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6 de novembro de 2024

Fé e alegria: festa de Santo Antônio, de Barbalha, retorna após dois anos

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Nos próximos dois dias, a pequena cidade reúne simpatias ao santo padroeiro e a perseverança dos carregadores do pau da bandeira

ANTONIO RODRIGUES
CORRESPONDENTE NO INTERIOR
antonio.rodrigues@opiniaoce.com.br

Edição anterior da festa (Foto: Divulgação)

Santo Antônio, sem dúvidas, entre os canonizados pela Igreja Católica é o que está mais envolto de simpatias. Colocar sua imagem de cabeça para baixo, amarrar um fio de cabelo ou tirar o Menino Jesus do seu colo são práticas comuns por quem deseja conseguir um casamento.

E nenhum outro município no Brasil abraça tão bem essa cultura como Barbalha e seus pouco mais de 60 mil habitantes, onde as tradições também se reinventam na Festa do Pau da Bandeira.

Advogada e professora aposentada, Socorro Luna, “a solteirona mais famosa do Brasil”, é símbolo das superstições em torno do padroeiro. Ela foi responsável por criar a popular Noite das Solteironas, há 20 anos, que une a fé e as simpatias com o tradicional forró. Tem a pinga Xô Caritó, o pó cata-marido e um kit com a casca da madeira que serve de mastro.

Dela, é feito um chá, servido gratuitamente na noite da festa para quem quer arranjar um noivo ou uma noiva. Após duas edições suspensa pela pandemia, a Noite das Solteironas volta a abrir a Festa de Santo Antônio, em Barbalha, neste sábado, 28.

“Foram dois anos de muita tristeza”, admite a advogada. Durante esse período, Socorro participou de exposições e transmissões virtuais da festa “para não deixar morrer a tradição”, como ela mesma explica. Com o retorno da festa presencial na cidade, a “Noite das Solteironas” ganhará um pólo na calçada de Socorro Luna, a partir das 17h, antes de migrar para o entorno da Igreja Matriz.

“É uma junção de emoção, gratidão e fé”, resume Socorro. As simpatias são preparadas ao longo da semana em sua casa com ajuda de outras moradoras. “Gente do Brasil inteiro me procura pedindo”, garante a advogada. É difícil um só barbalhense não se envolver com a festa.

O comerciante Arnaldo Coelho acredita que além da fé no padroeiro, se torna um momento de reencontro entre os familiares. Por isso, é o momento mais aguardado do ano. “Como é uma cidade pequena, é o momento em que ela se encontra. É uma sensação indescritível. Arrepia quando chega a imaginar”, define.

Neste domingo, 29, a Festa de Santo Antônio de Barbalha alcança seu momento mais marcante: o cortejo do pau da bandeira pelas ruas da cidade, momento que reúne milhares de pessoas da região do Cariri. De uma ponta a outra, o colorido toma conta das ruas do Centro Histórico. Um tronco de angico de 28 metros, que vai servir de mastro, será carregado nos ombros por aproximadamente 250 homens — prática que acontece desde 1928.

O simbólico momento é reconhecido como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan), desde 2015. A ansiedade já é visível nos “carregadores”, os responsáveis por conduzir o Pau da Bandeira. Salomão Veloso, que herdou essa prática desde o seu avô, não esconde a ansiedade.

“É um sentimento inexplicável. Gratidão por estar fazendo parte desse momento, retornando, e fazendo história, porque nunca houve uma pausa como essa”, lembra.

Desde os 14 anos, Salomão conduz o mastro ao lado de seu pai, Nilo Júnior. “Tenho um momento especial que é a minha ‘pegada’ antes da Igreja do Rosário. Sempre sou eu e ele que levamos na frente. Ali é nosso dever cumprido.”

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