Fortaleza está há 11 anos sem sofrer processos de epidemia por dengue, em contramão ao que acontece com outros estados brasileiros. Isso não significa, no entanto, que a população pode deixar de lado os cuidados necessários para evitar a proliferação do mosquito transmissor. Conforme Nélio Morais, coordenador de Vigilância em Saúde de Fortaleza, uma das principais medidas apontadas como medida de prevenção é a Operação Inverno, que atua nos bairros mais vulneráveis da capital cearense identificando focos que possam atrair o mosquito e limitando a força de transmissão.
O coordenador informa que a questão climática, como calor e umidade, potencializa o ciclo de reprodução do mosquito que transmite as arboviroses. Por isso, neste ano, a operação iniciou em dezembro, antes de começar o período com grandes incidências de chuvas, e tem previsão de ir até meados de março. A expectativa é de alcançar de 5 a 10 mil focos possíveis distribuídos em 48 bairros da cidade.
O Sorotipo 3 e 4 são identificados como os casos de dengue mais críticos, que podem apresentar sintomas como manchas vermelhas, dor abdominal, vômito persistente, sangramentos na gengiva, no nariz ou na urina. O Tipo 4 da doença foi responsável pelo elevado número de casos em anos considerados epidêmicos de dengue em Fortaleza, como em 2012, que registrou 39.050 casos da doença e estabeleceu a capital cearense como a líder em quantidade de casos no Brasil, na época.
Outra medida realizada pela Prefeitura é a Operação Quintal Limpo, em que são distribuídos sacos plásticos para recolhimento de dejetos e materiais acumulados nos quintais da residência. A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos também atua recolhendo pneus, que são um dos principais criadouros do mosquito aedes aegypti, transmissor da dengue e demais arboviroses. O coordenador ainda pontua a importância das intervenções educativas, com palestras, formações e passeatas.
“A dengue e as doenças por arbovirose são questões de educação ambiental e doméstica porque 75% dos focos estão, logicamente, dentro das residências. A gente tem que vencer esse problema sensibilizando e trazendo a população para nós”, afirma.
A ação conta, anualmente, com 2,5 milhões de visitas em residências.
CENÁRIO DIFERENTE
Diferente de outras cidades brasileiras, como Minas Gerais, Brasília e Goiás, que vivem surto da doença, Fortaleza está com cenário relativamente controlado. Isso não quer dizer, no entanto, que a população pode relaxar. Nélio Morais alerta sobre o impacto que os festejos como o carnaval, por exemplo, teve na propagação da doença no Brasil e lembra que a situação de Fortaleza deve ser observada nos meses de março até julho, período no qual as condições climáticas se tornam mais favoráveis para o propagação da doença. Nélio ressalta, ainda, a importância de combater as doenças por arbovirose, já que elas podem levar a um número de óbitos elevados, como mostra os dados do Ministério da Saúde, em que foram identificados mais de mil mortes por dengue no Brasil em 2023.
CEARÁ
Dados disponíveis na plataforma IntegraSUS, gerida pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), revelam que foram confirmados 293 casos da doença. Os números foram consultados às 15h49 desta terça-feira (20). Os três municípios que apresentam números mais expressivos são Tianguá, Fortaleza e Brejo Santo. O município de Tianguá tem 217 casos notificados de dengue, com 115 confirmações. Na cidade de Brejo Santo foram confirmados 35 casos de dengue e 7 casos de chikungunya. Já em Fortaleza, foram registrados no sistema 66 casos de arboviroses, sendo 59 casos de dengue e 7 casos de chikungunya.
Entre os anos de 2019 e 2024, foram registrados no sistema 75 mortes por dengue no Ceará. Já por chikungunya foram 62 óbitos entre os mesmos anos, com 69.549 casos confirmados, sendo 49.888 apenas no ano de 2022.
DENGUE
2019
- Casos confirmados: 15.222
- Número de óbitos: 13
2020
- Casos confirmados: 20.887
- Número de óbitos: 12
2021
- Casos confirmados: 32.820
- Número de óbitos: 21
2022
- Casos confirmados: 39.764
- Número de óbitos: 21
2023
- Casos confirmados: 14.138
- Número de óbitos: 8
2024
- Casos confirmados: 293
- Número de óbitos: 0
CHIKUNGUNYA
2019
- Casos confirmados: 15.522
- Número de óbitos: 0
2020
- Casos confirmados: 905
- Número de óbitos: 12
2021
- Casos confirmados: 1.267
- Número de óbitos: 21
2022
- Casos confirmados: 49.888
- Número de óbitos: 21
2023
- Casos confirmados: 1.940
- Número de óbitos: 12
2024
- Casos confirmados: 29
- Número de óbitos: 0
Apesar da quantidade de casos serem crescentes, os números de casos de arboviroses no Ceará permanecem baixos em comparação a outros estados do país. O secretário executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, Antonio Silva Lima Neto, evidencia que a quantidade de casos permanecem baixos pois parte da população já foi imunizada contra os subtipos 1 e 2 da dengue.
PREVENÇÃO
É necessário que existam medidas do poder público aliado à população, eliminando os focos do mosquito. Descartar vasilhas, pneus, garrafas e qualquer recipiente que possa acumular água são algumas das recomendações. A recomendação é evitar caixa de água aberta, calhas entupidas, vasos sanitários em desuso, além de não acumular lixo. Apesar de a maioria da população contribuir na eliminação de focos, existe uma parcela de pessoas que não executam os cuidados necessários e acaba cooperando na proliferação da doença. O coordenador da Vigilância em Saúde em Fortaleza lembra que é uma questão de cidadania realizar a prevenção, pois “um foco compromete 100 casas ao seu redor”.