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24 de abril de 2025

Grupo de biólogos cita “prejuízos incalculáveis” em carta contra desmatamento em Fortaleza

Documento contrário ao uso da derrubada da área verde para a realização do Fortal afirma que é necessário o "equilíbrio entre o progresso humano e a preservação ambiental".
Área delimitada para a realização do Fortal 2024. Foto: Divulgação/Fortal

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Um grupo de 88 biólogos e biólogas cearenses, incluindo profissionais e pesquisadores da graduação em Biologia e da pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará (UFC), apresentou, nesta quinta-feira (16), um abaixo-assinado contra o desmatamento previsto na área verde, de aproximadamente 20 hectares, para a realização do Novo Fortal. Segundo o documento divulgado, o local possui “poucos fragmentos de Mata Atlântica restantes” em Fortaleza e que existem outros espaços mais viáveis para se fazer a intervenção.

Entre os profissionais que assinam o documento, está o vereador Gabriel Aguiar (Psol).

“Destacamos que nossa opinião, enquanto biólogos e biólogas, profissionais dedicados à proteção e conservação da natureza, não é um empecilho ao desenvolvimento, mas sim uma voz em defesa do equilíbrio entre o progresso humano e a preservação ambiental. Em tempos em que as mudanças climáticas são claramente um desafio à nossa sobrevivência enquanto espécie, a ciência deve ser voz ativa e norte para tomada de decisões que tenham impacto direto para a nossa e para futuras gerações”, diz a carta assinada pelo grupo.  

Intitulada “Carta Aberta à Sociedade: Pela Preservação das Áreas Verdes em Fortaleza, Ceará!”, o abaixo-assinado destaca a importância da preservação da área verde para a biodiversidade local e para a qualidade de vida urbana, além de a Mata Atlântica ser protegida pela Lei n.º 11.428/2006. No documento, também é explicada a função que a área desempenha, desde a regulação do microclima urbano, mitigando os efeitos das ilhas de calor, até à contribuição para uma melhor qualidade do ar.

Outra funcionalidade é a atuação da área verde como filtro natural que auxilia a infiltração de água no solo e na recarga de aquíferos, contribuindo para a segurança hídrica das cidades. 

“Além de sua importância ecológica, as áreas verdes em zonas urbanas desempenham um papel fundamental na prestação de diversos serviços ecossistêmicos essenciais para a sociedade, que em caso de interrompimento, certamente, demandaria grande aporte econômico para substituí-los, fora outros prejuízos incalculáveis”, afirmam os biólogos, no documento. 

Os pesquisadores dizem, ainda, que existem alternativas locacionais para realização do evento, assim como para outros projetos imobiliários, e que não seria necessário demandar a derrubada de áreas verdes. O documento critica a atuação da empresa responsável, a Fraport, pela destruição da área próxima ao Aeroporto Internacional de Fortaleza. Segundo o grupo, a decisão contradiz aos valores de preservação ambiental que a empresa anuncia aos seus acionistas e clientes.  

O abaixo-assinado encerra com a convocação da sociedade e de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), os organizadores do Fortal, os artistas envolvidos a serem contrários à derrubada da área verde. 

CONTEXTO

O uso da área verde, localizada na Avenida senador Carlos Jereissati (do Aeroporto), ao lado do Aeroporto Internacional Pinto Martins, no bairro Serrinha, para a realização do Fortal, que deve ocorrer entre os dias 18 e 21 de julho, foi alvo de críticas, principalmente do vereador Gabriel Aguiar (Psol), que afirma ser uma área protegida por Lei Federal.

Na quarta-feira (15), o Ibama embargou as obras de desmatamento na área, devido à derrubada de árvores adultas. Os fiscais determinaram a imediata paralisação dos trabalhos, além de aplicar multa à empresa responsável. A organização do evento negou que a área seja de proteção ambiental, enquanto a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) reconhece que se trata de um local com vegetação nativa de Mata Atlântica. Por meio de nota, a organização do evento afirmou ainda que recebeu autorização dos órgãos ambientais.

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