Numa noite de sábado, ao cumprimentar o motorista do uber, logo percebi que ele se comunicava em duas línguas, o inglês e outra que não era o espanhol. Qual o seu país de origem? “Eu sou indiano. Se o senhor falar inglês a gente se comunica melhor” respondeu-me. Depois de comentar os motivos de vir morar em Fortaleza, o elogiei sobre a sua habilidade em dirigir e se localizar numa cidade tão desconhecida. Sorrindo explicou-me: “Porque na Índia, eu estudava e trabalhava com tecnologia”.
Você pertence a um povo milenar, de cultura diversa e singular, muito diferente da nossa, e que a despeito das contradições econômicas e sociais, quase todos falam o inglês e são muito bons em tecnologias, disse-lhe. “Vocês não são tão disciplinados. Nós estudamos com seriedade e determinação o inglês e tecnologia. Lá, nós aproveitamos o nosso tempo disponível. Não bebemos bebida alcoólica, não temos tantas festas, dormimos cedo e fazemos ioga antes de dormir. Vocês saem muito e bebem demais. Já, chegaremos à lua”.
Ponderei algumas coisas que foram ditas, mas, obviamente, falei-lhe das diferenças dos processos históricos nos dois países, da relativização das culturas, etc e tal e a conversa se estendeu. Pois é, eles, os indianos chegaram à lua. Na quarta, dia 23, a notícia correu o mundo: “Módulo lunar do país asiático pousou no polo sul lunar. Os indianos querem estudar a presença de água na lua, que foi detectada durante a 1ª viagem espacial da missão chamada Chandrayaan-3, em 2008”.
Para o governo indiano, a tarefa agora é descobrir se toda água é congelada e a quantidade existente com baixo custo, como a vitoriosa expedição de quarta, com um investimento de pouco mais de US$ 80 milhões. Não seria melhor investir todo esse dinheiro em tecnologia e transposições de águas por aqui? Será que os (des) humanos querem acabar a terrinha mesmo?! Por aqui, os fluxos migratórios de populações de países pobres, rumo aos países ricos só aumenta. Parece que vai ser melhor se refugiar ou morar mesmo na Lua.
No mesmo dia do sucesso da expedição indiana, Ron DeSantis, o empresário e governador da Flórida, em campanha pela indicação do Partido Republicano à Casa Branca, em uma entrevista de rádio, declarou: “Se você está no Brasil, você não tem o direito de vir para este país”. A xenofobia não acontece apenas na terra yankee. Na Terra Brasilis, a xenofobia só se acentua em cada eleição. Após as eleições de 1989, a onda xenofóbica aos nordestinos disparou entre paulistas e gaúchos. Recentemente, Vittorio Medioli, prefeito de Betim defendeu o separatismo de estados da federação, em suas palavras: “Dar o Lula o que é de Lula e Bolsonaro o que é de Bolsonaro”.
E, por falar em Bolsonaro e no escândalo das joias, por que diante de tantos depoimentos, documentos e evidências, a grande mídia, em particular a TV Globo, não expõe em seu horário nobre da noite, as torneiras abertas do “joiaoduto”? A ciência clareia a lua, aqui a coisa só escurece.