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17 de fevereiro de 2025

Fernanda Torres rompe com a Sétima Arte a Linha do Equador

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Só o cinema para restituir a esperança de janeiros melhores. No dia 5 de janeiro, três dias antes de completar os dois anos do fatídico 8 de janeiro, a tentativa do golpe de Estado, Fernanda Torres ganhou o prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro 2025, competindo com atrizes consagradas: Kate Winslet, Nicole Kidman, Angelina Jolie, Tilda Swinton e Pamela Anderson. A cisão política parecia refletida em grande parte da população que conhece e sabe da importância das artes para a cultura e a identidade de uma nação. Alguns telejornais mostraram a felicidade eufórica dessa parte da população, vibrando como se fosse uma final de Copa do Mundo. Buzinaço nas cidades, famílias em suas casas e bares lotados torcendo diante da TV por Fernanda. Emocionada, uma senhora negra e de aparência simples, ao ser entrevistada, traduziu a complexidade dessa identidade cultural: “Eu estava torcendo por ela, mas não só por ela, mas porque me sentia representada por ela”. O filme “Ainda Estou Aqui” é um drama tristemente baseado em fatos reais que aconteceram no período de recrudescimento da ditadura civil-militar.  Em 1962, o engenheiro civil Rubens Paiva foi eleito deputado federal pelo PTB.  Por suas críticas ao regime civil-militar e pelo envolvimento com a esquerda, os agentes do Estado invadiram sua casa e o levaram diante da família. Em 1971, nas dependências de um quartel militar, foi assassinado e seu corpo nunca mais foi encontrado. O diretor Walter Salles utilizou, de forma simbólica, a representação da violência e da tortura em uma cena, enfatizando na narrativa as ideias, a vida do homem comum e de sua família e, de certa forma, a dor de todas as mães, os pais e as esposas que perderam seus entes queridos – presos, torturados, desaparecidos e nunca encontrados. Assim como a Sétima Arte pode retratar, de forma sutil, crítica e reflexiva, fatos históricos e biografias, também pode manipular as massas como os nazistas fizeram muito bem por meio do cinema como propaganda. Hitler, em seu livro, Mein Kampf, teceu várias considerações sobre a arte da propaganda e as massas. Considerava que a propaganda deveria ser popular, dirigida às grandes massas que “tinham uma capacidade de recepção muito limitada, uma inteligência modesta e uma memória fraca”. Pois é, por aqui, essas mentes modestas e fracas acreditaram, e muitas ainda acreditem, na não existência da repressão, tortura e morte no período do regime civil-militar na Terra Brasilis. Inclusive, passaram a demonizar as leis de incentivo à cultura com a Lei Rouanet e os artistas. Fernanda, filha de dois atores consagrados, Fernando Torres e Fernanda Montenegro, dedicou, de forma emocionada, o prêmio do Globo de Ouro à mãe. Como forma de agradecimento, a mãe lê carta aberta à filha e em um trecho diz: “Nós atores somos incompreensíveis e vivemos na terceira margem do rio, mas de vez em quando, rompemos a Linha do Equador e chegamos lá – temos o reconhecimento do nosso talento amplo e irrestrito. Parabéns à Fernanda, Selton Melo, Walter Salles, à equipe e todas as atrizes, atores e diretores que vivem à margem do rio. Viva o cinema brasileiro!”

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