Considerando período desde o início da pandemia, Capital soma cerca de dez mil óbitos. Uma das razões tem relação com vigilância ostensiva de acompanhamento de dados da Cidade
Giovana Brito
ESPECIAL PARA OPINIÃO CE
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Fortaleza é a capital do Nordeste com mais mortes por covid-19 desde o início da pandemia no Brasil, em março de 2020. Até a tarde desta sexta-feira, 4, foram registrados 10.790 óbitos, de acordo com o IntegraSUS.
Em seguida, Salvador com cerca de 8 mil mortes e Recife com 5.942, segundo as respectivas secretarias de saúde das cidades. Segundo o epidemiologista Luciano Pamplona, o resultado tem relação com o sistema de vigilância de óbitos em Fortaleza.
“O Ceará tem um Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) que não tem em outras cidades. Ele funciona articulado com vigilância, laboratório e assistência. Fazemos autópsias verbais em casos de pessoas que morreram em casa, sem assistência, e tudo isso contribui para detectarmos mais óbitos que os outros locais. Fazemos autópsias minimamente invasivas para tentar confirmar casos. Tudo isso contribui.”
A Capital segue na segunda posição no ranking das cidades mais populosas do Nordeste, com 2,7 milhões de pessoas em 1º de julho de 2021, atrás apenas de Salvador (BA), onde o número de habitantes chega a 2,9 milhões. Na sequência aparecem Recife (PE) com 1.661.017. Os dados são da estimativa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 2021, a Capital teve cerca de 6 mil mortes registradas e em 2020, 4 mil. Fortaleza registrou em dezembro do ano passado 22 mortes por covid. Já este ano foram contabilizados 42 óbitos até o dia 17 de janeiro. “Tivemos maior número de óbitos, mas, proporcionalmente ao número de casos, foi menor. A vacinação estava começando e morreram exatamente mais aqueles que não tinham o esquema vacinal completo. Além disso, precisamos entender que teremos casos graves que, mesmo vacinando, alguns irão evoluir de forma grave e teremos dificuldade de manejo. Ainda não aprendemos tudo sobre a doença e sobre os impactos de longo prazo”, comenta Luciano Pamplona.
No Ceará, os primeiros 17 dias de janeiro registraram 50% a mais de óbitos pela doença em comparação a todo o mês de dezembro de 2021 no Ceará. Atualmente, o número apresenta queda: em fevereiro último, houve 187 óbitos, enquanto no mês de janeiro foram 433 vidas perdidas. A redução no número de óbitos do Ceará ocorre devido ao avanço da vacinação e da contaminação pela variante Ômicron.
“O fato de grande parte da população com duas doses e dessa cepa circulante causar casos menos graves deve contribuir para que não tenhamos novo pico de óbitos nesse momento”, explica. Das mais de 650 mil mortes no Brasil pela covid-19, 26 mil, aproximadamente, estão no Ceará. Os dados desta reportagem são do IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado.
ÓBITOS NO BRASIL
Os números da pandemia e da vacinação reunidos pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), na última quarta-feira, 2, mostram que o Brasil registrou 370 mortes por covid em 24 horas na semana que se encerra neste sábado (5). Com o acumulado, o País chegou a 650 mil mortes pela doença desde o início da pandemia. O infectologista Gerson Salvador explica causas para o número alarmante que o coloca o Brasil como segundo do Mundo com maior total de de óbitos por covid-19.
“O Brasil errou desde o começo da pandemia. Em primeiro lugar, não fazendo a vigilância de portos e aeroportos. No Brasil, ocorreu a partir de uma leva migratória da Itália, sem nenhum controle por parte das autoridades sanitárias. Em segundo lugar, quando não havia ainda a vacina, o Brasil errou em ter a disputa entre o Governo Federal e os governos estaduais. Ao invés do Governo Federal dar a resposta, ele boicotou a pandemia. Em terceiro lugar, errou também ao assumir a defesa dos tratamentos precoces, como ivermectina e cloroquina. Mais um foi a demora em adquirir a vacina. Não me lembro nem quantos e-mails a Pfizer mandou e foram ignorados. Todos esses erros são de responsabilidade do Governo Federal.”
O Brasil encerrou 2021 com 412.880 mortes por covid-19, dobrando o número de óbitos de 2020 que foi de 194.949, segundo o Our in Data. O mês que registrou mais mortes no último ano foi abril, com 82.266 vítimas da doença. “A gente passou pelo momento mais ‘duro’ em relação a mortes no Brasil no começo de 2021. Certamente, se o Brasil tivesse uma política de combate à covid, com liderança do Governo Federal, com melhor gestão de recursos e a vacinação iniciando algumas semanas antes, muitas dessas mortes seriam evitadas”, completa Gerson.
Em dados mais recentes, a média móvel de óbitos pela doença aparece em 512 – menor número desde 28 de janeiro, quando o índice esteve em 474, resultando em queda quando comparado com o cenário atual. Já a média móvel de casos chegou a 51.039, menor número desde 11 de janeiro deste ano. O resultado se dá com o avanço da vacinação. Dezembro foi o mês com menor número de óbitos registrados: 4.375.