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18 de maio de 2025

Fome é o cardápio de hoje

Foto: Alan Santos/PR

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Na era de Jair Bolsonaro, a fome fala mais alto do que “Deus, pátria e família” – valores que bovinamente o presidente da República e seguidores costumam repetir. O estudo II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, divulgado nesta semana, indica que 33 milhões de homens, mulheres e crianças convivem com a falta de comida. Essa legião de famintos representa 58,7% da população do País e, claro, não integra o público de privilegiados donos de restaurantes simpatizantes da gestão atual – como as redes Madero e Coco Bambu. Essa realidade precisa ser discutida à saciedade, sempre para o planejamento e a implantação de soluções para desafio tão grave, estando permanentemente nos radares do poder. Como 2022 é ano eleitoral, deve-se esperar que o assunto seja destacado pelas campanhas. E o que se deve desejar, mais ainda, é que debates e atos servidos sejam sérios, honestos e responsáveis.

Confusão
No entanto, a essência da gestão atual passa longe de conceitos técnicos de combate à fome. Na verdade, confundem-se políticas sociais bem elaboradas e bem executadas – necessárias em qualquer lugar do mundo – com a distribuição de restos de comida. É lamentável.

Sobejos
Frase do ministro Paulo Guedes em 2021: “O prato de classe média europeu é relativamente pequeno. E aqui fazemos almoços onde às vezes há uma sobra enorme. Isso vai até o final, que é a refeição da classe média alta. Toda aquela alimentação que não for utilizada durante aquele dia no restaurante, aquilo dá para alimentar pessoas fragilizadas, mendigos, desamparados. É muito melhor do que deixar estragar essa comida toda.”

Vozes na cabeça
Paulo Guedes – a referência econômica de Bolsonaro – já chegou a dizer que quando vai ao supermercado é elogiado e cumprimentado por brasileiros agradecidos pelo que o governo tem feito. Agora, quer que setor congele os preços para ajudar a reeleger Bolsonaro. Tá.
outro planeta

E, na cena em que milhões de brasileiros passam fome, o vereador Pedro França (Cidadania) está propondo que a Prefeitura de Fortaleza crie um polo gastronômico no rico bairro da Aldeota, onde o índice de desenvolvimento humano é de 0,867, considerado “muito alto.” Para tanto, copiou texto de projeto que desde 2020 tramita na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Falta de aviso não foi
O Estado do Ceará tem programas como o Mais Infância e o Mais Nutrição, além do cartão Vale Alimentação, mas ainda há muito o que fazer. Em 2020, o deputado Acrísio Sena (PT), deu um alerta: “Precisamos de mais ações. É preciso que a equipe econômica do governo federal faça um programa que ajude nesse combate à fome e à pobreza, pois só ações estaduais não adiantam.”

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