A economia rege a maioria dos aspectos da sociedade, e no futebol não é diferente. A hegemonia das equipes brasileiras na América do Sul nos últimos anos reflete o abismo econômico que nos separa de países vizinhos. Este é o segundo ano seguido que 3 dos quatro semifinalistas da Copa Libertadores da América são do Brasil. Flamengo, Palmeiras e Athletico vão disputar vagas na final da competição. O único clube do exterior é o Velez Sarsfield, da Argentina. Apesar das inúmeras crises econômicas que o nosso país passou de 10 anos para cá, ainda possuímos uma moeda forte frente às demais economias do sub-continente.
Para ilustrar, enquanto são necessários pouco mais de 5 reais para comprar 1 dólar americano, são mais de 130 pesos argentinos, cerca de 800 pesos chilenos, pouco mais de 40 pesos uruguaios ou mais de 4000 pesos colombianos para realizar a mesma aquisição. Um cenário emblemático pode ser o do goleiro titular do Boca Juniors-ARG, Augustin Rossi. Ele está num impasse com seu clube pela renovação de contrato. No meio dessa novela, o Flamengo já teria entrado como parte interessada na contratação do jogador. O salário de Rossi, segundo seu empresário, é de 1,5 milhão de pesos, algo em torno de 60 mil reais.
Especula-se que o goleiro titular do Flamengo, Santos, receberia cerca 400 mil reais. O reserva e consagrado Diego Alves, teria vencimentos na casa dos 600 mil reais. São realidades bem distintas. Principalmente depois do Plano Real do governo Itamar Franco, a consequente estabilização da nossa economia – mesmo com muitas dificuldades, ainda é melhor que a dos nosso vizinhos – e a recente guinada em busca de profissionalização da gestão das equipes brasileiras, os resultados futebolísticos em termos continentais foram aparecendo com mais frequência, tomando a hegemonia que outrora pertencia aos argentinos.
Mesmo com governos com graves dificuldades econômicas como os de Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro, o Brasil conseguiu manter alguma estabilidade, principalmente em termos de responsabilidade fiscal. Já nos nossos vizinhos, em sua maioria com governos de populismo progressista, vimos o intervencionismo estatal e a inflação corroerem poder de compra do cidadão, espantar investimentos externos e criminalizar a iniciativa privada. Como o futebol não é um mundo à parte, também foi atingido em cheio por isso.
A Argentina, nesse momento, registra a maior inflação dos últimos 20 anos, conseguindo o feito de ter uma taxa inflacionária maior que a da Venezuela, país devastado por uma ditadura perseguidora e por uma política econômica tresloucada. Tendo em vista os cenários que se desenham para os próximos anos na América do Sul, é provável que a demonstração de superioridade das equipes brasileiras siga aparecendo nas temporadas próximas, e que cada vez mais camisas tradicionais como Boca, River e Nacional-URU, fiquem pelo caminho na Libertadores, reféns do reflexo de realidades miseráveis que circundam nossas fronteiras.