Em mais uma ofensiva tarifária internacional, nesta última quinta-feira (13), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou novas tarifas de reciprocidade contra qualquer país que imponha impostos contra as importações do EUA. A ameaça foi direcionada tanto a aliados como a inimigos do país. Conforme a Casa Branca, a medida vai fortalecer a segurança econômica e nacional estadunidense. Trump fez ainda ameaças ao Brics, grupo do qual o Brasil faz parte, ao lado de outras potências econômicas globais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), defendeu nesta quinta-feira (13) cautela diante das medidas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos. Em entrevista, Haddad afirmou que o Brasil não deve temer as medidas do governo norte-americano, pois a balança comercial entre os dois países é superavitária para os Estados Unidos, nos setores de bens e serviços.
“A balança é superavitária para os Estados Unidos, considerados bens e serviços. No caso de bens, ela é equilibrada, praticamente equilibrada. Não há nenhuma razão para nós temermos. Não há um parceiro que está importando muito do Brasil e exportando pouco, é ao contrário. Vamos com cautela avaliar o conjunto das medidas que podem ser anunciadas, enquanto isso a área econômica está fazendo um balanço das nossas relações comerciais para que a reciprocidade seja um princípio observado pelos dois países”, disse.
O ministro destacou ainda que o governo brasileiro não irá se manifestar “a qualquer sinalização”, e irá aguardar para ver o “que é concreto, efetivo” e avaliar “como vai terminar essa história”.
BRASIL NÃO É UM PROBLEMA
Já segundo o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), na noite desta quinta-feira (13), o Brasil não representa um “problema comercial” para os Estados Unidos.
“É natural que o novo governo americano queira avaliar o seu comércio exterior, estudar, avaliar a questão do comércio exterior. O Brasil não é problema comercial para os Estados Unidos. A balança comercial nossa de bens é equilibrada. Nós exportamos US$ 40 bilhões e importamos US$ 40 bilhões”, disse Alckmin em coletiva.
“Quando nós incluímos os serviços, os Estados Unidos tem um superávit de US$ 7,4 bilhões. É o sétimo maior superávit da balança comercial americana. Então nós não somos problema comercial”, acrescentou.
Para o vice-presidente, dos dez produtos mais exportados pelo Brasil aos Estados Unidos, apenas quatro não são taxados pela alfândega estadunidense, nos demais são impostas tarifas. Já nos dez produtos mais importados pelo Brasil vindos dos EUA, oito entram totalmente livres de tarifas.
“O caminho do comércio exterior é ganha-ganha. É ter reciprocidade, não é alíquota igual. Reciprocidade é você vender mais onde é mais competitivo, onde você é menos competitivo, você compra. Produtos que você não tem, você adquire. Essa é a regra e é nesse princípio que nós vamos trabalhar”, disse.
TARIFAS
As tarifas podem começar a ser impostas em semanas, enquanto a equipe comercial e econômica do governo americano estuda tarifas bilaterais e relações comerciais, informou autoridade da Casa Branca Howard Lutnick, escolhido por Trump para secretário do Comércio, disse que o governo vai analisar país a país. Segundo Lutnick, esses estudos serão concluídos até o dia 1º de abril.
Trump afirmou também que pode ocorrer uma alta no curto prazo, como resultado das medidas. Durante campanha eleitoral, a promessa do empresário era reduzir os preços ao consumidor.
BALANÇA ENTRE OS DOIS PAÍSES
Os dez principais produtos brasileiros exportados para os EUA são: óleos brutos (sem taxação), produtos semimanufaturados de ferro ou aço (taxa de 7,2%), café não torrado (9%), pastas químicas de madeira (3,6%), ferro fundido (3,6%), aviões (sem taxa), gasolinas (sem taxa), aviões a turbojato (sem taxa), carnes desossadas (10,8%), ligas de aço (7,2%).
Já os dez principais produtos dos EUA importados pelo Brasil são parte de turborreatores (sem taxa), turborreatores de empuxo (sem taxa), gás natural liquefeito (sem taxa), óleos brutos de petróleo (sem taxa), óleo diesel (sem taxa), naftas (sem taxa), hulha betuminosa (sem taxa), copolímeros de etileno (20% de taxa), óleos lubrificantes (sem taxa), polietilenos (20%).
ETANOL
Conforme o documento apresentado por Trump, “a tarifa dos EUA em etanol é de meros 2,5%. Já o Brasil cobra dos EUA tarifas de exportação de 18%. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões ao Brasil”. Geraldo Alckmin defendeu o etanol brasileiro e pontuou que a resolução da questão comercial será com base no diálogo e entendimento entre os países.
“No caso do etanol, primeiro é importante destacar que o etanol do Brasil, ele é de cana-de-açúcar. Ele descarboniza mais, ele tem um terço a menos de pegada de carbono”, ressaltou
O vice-presidente complementou que um dos caminhos de solução poderá ser a adoção de cotas para os produtos brasileiros, assim como ocorreu com o aço, em 2018, quando os EUA também levantaram barreiras comerciais contra o produto. “No caso do aço, lá atrás, se caminhou para a cota, chamada hard cota, porque acima de um limite não pode entrar. Esse pode ser um dos caminhos, vamos aprofundar todos esses temas”.
“O comércio exterior é um caminho de diálogo, um caminho de entendimento, um caminho de ganha ganha, de buscar alternativas. É isso que vai ser feito”, acrescentou.
Com Agência Brasil