Pino Nucera, nascido na Reggio Calabria, Sul da Itália, já girou o mundo, aproveitando cada minuto de suas andanças. Sua paixão pelo mar o remeteu, desde a adolescência, à pesca submarina. Após completar o serviço militar como paraquedista, voltou-se para a prática de mergulho, onde a sua carreira profissional o conduziu a ser bombeiro do Corpo de Bombeiros da Itália. Foi exatamente aqui que o jornalista acendeu a chama para, à luz de uma amizade e sadia curiosidade fazer perguntas sobre “atendimentos”, além de incêndios, descobrindo, no decorrer dos dias de convivência, como nosso hóspede, juntamente com a sua mulher, Veronica Francu, uma romena que o destino articulou o encontro dos dois.
A combinação de habilidades e experiência moldou sua história, ao apaixonar-se por emergências superficiais e subaquáticas, dedicando à vida, à segurança e ao resgate. Alguém já disse que bombeiros são os que chega no local de onde todos estão saindo e são os últimos a sair. Pino foi um dos mergulhadores que vistoriou a condição do casco do navio de Cruzeiro, o Costa Concordia, aquele do Capitão, sendo o primeiro a abandonar nave. Uma das histórias, entre tantas que marcaram a vida desse profissional, aconteceu em agosto do ano passado, em Lampedusa, uma das ilhas do Mar Mediterrâneo.
“Na trágica noite de sábado, 3 de agosto, um pequeno barco vindo de Sfax, na Tunísia, tentou chegar a Lampedusa, batendo nas rochas e afundando. Os migrantes a bordo, exaustos física e psicologicamente, conseguiram chegar a uma rocha onde permaneceram presos. Eram 36 e, apesar da situação desesperadora, durante dois dias os barcos patrulha da Guarda Costeira não conseguiram aproximar-se devido às condições meteorológicas e marítimas adversas. As fortes rajadas de vento, que atingiram os 30 nós, impossibilitaram a intervenção de um helicóptero para retirar as pessoas do topo da falésia com cerca de 140 metros de altura. Apesar das condições meteorológicas instáveis, no domingo de manhã conseguimos chegar à ilha em pouco menos de duas horas de voo, enfrentando algumas dificuldades. A operação foi uma mistura de desafios emocionais e operacionais. Refletir sobre o que estas pessoas enfrentam ao tentar chegar à Europa é louvável, mas, ao mesmo tempo, desconcertante. Eles arriscam suas vidas atravessando o deserto, contando com a ‘ajuda’ de traficantes que lhes prometem viagens seguras para uma nova vida. Após passarem por campos de tortura que parecem campos de concentração nazis nas costas da Líbia ou da Tunísia, tentando essa travessia de mar em barcos nos quais nenhum de nós sequer colocaria o pé…”.
Poucas dessas histórias chegam ao conhecimento da mídia por conta da contumácia dos episódios que envolvem muitos mortos anônimos que o mar os sepulta. Mesmo sendo fatos ocorridos a milhares de quilômetros dos nosso interesses jornalísticos, conviver com Pino Nucera e Veronica Francu, ao longo de 15 dias, foi uma forma de viver os feitos e as emoções desse profissional cuja classe sempre foi vista com admiração, carinho e respeito.