o ataque em Brasília. Totalmente recuperada, a escultura de bronze O Flautista, de Bruno Giorgi, que possui 1,6 metro de altura, também retornou ao Palácio. A obra havia sido quebrada em quatro partes.
Outra entrega realizada foi uma ídria italiana (um tipo de vaso cerâmico branco e azul), do período do Renascimento. A obra foi despedaçada durante a invasão e foi restaurada em um minucioso trabalho que contou com técnicas avançadas de raio-x e análise microscópica de esmalte e pigmentos. Também foi devolvida a escultura Vênus Apocalíptica Fragmentando-se, de Marta Minujín, uma artista argentina, além da escultura de madeira Galhos e Sombras, de Frans Krajcberg, artista polonês naturalizado brasileiro.