Em nota publicada nas redes sociais, o vereador eleito pelo Psol, Gabriel Aguiar, destacou que todos os mais de 100 espelhos d’água (lagoas, lagos e açudes) de Fortaleza estão poluídos. No texto, o parlamentar destaca que os pontos estão contaminados por esgoto, saturados de resíduos sólidos, contaminados por toxinas industriais, infestados de espécies invasoras e com sua mata ciliar devastada e comprometida.
Na publicação, o psolista também destacou ações anteriores de análises químicas dos lagos, lagoas e açudes para avaliar os níveis de poluição, “Iniciamos ano passado um mutirão de visita, análises químicas e físicas e diagnóstico dessas lagoas. Nesse novo mandato vamos dobrar os esforços e trabalhar duro pela recuperação desses preciosos ecossistemas”, completou Aguiar.
O parlamentar, que visitou lagoas como da Messejana e do Pici, ainda pontuou a ausência da gestão pública no cuidado com os pontos de água na cidade. “Infelizmente isso não ocorre e o resultado é o que já sabemos”, destacou. “Todas essas lagoas são Área de Preservação Permanente (APP) pela nossa legislação federal e é responsabilidade do poder público mantê-las limpas, saudáveis e preservadas, bem como cuidar de toda a fauna e flora que compõem a biodiversidade lacustre”, reiterou.
Ao OPINIÃO CE, o vereador eleito afirmou que foram visitados 10 desses espelhos d’água, onde foi utilizado um medidor multiparamétrico mergulhado na água que tem acesso à condutividade, ao grau de oxigênio dissolvido na água e também a outros componentes como o PH.
“Infelizmente, das 10 que visitamos, todas elas estavam com muito pouco oxigênio dissolvido, o que indica eutrofização, ou seja, a poluição, a decomposição de matéria orgânica, em outras palavras, esgoto, e a redução da atividade de fotossíntese de algas. Pouco oxigênio, o que deixou essas lagoas em ambiente extremo. Isso é muito grave, vai pouco a pouco derrubando essa lagoa até ela ir se erodindo. Uma situação realmente muito perigosa”, complementou.
Conforme o último relatório de monitoramento da qualidade da água dos recursos hídricos divulgado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), que remontou em agosto de 2022, com coletas feitas em maio de 2021, nenhuma das lagoas e açudes estava inteiramente própria para banho. Do total de 127 coletas analisados pela empresa Bioética Ambiental, 111 do delas foram consideradas impróprias.
IMPACTO
Parte do protocolo da análise dos espelhos d’água foi conversar com os moradores próximos, e também pescadores, comerciantes, ambulantes e pessoas que estavam em atividade recreativa ou esportiva no entorno, ou até dentro dos pontos de água, para banho, por exemplo, pontuou o parlamentar ao OPINIÃO CE.
“Conversamos com essas pessoas, muitos que conheciam as lagoas há muito tempo, alguns há décadas, falaram de forma unânime o quanto a lagoa foi degradada, o quanto a mata do entorno da lagoa foi derrubada, e o quanto tudo isso piorou a saúde e a qualidade de vida de todos eles, animais que eles costumavam ver, frutos que eles costumavam colher, e um clima que eles costumavam ter, tudo foi modificado por conta da degradação da lagoa, e também serviços ambientais que eles tinham, como usar a água da lagoa para o banho, para lavar roupa, para lavar a casa. Na própria pesca, [os pescadores] já se distanciaram ou pararam por saberem dos riscos da água contaminada”, resssaltou.
Bianca D’ávila, estudante de Publicidade e Propaganda da UFC, relatou ao OPINIÃO CE, a situação atual da Lagoa do Mondubim, bairro onde reside.
“A lagoa é muito suja, tanto fora, nos arredores, como dentro, com uma mata alta e esgoto”, disse a jovem, pontuando a ausência de açoes da gestão municipal. Faz muito, muito tempo desde que vi alguma limpeza lá. A Prefeitura não faz nenhum tipo de manutenção. Ajeitam a Praça próximo das eleições, limpam a lagoa e o restante do tempo, fica ao léu”, disse.
Ela ainda afirma que o espaço acaba não sendo uma área de lazer pelos moradores. “Por conta da sujeira e mau cheiro, as pessoas acabam não frequentando e fica perigoso”, completou. A estudante ainda destacou que há atividades como pesca no espelho d’água.
AÇÕES MITIGATÓRIAS
Em nota ao OPINIÃO CE, a Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente disse que os problemas estão frequentemente associados a ocupações irregulares nas proximidades dos corpos d’água, à falta de rede de esgoto, além de ligações clandestinas e outras fontes difusas de poluição, muitas vezes de difícil identificação.
Segundo a pasta, para monitorar os recursos hídricos de Fortaleza, é realizado o acompanhamento da qualidade da água por meio da análise da balneabilidade e do controle da poluição. O monitoramento é feito por meio de uma rede de pontos previamente definidos, que inclui 31 locais entre lagos, lagoas e açudes, e 17 pontos em rios e riachos.
“São realizadas coletas regulares em locais representativos, cujas amostras são enviadas a um laboratório especializado para análise detalhada de diversos parâmetros físicos, químicos e biológicos. Os parâmetros da legislação ambiental (CONAMA 357/2005) servem como indicadores de poluição e/ou contaminação, relacionados ao excesso de matéria orgânica e ao lançamento inadequado de esgotos e outros efluentes“, disse o órgão, em nota.
A Secretaria é parte do Comitê Integrado da Quadra Chuvosa 2025, o qual coordena e executa ações preventivas e de resposta a emergências durante a quadra chuvosa deste ano. Desde o último dia 6 de janeiro, a nova gestão da Prefeitura de Fortaleza, com atuação de mais de 500 profissionais, iniciou plano de mitigação frente a chegada do período de chuvas, o que inclui a limpeza de lagoas, canais, bueiros e outros espaços que requerem atenção.
A expectativa é que a iniciativa possa contribuir com diminuição dos índices de poluição. Segundo a pasta, trabalhos de limpeza não aconteciam há seis meses na Capital.