Em 8 anos, FHC teve 4 presidentes da estatal. Lula teve 2. Dilma, em cerca de 6 anos, mudou duas vezes. Temer teve dois em 2,5 anos. Bolsonaro, de 2019 para cá, teve 4 alterações, contando com o atual, interino
Priscila Baima
priscila.baima@opiniaoce.com.br
Desde o início do seu governo até agora, ano de eleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) trocou a presidência da Petrobras quatro vezes, considerando a atual, interina. A instabilidade em comandar a Petrobras não passa por esse cenário há, pelo menos, aproximadamente 30 anos.
Especialistas ouvidos pelo OPINIÃO CE entendem as sucessivas trocas como “manobra eleitoreira” de Bolsonaro. Os três ex-presidentes da Petrobras acompanharam a progressiva elevação do preço dos combustíveis, que atualmente é baseada pelo dólar.
Pré-candidato à reeleição, Bolsonaro cobrou de todos que os preços fossem mantidos para não prejudicar ainda mais o preço para o consumidor final, mas não foi o que aconteceu. O motivo e raiz do problema é que a Petrobras está submetida ao critério de paridade internacional, política adotada pelo governo do ex-presidente Michel Temer em 2016 que faz o preço dos combustíveis variar de acordo com a cotação do barril de petróleo no mercado internacional e das oscilações do dólar.
No governo de FHC, por exemplo, a estatal trocou de presidente quatro vezes em oito anos de governo: Joel Mendes Rennó (1995 até 1999), José Coutinho Barbosa (1999-2001), Henri Philippe Reichstul (2001 até 2003) e Francisco Gros (2003 até 2005). No governo Lula (PT), também de oito anos, a Petrobras só trocou de presidente duas vezes: José Eduardo Dutra (2005 até 2010) e Sergio Gabrielli, que ficou até o final do seu governo e no começo do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
A ex-chefe do Executivo nacional, em cerca de seis anos de governo, mudou a Presidência da estatal duas vezes – além de Gabrielli, Graça Foster e Aldemir Bendine. No governo de Michel Temer (MDB), de dois anos e meio, foram dois: Pedro Parente e Ivan Monteiro. Para o professor de economia e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Fábio Sobral, é possível distinguir a Petrobras em três grandes períodos. Nos anos 90, segundo Sobral, tinha um impacto na economia brasileira como a maior empresa.
“No governo FHC, por exemplo, a Petrobras entra no mercado de capital aberto, tendo um impacto nas bolsas de valores. Já no governo Lula, com a descoberta do pré-sal, a estatal passa a ter um impacto no desenvolvimento econômico, se tornando a principal impulsionadora da indústria naval, como no Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Além disso, a Petrobras impulsionou o surgindo de indústria naval em Pernambuco em larga escala. Tudo isso promoveu uma política de geração de emprego”, elucida o docente.
Em relação à administração de preços da Petrobras, o direcionamento era bastante diferente se comparado com as últimas gestões, sobretudo nos governos petistas. É como avalia Clayton Mendonça, doutor em Ciência Política pelo Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC).
“A partir do governo Lula, a Petrobras começou a incluir no seu rol de preocupações não apenas a questão do lucro e das operações da empresa, que acontece por meio da venda de petróleo, do seu refino, dentro outros, mas também que a estatal fosse parte de um esforço de desenvolvimento nacional com políticas de compra preferencialmente de insumos nacionais”.
Mendonça acrescenta ainda que a Petrobras consegue produzir e refinar o petróleo no Brasil, então seria mais do que suficiente para o abastecimento interno de forma que o preço praticado não fosse exatamente igual ao preço internacional.
“Essa política foi alterada a partir do governo Temer, depois do impeachment da presidente Dilma. O Bolsonaro reclama, mas ele teria o poder, se quisesse, de alterar essa política e ele não altera, disfarçando essas trocas consecutivas. Se comparado aos outros presidentes isso não existia. A troca de presidentes da estatal era exceção. O Bolsonaro, em menos de quatro anos de governo, já trocou muito mais de presidências da Petrobras do que durante os dois governos do Lula e da Dilma, por exemplo.”