O Hospital de Messejana, fundado em 1933 e que integra a rede de hospitais da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), acolhendo pacientes dos 184 municípios cearenses e de outras regiões do Brasil, consolidou-se como unidade de referência ao alcançar nesta semana a marca de 500 transplantes cardíacos, ficando atrás apenas do Instituto do Coração, localizado em São Paulo, com mais de mil transplantes. Antes disso, em junho de 2011, o Hospital de Messejana foi a primeira unidade do Norte e Nordeste a realizar transplante pulmonar.
O Hospital é voltado para assistência de alta complexidade, ensino, pesquisa e inovação, sendo especializado no diagnóstico e no tratamento de doenças cardíacas e pulmonares. O HM atende tanto pela Emergência quanto nos 25 ambulatórios do Serviço de Pacientes Externos.
“O bonito é que ele [pingente] termina onde começa a minha cicatriz, que é a cicatriz que eu tenho muito orgulho, da minha nova vida. O pingente representa meu coração novo, só que fora do peito“, conta a professora Ester Emerick Cheron, 37 anos, que carrega no peito um colar cujo pingente é de coração. Segundo ela, a inspiração surgiu ao ver uma enfermeira do Hospital usando um colar semelhante.
Natural de Alvorada do Oeste, em Rondônia, a professora passou por um transplante cardíaco em dezembro de 2022 na unidade, em Fortaleza.
Lá, ela, que foi diagnosticada aos 10 anos de idade com miocardiopatia hipertrófica, a mais comum doença cardíaca de origem genética, teve suporta a um atendimento multidisciplinar, com 33 profissionais, entre cirurgiões, cardiologistas, anestesistas, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas e nutricionistas. Profissionais que se dedicam diuturnamente na reabilitação dos pacientes.
“Os meus [dois] filhos nunca me viram saudável. Eu não podia acompanhá-los nos jogos de futebol nem passear com eles na rua, porque eu me cansava. Era uma rotina de uma pessoa doente que eles cresceram vendo. Agora não, por graça de Deus e com esse coração, a gente vai fazer um planejamento diferente, que é meu maior sonho“, projeta.
Viagem até o novo coração
Em 2017, a doença de Ester evoluiu para insuficiência cardíaca. Foi quando a professora precisou viajar até o estado de São Paulo para colocar um Cardioversor Desfibrilador Implantável (CDI), porque o dispositivo, que detecta arritmias graves e as trata por meio de estímulos elétricos, ainda não estava disponível na rede pública de saúde em Rondônia.
“[Em 2020] A bateria do meu CDI acabou, e eu fiz a troca, em Rondônia, no fim desse ano. De lá até 2022, as coisas não foram melhorando, mesmo com essa nova tentativa. O médico que estava me acompanhando já tinha avisado que, provavelmente em dois anos, eu precisaria entrar no transplante”, conta.
O ano passado foi marcado por momentos difíceis para ela, com internações ao longo dos meses, num descompasso entre o estado de saúde e o arrastar dos dias. A equipe médica iniciou a busca para encontrar um estado com a menor fila de transplante. “[O médico disse que] o lugar é o Ceará. Aí, nós viemos, meu marido e eu, sem conhecer ninguém. Deixamos a família lá. Só as malas, sem saber quando iremos voltar“, lembra.
No Hospital de Messejana, Ester foi encaminhada para a consulta com o médico cardiologista e coordenador da Unidade de Transplante e Insuficiência Cardíaca do HM, João David de Souza Neto. Em outubro de 2022, foi internada para a cirurgia de transplante. Nesse período, Ester precisou usar durante 14 dias a Oxigenação por Membrana Extracorpórea (Ecmo), que funciona como coração artificial e pulmão artificial.
“Foram os piores dias para mim. Primeiro, porque eu fiquei mais da metade deles consciente. Estava na UTI, em Ecmo, sem poder mexer, e vendo tudo acontecer. Eu tinha consciências que sem um coração novo eu não resistiria”, lembra.
No processo, três possibilidade de coração apareceram, sendo que duas famílias negaram a doação do órgão e um terceiro coração não foi compatível. Apesar disso, Ester continuava recebendo afeto para seguir na espera. “Nesses dias eu fiz aniversário, mas já estava emocionalmente destruída, chorando muito. A equipe fez bolo de aniversário para mim, deixaram meus filhos entrarem e meu marido ficar mais tempo comigo, que foi meu grande apoio e não me deixou desistir. Eu pedia para ir embora, morrer em casa, e o médico dizia que meu coração ia chegar. Toda a equipe tentava de tudo para me animar. Até que chegou o dia que meu coração apareceu”, conta Ester.
A professora recebeu alta no início de fevereiro e está em acompanhamento na Unidade de Transplante e Insuficiência Cardíaca do HM. Por isso, a volta para Alvorada do Oeste, em Rondônia, vai demorar um pouco, mas ela já considera o Ceará, a Terra da Luz, como lar também. “Eu achava que Deus tinha me trazido para eu morrer aqui, mas não foi. Ele me trouxe para me salvar aqui. Sou muito grata à família que teve a atitude de doar o órgão”. As informações são do governo do Ceará.