Há menos de três meses das Eleições Municipais de 2024, o clima eleitoral começa a esquentar, e as discussões se tornam mais acaloradas. O anúncio do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), de que tiraria férias por seis dias no Exterior, gerou um embate entre opositores e aliados. De um lado, deputados estaduais ligados ao governador Elmano de Freitas (PT) criticam a “ausência” de prefeito durante o período, e falam em ensaio para retirar o nome na tentativa de reeleição por “má avaliação”. Do outro, aliados de Sarto respondem com críticas ao Executivo Estadual, como a situação da violência no Ceará, com as viagens de Elmano em jatos fretados, e a reforma da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) com dispensa de contrato de licitação.
Na linha de sucessão do prefeito, estão o vice-prefeito da Capital, Élcio Batista (PSDB), e o presidente da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), Gardel Rolim (PDT). Com os dois em agenda na Colômbia, onde realizam visita institucional nas cidades de Bogotá e Medellín para analisar experiências de gestão na área de segurança, quem assumiu o Palácio do Bispo foi o procurador-geral do Município, o advogado Fernando Oliveira.
AS CRÍTICAS
O deputado estadual De Assis Diniz (PT), líder do PT e do maior bloco partidário na Alece, foi o primeiro a tecer críticas à decisão de Sarto, afirmando que Fortaleza agora está “sem prefeito”. “Sarto está de férias, talvez já se preparando para ‘tirar o time de campo’”, disse, o que pode ser em referência tanto a uma possível derrota na tentativa de reeleição ou na desistência em concorrer no pleito. “O procurador-geral do Município, Fernando Oliveira, assumiu de forma interina, porque o vice Élcio e o presidente da Câmara, Gardel Rolim, estão na Colômbia”.
“Em meio a mais essa irresponsabilidade, a cidade continua sofrendo com lixo, buracos, infraestrutura e transporte público precários e sem saúde de qualidade. Com certeza, a população não sentirá muita diferença”, completou.
Outro importante nome da política cearense a comentar as férias do prefeito foi o também deputado estadual Romeu Aldigueri (PDT), líder do Governo Elmano na Alece. Filiado ao PDT de Sarto, ele compõe o grupo de nove parlamentares de 12 pedetistas em exercício que pretende deixar o partido, mas não pode por risco de perder o mandato. “Enquanto a sociedade ouve o chamado do governador Elmano para uma luta conjunta e nacional em prol da segurança pública, o prefeito de Fortaleza tira férias e toda a cúpula municipal se afasta”, disse. “Isso é hora de abandonar a população? Ou estariam ensaiando sair da disputa em função da má avaliação?”, acrescentou, questionando os motivos da decisão.
RESPOSTA
Diretamente atacados, Élcio e Gardel responderam às críticas com outras críticas, dessa vez, direcionadas ao Governo Elmano. “Os deputados De Assis e Romeu Aldigueri estão sempre a postos quando é para defender os interesses políticos eleitorais do grupo do PT. Mas quando se trata dos interesses da população, não se vê a mesma disposição”, disse Gardel. Na sequência, o presidente do Legislativo Municipal afirma que os dois não fizeram “uma única crítica ao governador do PT a quem eles servem”.
Élcio, em tom irônico, chamou De Assis e Aldigueri de “diligentes”. Segundo ele, entretanto, os parlamentares deveriam utilizar o “tempo livre” para analisar “os itens do contrato sem licitação da reforma do Plenário da Alece”. Incendiado no dia 20 de junho, o Plenário teve sua reforma anunciada no Diário Oficial do Estado uma semana depois, no dia 27. Duas contratações foram feitas, com a empresa Lumali Engenharia LTDA, que vai executar a obra da reforma, por R$ 18,7 milhões, e com a empresa Visual Sistemas Eletrônicos, que vai ser responsável pelo painel eletrônico, por R$ 4,9 milhões. Somando um investimento de R$ 23,7 milhões, as duas contratações foram feitas com dispensa de licitação, “em razão da necessidade de retomada imediata da realização das atividades legislativas do Plenário 13 de Maio, afetado pelo incêndio no Edifício-sede da Assembleia Legislativa”.
Deputados estaduais aliados de Sarto também entraram no embate. Cláudio Pinho (PDT) afirmou que De Assis e Aldigueri deveriam se preocupar com “as centenas de viagens feitas pelo governador petista Elmano”. O parlamentar destaca que ainda que Elmano teria feito as viagens “com voos em jatos fretados sem agenda justificada”.
“Desde que assumiu, o governador do PT tem mais horas voando do que governando o Ceará. Essa notícia é de julho de 2023, quando o Governo do PT já tinha torrado R$ 10 milhões com aluguel de jatinho”, afirmou em suas redes sociais, destacando uma matéria que aborda o assunto.
Antônio Henrique (PDT), agora deputado e ex-presidente da CMFor, teceu sua crítica no mesmo tom que o seu colega parlamentar. No texto, ele afirma nunca ter visto os deputados governistas postarem nota “preocupados com as incontáveis viagens do governador Elmano com voos em jatos fretados sem agenda justificada”. “Desde que assumiu, Elmano passou mais tempo voando do que governando o Ceará. E o que temos é essa péssima administração do PT em que impera a criminalidade em todo Ceará”, escreveu.
A TRÉPLICA
Na sequência, as respostas dos aliados de Sarto gerou novas postagens de De Assis e Aldigueri. O petista, respondendo diretamente a Élcio, afirmou que o vice-prefeito é “famoso por passear com o nosso dinheiro”. Ao pontuar que o presidente do PSDB Ceará estaria “irritado” com as críticas, o deputado questionou se seria porque ele “abandonou a cidade e foi curtir as férias com Sarto”. Ele finalizou afirmando entender o “desespero” de estar sendo “deixado de lado pelos próprios aliados”. Nos bastidores, se fala na possibilidade de Élcio não seguir como vice em uma chapa de reeleição de Sarto.
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Aldigueri também deixou sua tréplica. “Parece que doeu e aí bateu o desespero. Inconformados com as críticas de que Sarto, o vice e o presidente da Câmara, Gardel, abandonaram Fortaleza para passearem no exterior, aliados de Sarto e RC passaram a atacar a todos. Talvez as últimas pesquisas, que retratam o fracasso dessa gestão, estejam acirrando mais os ânimos. Sugiro trabalharem mais e atacarem menos”.