Ingrid Campos
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Novidade que passou a valer na sexta-feira (19), a liberação do acesso de passageiros com bicicletas na Linha Sul do metrô de Fortaleza é um avanço na mobilidade intermodal da Cidade. Nos últimos anos, as gestões Municipal e Estadual têm investido tanto em mais quilometragem de linhas cicloviárias como na integração no trânsito.
A iniciativa segue o que foi implantado no VLT de Sobral, que conta com o transporte de bicicletas desde o início de 2020. A intenção é que a liberação seja liberada em breve para outras linhas da Capital.
Para Alexandre Queiroz, professor e membro do Laboratório de Planejamento Urbano e Regional (Lapur) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a novidade é bem-vinda. “É muito interessante que a bicicleta seja valorizada enquanto uma das modalidades de trânsito. […] A interconexão entre os modais é o que todos os grandes especialistas indicam como uma solução.”
A liberação para ciclistas, contudo, tem restrição de horário e de quantidade para que a dinâmica com outros passageiros seja adequada. Por isso, os momentos de pico do Metrofor foram preservados, fazendo com que o acesso de bicicletas ocorra de segunda à sexta-feira, das 9 às 15 horas e das 20 até 23 horas, e aos sábados, a partir das 15 horas. Além disso, por viagem, podem seguir apenas quatro bicicletas.
Os cuidados existem porque a demanda é grande. A Linha Sul da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) tem fluxo nos dias úteis de cerca de 34 mil pessoas. Tem 20 estações que passam por Fortaleza, Maracanaú e Pacatuba.
CONECTAR PARA AVANÇAR
Apesar de achar positiva a ampliação de ações para o uso de bicicletas na cidade, o especialista alerta para a potencialização de políticas de integração. “A bicicleta é utilizada muito para o lazer […] Mas, por outro lado, é preciso dizer que a bicicleta para os trabalhadores tem que ser incorporada com a eficiência dos outros modais, como corredores de ônibus cada vez mais eficientes, com preços acessíveis e integrados ao metrô, e bicicleta entre como um componente, penso eu, dos últimos 4 ou 5 km”, afirma.
Na sua avaliação, é um erro do Poder Público investir no uso de bicicletas por longos trajetos sem adaptar ou estimular a adaptação por outros espaços. “Será que quando o trabalhador chega na empresa tem um lugar para se trocar e tomar um banho? Será que a fadiga do cotidiano permite que ele atravesse vários e vários quilômetros na cidade, mesmo com as ciclofaixas?”
Para o engenheiro civil Felipe Alves, Fortaleza ainda está muito atrasada na questão da intermodalidade. “No caso do metrô, ainda não existem bicicletários nas estações, que seria uma outra opção para quem não precisa levar a bicicleta até o destino, e possibilitaria o metrô ser utilizado por uma quantidade bem maior de pessoas”, argumenta.
“Essa liberação é positiva, mas veio quatro anos após sua promessa, como se fosse algo extremamente complexo de se implantar. Os horários liberados também são muito restritos, o que exclui grande parte dos trabalhadores que trabalham no horário comercial mais comum, e mesmo no sábado exclui até grande parte de quem poderia utilizar para pedalar por lazer ou esporte”, completa.