
Há décadas que eu não assistia a um filme aleatório. Entrei na tal da Netflix e fiquei espantado com a quantidade de filmes, séries e tal. Mas aquele homem caído na neve com um urso o atacando com um nome sugestivo de “Contra o Gelo” e baseado em uma história real ocorrida na Dinamarca foi determinante.
Dois homens que lutam pela sobrevivência durante uma expedição à Groenlândia em 1909 para encontrar documentos – provar e oficializar as fronteiras daquele país cobiçadas pelos Estados Unidos. Espera aí! Mas a política do Big Stick, grande porrete, ideologia ou diplomacia empreendida como política externa na presidência de Theodore Roosevelt (1901-1909) não era apenas para a América Latina?
De fato, a doutrina do Big Stick foi posta em prática pelos estadunidenses com intervenções e ocupações militares em vários países do continente como México, Cuba, Panamá até 1934. Mas, para comprovar e demarcar as fronteiras, dois dinamarqueses percorreram, sofrendo muitos reveses e fome, por mais de oitocentos dias no Ártico.
Os dez cachorros que puxavam os dois trenós foram morrendo de exaustão, fome ou sacrificados para servirem de alimento. Pô, alimentar-se de fígado de cachorro sem aquele pimentão e aquela cebolinha, não dá! Pois é, mata-se para sobreviver. O que faz a fome! O povo nordestino sabe muito bem disso.
Alguém lembra, nos anos 1980, da inflação, da desvalorização da moeda e do empobrecimento da população!? O desespero abateu-se sobre o povo, e óbvio aconteceram as inevitáveis invasões de bodegas, mercearias, mercadinhos… gerando um crescente êxodo rural. Tristemente, a mendicância tomou conta de Fortaleza. O meu velho, sábio e saudoso avô que presenciou gente morrendo de fome nas secas, alertava-me.
“Nunca queira presenciar uma pessoa morrer de fome. É muito triste, é muito feio.” Recentemente, uma senhora gentil e simpática sentou-se ao meu lado e mostrou-me fotos de uma casa de taipa com um vão e seis crianças completamente nuas.
“Eu não sabia que havia tanta fome”, disse. Sensibilizada, reagiu e teve apoio. Depois, mostrou-me outras fotos da casa já com móveis doados e as crianças devidamente vestidas. Viva Madre Teresa de Calcutá e pessoas de boa vontade!