O Governo do Ceará solicitou a suspensão imediata da importação de camarão ao Brasil. O secretário estadual da Pesca e Aquicultura, Oriel Nunes Filho (PDT), divulgou em um programa local nesta segunda-feira (3) que espécies do animal vindos do Equador e Peru estariam sob risco de estarem acometidos com doenças que poderiam trazer impactos para a carcinicultura – fazendas de camarão – brasileira. A Universidade Federal do Ceará (UFC) encaminhou um estudo ainda em março ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e ao Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), solicitando a suspensão da importação, mas até o momento nada foi feito.
Segundo o secretário, o caso já foi apresentado em pelo menos duas ocasiões ao ministro Carlos Fávaro (PSD), do Mapa. Conforme o titular da pasta cearense, a produção de camarão no Brasil está em cerca de 98% no Nordeste. Como explicou Oriel, a principal preocupação é com os micro e pequenos produtores.
“O grande, como eu costumo dizer, é afetado, mas consegue se recuperar. O pequeno não consegue. A luta que estamos travando é para haver fiscalização, que seja barrado não por medida protecionista como muita gente acha”, disse. “Não somos contra essa importação, somos contra e vamos lutar sempre para proteger o nosso produtor, para não trazer doenças para cá”, completou.
Caso não haja a suspensão, de acordo com Oriel, e as doenças cheguem à produção de camarão, seria necessário cerca de quatro a cinco anos para que a espécie se adaptasse a ela, e, enfim, o produtor voltasse a sua produção normal. “Quem trabalha para comer no dia a dia, em quatro a cinco anos, já vai ter mudado de ramo ou morrido de fome”.
Em Brasília, o secretário procurou o deputado federal e líder do Governo Lula, José Guimarães (PT), para que a articulação com o Executivo Federal fosse acelerada. Além dele, o também deputado federal Domingos Neto (PSD) – correligionário de Carlos Fávaro – participou do encontro. “O governador Elmano [de Freitas] está dando toda a condição e batendo na tecla para que a gente corra atrás desse problema, para que não ocorra exatamente isso, quando veio a mancha branca, e dizimou o camarão na maioria das fazendas”.
MAPA JÁ BARROU IMPORTAÇÃO DE TILÁPIA
Ainda segundo Oriel, o Mapa chegou a barrar a importação de tilápia, produzida em sua maioria por estados do Sudeste e Sul, por apenas uma doença. “Só queremos que faça da mesma maneira que fez na criação de tilápia”. Conforme o secretário, a pesquisa realizada pela UFC, por meio do professor e coordenador do curso de Engenharia de Pesca, Hiran Costa, apresenta cinco motivos para que tal importação de camarões seja barrada.
Costa, aliás, destacou que mais de 85% da produção de tilápia está nos estados do Sul e Sudeste. Conforme ele, rapidamente o Mapa proibiu a importação da espécie. O principal mercado da carcinicultura está nas capitais nordestinas, além do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Brasília. “Eles rapidamente conseguiram barrar a importação de tilápia, porém, como interessa para eles importarem camarão, eles têm feito um lobby para postergar a análise por parte do Mapa do parecer que foi encaminhado”.
“Estive reunido nesta semana com o governador, pedi a ele para nos ajudar, aos deputados federais, aos senadores, para que se unam e façam força para que, da mesma forma como o Ministério agiu com a tilápia, ajam também pedindo a suspensão do camarão”, disse Oriel.
Oriel afirmou que a suspensão, por parte do Mapa, já deveria ter ocorrido. “Eu, no lugar do ministro, se esse relatório chegasse em um dia, no outro já estava suspenso”. Com a suspensão, o Mapa teria que mandar uma equipe para os países aos quais a importação foi suspensa. “Teriam que mandar uma vistoria para que se possa provar que podem exportar novamente para a gente”.