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21 de abril de 2025

Faroeste

A nova máfia no futebol brasileiro

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Vez por outra revejo filmes dirigidos pelo Sérgio Leone sobre a colonização americana. Vi Era Uma Vez no Oeste, o Bom o Mau e o Feio e Quando Explode a Vingança. Nessa caminhada em que cada um trata de escapar como pode, o olhar mágico do diretor passeia por diferentes tipos. O bandido, o caçador de cabeças, o xerife, o papa defuntos, o jogador de baralho, a prostituta e o dono do cabaré realçando em todos os personagens suas contradições e, acima de tudo, sua condição humana. Tempo em que as leis eram raras e o processo civilizatório engatinhava.

Somos assim! Fraternos e perigosos. Fazemos as leis para nos protegermos uns dos outros. E, aqui entre nós, caro leitor, não existe um lugar melhor para esconder os mal feitos do que o futebol. Nesse universo de paixões, a camisa de um time de futebol é um álibi quase que perfeito. É atrás delas que se escondem centenas de dirigentes de futebol. Sei também da insegurança que existe em pegar um ônibus e frequentar estádio, mas não vou escrever sobre essa massa de favelados de gangs ou facções que vivem brigando e também se escondem atrás de uma camisa.

O buraco é mais embaixo. Foi Charles Muller quem trouxe o futebol para o Brasil. Propagou-se rapidamente. As pessoas se organizavam como queriam e o futebol ganhou visibilidade. Percebendo a projeção, Getúlio Vargas interferiu na vida nacional e criou o Conselho Nacional do Desporto. A partir dessa criação, com a função de controlar e tutelar, edificou-se o sistema desportivo nacional, congregando confederações, federações a nível estadual e ligas a nível municipal. O Estado Novo ganhava um mecanismo importante, capaz de manipular as massas e mexer com o orgulho do cidadão comum.

A CBF é filha direta da lei 3199/41, assinada pelo então presidente Getúlio Vargas. É uma entidade privada que herda e administra toda a herança patrimonialista ao cuidar de um bem público e ter seus interesses voltados para um grupo privilegiado usufruindo das regalias. Depois que o futebol virou negócio ou “business”, ela tem sido a grande responsável pela elitização do futebol brasileiro. E tome patrocínio e competições. É ela quem, no final de cada ano, envia para cada federação o calendário a ser cumprido. Sobram dois meses para o campeonato estadual.

Nesses dois meses, milhares de jogadores com uma média salarial entre dois ou três salários mínimos se enfrentam do Oiapoque ao Chuí. O que fazer nos 10 meses restantes? Vão vagar como os personagens de Sérgio Leone em um país que o processo civilizatório ainda engatinha. Conheço vários que jogam o campeonato e, depois, voltam a ser Uber Moto. É uma caminhada que cada um tenta escapar como pode.

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