O Mapa da Violência Política de Gênero em Plataformas Digitais, produzida na Universidade Federal Fluminense (UFF) e divulgado nesta quinta-feira, 9, aponta que as parlamentares brasileiras são alvos de insultos, críticas e invalidações feitas violentamente nas redes sociais. De acordo com o estudo, os insultos são a forma de ataque mais acionada pelos usuários das redes sociais contra as parlamentares.
Entre os xingamentos que se configuram como uma violência discursiva, insultos como “loira burra” ou “vagabunda”, apareceram em 41% das mensagens ofensivas. Em seguida, aparece a invalidação com 26,6% das ofensas. É quando os comentários invalidam a importância do que a parlamentar expressou, reduzindo a um “mimimi”. Comentários como “ela é uma péssima profissional” ou “odeio fulana”, corresponderam a 24,5% das ofensas. Ameaças como “tem mais é que morrer” ou “vou te dar uma lição” e discursos de ódios como “tinha que ser preta”, também foram apontados, mas em um número menor.
O estudo foi realizado com mais de 1,5 mil mensagens publicadas no Twitter, Facebook, Instagram e Youtube, entre julho e dezembro de 2021. No geral, 9% do conteúdo continha algum indício de violência discursiva contra as deputadas federais e senadoras. Foram analisadas menções a 79 deputadas federais e a 12 senadoras da 56ª legislatura (2019 a 2023).
Letícia Sabbatine, uma das pesquisadoras que participou da análise destaca que o ataque que as mulheres políticas sofrem se concentra “no corpo, na aparência, na família, na capacidade intelectual e na legitimidade dela naquela espaço”. “Homens são geralmente atacados enquanto figuras políticas. O fulano é chamado de corrupto, o sicrano é classificado como mau gestor. A gente precisa olhar é o caráter dessa violência”, frisa.
OFENSAS
O estudo destacou também o tom das ofensas analisadas. A sátira nos comentários foi percebida em 30,9% dos conteúdos ofensivos, por meio de expressões como “mulher macho!” e “faz xixi em pé”. Dentre as menções violentas, 8,6% delas usavam discurso misógino para degradar e desumanizar as parlamentares, principalmente pelo tom de pele ou por serem da comunidade LGBTQIA+.
“O que é isso? É o uso do humor para camuflar uma desavença, para indicar que é só uma brincadeira, que não precisa de alarde, que não tem nada a ver com violência. Continua sendo violência, mas se trata de uma violência muito mais difícil de a gente demarcar”, explica Letícia Sabbatini.
REDES SOCIAIS
O Twitter foi a plataforma com mais mensagens enquadradas como violência discursiva. Cerca de 24% do conteúdo analisado nesta rede social apresentavam ofensas a parlamentares. No Facebook, o percentual caiu para 4,4% das menções violentas. No entanto, é nesta rede que os índices de engajamento nos conteúdos que incorporam ataques a parlamentares mulheres mais aumentam. O Instagram e Youtube registraram, respectivamente, 4,7% e 2,9% das menções violentas.
As parlamentares do campo ideológico da esquerda sofreram duas vezes mais ataques do que aquelas do espectro da direita. Dentre elas, as mais atacadas em termos proporcionais (número de ofensas em relação ao total de menções) foram as deputadas Talíria Petrone (PSOL-RJ), atacada em 50% das menções a ela; a Professora Dayane Pimentel (União-BA) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), ofendidas em 33,3% das mensagens dirigidas a elas.
Em números absolutos, onde conta a quantidade total de menções violentas, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) foi a maior vítima. Entre os partidos, os ataques se concentraram no PCdoB, PSOL e Partido da Mulher Brasileira (PMB). As informações são da Agência Brasil.