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19 de abril de 2024

Flor da lama

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Foto: Arquivo Pessoal

É sabido que na lama não nasce flor. Mas existem duas exceções: a Flor de Lótus e Socorro Gaitada! Em comum entre a Flor de Lótus e a Gaitada do Icó, por analogia, está a força que move pessoas a reconstruírem suas vidas e tornarem-se mais fortes, após passarem por situações de grandes adversidades.

Viviane Mosé, escritora, costumava dizer que o “sofrimento alarga a alma para caber mais mundo dentro.” Socorro Gaitada é a Flor de Lótus encarnada e escupida. Negra, pobre, prostituta, alcoolatrá e analfabeta.

A lama era o seu habitat natural. E nem se dava conta que dentro de si, à época, que poderia virar uma flor para vencer todos os seus vícios e a dureza da vida envolta de espinhos. Ela não sabia dos seus erros e equívocos. Também não lembra se era notada por sua suposta e nefasta conduta.

Nascida em Aurora do mestre Paulo Quezado, chegou em Icó ainda jovem, há 43 anos. Ao lado do Teatro da Ribeira dos Icós, quando ainda funcionava um clube de festinhas semanais, ao tentar adentrar no recinto, foi barrada pelo porteiro:

“Volte. Aqui não aceitamos prostitutas.” Não estava escrito em sua face o que ela era ou poderia ser. Mas o veto a fez refletir. Socorro Gaitada, a partir daquele momento, parou de beber, de se prostituir, de criar problemas.
A flor com a força de sua fé, nasceu da lama e fez dela em Icó uma festejada cantora popular, mãe e avó exemplar, líder do AA – Alcoolatrás Anônimos, também com programa musical na rádio Icó-FM, vereadora por alguns dias e, principalmente, uma cidadã que tornou-se exemplo por sua perseverança. Socorro nunca mais quis ser lama, porque na verdade ela tinha nascida para ser Flor. Ela apenas não sabia!

Elba Aquino

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