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18 de setembro de 2024

Iprede emite nota em solidariedade aos Yanomami: “a crise é de todos nós”

O Instituto da Primeira Infância foi fundado em 1986 em Fortaleza por um grupo de profissionais sensibilizados pela condição das crianças em desnutrição
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

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O Instituto da Primeira Infância (IPREDE) do Ceará, que atua diretamente no combate à desnutrição e no assistencialismo de crianças e famílias em situação de vulnerabilidade social, imitiu uma nota pública de solidariedade ao povo Yanomami, assunto que chocou o País nos últimos dias. A instituição destaca que a violência contra os povos indígenas e a desnutrição que os atinge, como no caso dos Yanomami, é uma situação que precisa de soluções urgentes, amparo e políticas de apoio efetivas.

“A desnutrição, a malária, a violência e suas sequelas vêm de uma relação adoecedora entre o homem e a terra, que reflete na construção de uma sociedade. Vimos isso em 1986, quando a mortalidade infantil, por diversas violências sociais, esfacelou a vida de muitas crianças no Ceará. E assim nascemos, para impedir este atrofiamento do futuro”, diz o documento.

O Instituto da Primeira Infância foi fundado em 1986 em Fortaleza por um grupo de profissionais sensibilizados pela condição das crianças em desnutrição grave e vivendo em situação de vulnerabilidade social e pobreza.

Tragédia

O povo Yanomami enfrenta uma crise de saúde pública, com inúmeros casos de malária e grave desnutrição. O território é um dos mais afetados pelo garimpo ilegal. Recentemente, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou o envio de recursos do Fundo Amazônia para ajudar os indígenas. A população indígena também sofreu com a inércia do poder público da última gestão federal.

Em 2022, o Ministério da Saúde, ainda gestão de Jair Bolsonaro (PL), deixou faltar cloroquina para atender os casos de malária entre indígenas da Amazônia e recomendou o medicamento para tratar da covid-19, mesmo comprovadamente ineficaz contra a doença. O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal apuram possíveis fraudes na compra de remédios para a população indígena.

Nesta quinta-feira, 2, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em mensagem ao Congresso Nacional, que o “genocídio” contra o povo Yanomami exige medidas “mais drásticas” por parte do governo e do Congresso.

Confira a nota de repúdio na íntegra:

“A crise é de todos nós: os que estão à margem e conhecem a tontura da doença, os que comem e principalmente aqueles que inventaram a miséria. Nossos irmãos Yanomami tiveram a liberdade, a vida e a integridade física devastadas, sobretudo a semente do nosso povo – a infância.

A desnutrição, a malária, a violência e suas sequelas vêm de uma relação adoecedora entre o homem e a terra, que reflete na construção de uma sociedade. Vimos isso em 1986, quando a mortalidade infantil, por diversas violências sociais, esfacelou a vida de muitas crianças no Ceará. E assim nascemos, para impedir este atrofiamento do futuro.

Acreditamos e defendemos a primeira infância, em suas múltiplas expressões, sabendo que esse é o período mais importante da vida de um indivíduo, em que os caminhos de seu futuro são moldados a partir de suas experiências e do ambiente onde cresce.

A violência, a desnutrição, a negligência intencional que a semente do povo Yanomami padece é um cenário assustador e repulsivo. Esperamos que tudo que estamos vivendo hoje, que resulta em nossa ira e frustração, possa nos mover a ser rede de apoio para quem está em extrema vulnerabilidade e vive dores absurdas. Somos parte de uma grande teia da vida. Parte, não donos. Compartilhamos a mesma terra, o mesmo céu.”

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