O Governo do Ceará vai lançar um programa social para gerar renda para a população do semiárido. O secretário estadual do Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho (PDT), falou em entrevista exclusiva ao OPINIÃO CE sobre a ação. Segundo ele, tal política vai criar um cardápio de oito oportunidades produtivas para a região do semiárido cearense, visando financiar projetos na região. Para o indivíduo participar da ação, ele precisará ter pelo menos duas das oito opções consorciadas.
Dentre as oportunidades, como explicou o titular da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), destaca-se a produção de biomassa; a geração de energia elétrica a partir do sol, com energia elétrica; o cultivo de mirtilo; a ovinocaprinocultura de corte; a caprinocultura leiteira; e a avicultura alternativa, com produção de galinhas caipiras e ovos caipiras. As outras duas opções não foram citadas pelo secretário.
Conforme Salmito, o objetivo da ação é de fazer no mínimo dois salários mínimos de renda em lucro líquido por mês para o produtor que participe do programa, “para ser muito mais atrativo que outros programas sociais e ser sustentável do ponto de vista econômico e social”. De acordo com ele, tal programa está sendo construído e deverá ser lançado ainda neste ano, mas sem previsão de data. O secretário comentou sobre o assunto em entrevista que pode ser conferida no nosso canal do YouTube:
“ALICERCE” PARA OPORTUNIDADES PRODUTIVAS NO SEMIÁRIDO
Salmito, durante a conversa, destaca haver razões para o setor industrial não se instalar no semiárido. Conforme ele, a ausência de mercado e de matéria-prima são os principais fatores que fazem com que as empresas não se situem em cidades do sertão cearense. Neste ponto, o titular da SDE cita que a alternativa é “produzir a partir das nossas vocações”. Como exemplo, ele cita a produção de biomassa a partir de espécies nativas de plantas da caatinga. “O sabiá [a planta, não o pássaro] e a jurema-preta, tecnicamente falando, são melhores e mais calóricos para produzir biomassa e vender para forno de cimenteira, para a indústria de cimento. Inclusive para vender para a Europa, que não tem petróleo ou gás natural”.
“Com essas espécies nativas, faz-se um processo, um licenciamento de manejo, e você vai fazer a poda. Não vai cortar ou desmatar, até porque são plantas nativas, permanentes. Elas crescem em um determinado período, alguns anos, e com essa poda você vende para a indústria”.
Tal produção de biomassa, segundo Salmito, poderia gerar um efeito que traria a instalação de indústrias para o Ceará. “Essa indústria diz: ‘secretário, com esse programa, o Governo organizando essa cadeia produtiva, eu compro e abro uma indústria com pelo menos três fábricas em cada região dos sertões do Ceará’”, citou. Na hipótese, o secretário destacou que a matéria-prima do sabiá e da jurema-preta seria melhor para pegar fogo, já que é uma espécie nativa da caatinga. “A indústria venderia para a Europa por um preço mais barato”, acrescentou, destacando que haveria mais chances de se instalarem no Estado.
Para a geração de energia elétrica a partir do sol, utilizando a energia solar, Salmito destaca que tal iniciativa seria, inclusive, financiada pelo Banco do Nordeste (BNB), com a garantia de placas fotovoltaicas, que pagariam o financiamento com a receita proveniente da venda de energia. Sobre a produção de mirtilo – conhecida nos EUA como “blueberry” -, ele afirma que é uma cultura de “altíssimo valor agregado”, no qual uma pessoa conseguiria uma receita de R$ 42 mil já na terceira colheita. A produção de mirtilo, como ressaltou o secretário, pode ser financiada pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por meio do programa, seria necessário possuir um terreno de até 0,1 hectare (ha) – ou 1.000 m². O financiamento seria no valor de R$ 30 mil, com juro de 0,5% ao ano. A quantia, entretanto, pode ser abatida em até 40%, de acordo com Salmito.
“O marido e a esposa fazem um investimento de R$ 30 mil, cada um R$ 15 mil. Com oito meses, tem a primeira colheita, já com uma receita de R$ 10,5 mil. A segunda, seis meses depois, receita de R$ 21 mil. E a terceira colheita, seis meses depois, com receita de R$ 42 mil. Na terceira, em aproximadamente dois a três anos, eles já pagaram o financiamento e estão tendo receita produzindo mirtilo”.
Outro ponto que teve destaque pelo secretário foi a ovinocaprinocultura de corte, técnica orientada para a produção de carne e lã. “Outra vocação que precisamos organizar, inclusive para a indústria”. Neste caso, ele cita que o Oriente Médio seria um grande consumidor, com alta capacidade de exportação para os países que compõem a região. “Os Emirados Árabes Unidos [EAU] compram e pagam bem. Podemos atrair uma planta industrial desde que a cadeia produtiva esteja organizada para vender esse ovino e caprino e exportar”, completou.