Uma situação delicada na Praia de Iracema, em Fortaleza, ganha um novo capítulo. Uma galeria pluvial na Praia dos Crush vem gerando desde outubro uma crise na região em decorrência de um esgotamento irregular feito no local, que está jorrando água contaminada no oceano. O prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), postou em suas redes sociais, na tarde desta sexta-feira, (3), imagens de vistoria feita pelo serviço de inspeção da Prefeitura apontando ligações residenciais irregulares na rede de esgoto da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), indicando a própria instituição como autora destas irregularidades.
No vídeo em suas redes sociais, Sarto compartilhou imagens da equipe da Prefeitura onde foram identificadas ligações clandestinas e vazamentos de esgotos despejado irregularmente na rede de drenagem da orla da Capital. Ele afirma que os “responsáveis serão notificados, com todo o rigor”, inclusive, o chefe do Executivo aponta um culpado. “Compartilho imagens feitas pelo nosso sistema de inspeção por vídeo das irregularidades em ligações de residenciais e na rede de esgoto da Cagece. É isso mesmo que você está vendo: irregularidades feitas pela Cagece”.
CAGECE REBATE
Também por meio das redes sociais, a Cagece emitiu nota rebatendo as declarações do Prefeito sobre a responsabilidade da água contaminada que jorrou para o mar. “A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informa que são falsas as informações publicadas nesta sexta (03) , nas redes sociais, pelo prefeito de Fortaleza, José Sarto“, diz a companhia no início da nota. “A Cagece esclarece que não há nenhuma irregularidade nos sistemas de esgotamento sanitário da região da Beira-Mar da capital, que estão funcionando normalmente”, acrescenta.
“Companhia informa ainda que não as imagens mostradas no vídeo, publicado no Instagram, não retratam nenhum sistema da Cagece, mas sim da galeria de drenagem de águas pluviais, contendo interligação clandestina da própria população de Fortaleza”
A Cagece ressalta ainda que esses sistemas são operados pela gestão municipal. dessa forma, cabe à Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) e a outros órgãos ambientais a verificação de funcionamento dos mesmos. “Caso haja interesse da Prefeitura de Fortaleza, a Cagece poderá firmar parceria com o órgão para realizar fiscalização, operação e manutenção das galerias pluviais“, conclui.
A Cagece, em nota ao OPINIÃO CE, reiterou que as informações publicadas pelo prefeito José Sarto “são falsas e que não há nenhuma irregularidade nos sistemas de esgotamento sanitário da região da Beira-Mar da Capital, que estão funcionando normalmente”. A companhia informa ainda que as imagens mostradas no vídeo, publicado no Instagram, não retratam nenhum sistema da Cagece, “mas sim uma galeria de drenagem de águas pluviais, contendo interligação clandestina da própria população de Fortaleza”.
A Companhia destacou ainda que esses sistemas são operados pela gestão municipal e a fiscalização é de responsabilidade da Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) e dos outros órgãos ambientais. “Caso haja interesse da Prefeitura de Fortaleza, a Cagece poderá firmar parceria com o órgão para realizar fiscalização, operação e manutenção das galerias pluviais”. O órgão aproveita e alerta a população sobre a importância da correta interligação dos imóveis às redes de esgotamento sanitário, como forma de garantir o transporte adequado do esgoto doméstico, sem causar prejuízos ao meio ambiente e a própria população.
IMPASSE
Em nota enviada ao OPINIÃO CE no último dia 20 de outubro, a Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) e Secretaria Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), ambas ligadas à Prefeitura, informaram que tomariam medidas cabíveis, porém, conforme denúncias recebidas por nossa reportagem, pelo Coletivo Nossa Iracema, a ação por parte de colaboradores da Prefeitura durou apenas dois dias, onde chegaram ainda a fazer uma sucção da água contaminada, uma parte dela, porém não apareceram mais no local.
Em um novo pedido de esclarecimentos, a Seuma informou a reportagem do OPINIÃO CE que neste momento “está em uma ação entre órgãos da gestão municipal”, na Praia de Iracema, na altura do Espigão da João Cordeiro e que “mais informações serão divulgadas, em breve, pela Prefeitura”.
André Comaru, idealizador do Coletivo, falou sobre o posicionamento da Prefeitura de Fortaleza. “Acredito que foi um posicionamento desnecessário, no sentido de, não tá na hora de apontar o dedo. A gente sabe que o problema de saneamento é histórico na cidade de Fortaleza e a Cagece é uma prestadora de serviços do Município. Então, se a Cagece tem culpa, o Município também tem culpa. Basicamente, o que teria que ser feito é apontar soluções e continuar fazendo o trabalho”.
André frisou ainda que espera que as investigações tragam à tona todas as ligações clandestinas, de grandes ou pequenas geradoras, residenciais ou comerciais, para que essas pessoas, empresas, possam ser autuadas e façam o ligamento da rede de esgoto. “É preciso entender se tem vazamento na rede de esgoto também e consertá-los. A gente espera que água que esteja lá agora, no momento, conectando com o oceano, que foi comprovada que é uma água de esgoto, pelo Instituto de Ciências do Mar da UFC, o Labomar, que aquela água seja tirada de lá mais rápido possível e que a região passe por uma limpeza”.
Conforme André, a limpeza se faz emergencial porque a areia está poluída, assim como toda região e frisou que a Cagece prometeu uma tomada de tempo seco e a colocação de bombonas, que vão bombar essa água de volta pro reservatório da Cagece para que ser destinadas ao tratamento e em seguida serem deslocadas para o emissário a 3,5 km do Oceano. Ele ainda alertou para medidas fundamentais para enfrentar a temporada de chuvas que está se aproximando. “Os bueiros da Praia de Iracema precisam ser adaptados para serem bueiros inteligentes, com grades de contenção. É preciso redes de contenção na saída dessas galerias pluviais, além de soluções perenes, consistentes e eficientes para esta problemática, para depois isso ser implementado em todas as saídas de água pluvial em nossa cidade, além de um plano de Educação Ambiental, para que as pessoas sejam agentes da preservação não só do mar como da cidade”.