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15 de fevereiro de 2025

Família cearense é resgatada nas Filipinas após recrutamento de empresa suspeita de tráfico humano

Presos no país desde julho de 2024, os cearenses conseguiram voltar ao Brasil após ajuda do MPCE
Família aguardando o embarque ainda nas Filipinas (Foto: Divulgação/ MPCE)

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O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) auxiliou no resgate de uma família cearense que passavam por situação de vulnerabilidade nas Filipinas. Desde julho de 2024, a vida da família, ainda não identificada, se tornou um pesadelo. Morando nas Filipinas, o patriarca trabalhava em uma plataforma de jogos online, que se tornou ilegal pelo governo do país do Sudeste Asiático após ser associada a atividades criminosas.

Desempregado, com a sogra idosa necessitando de medicamentos e com risco de ser preso por trabalhar em um serviço irregular, o cearense recebeu ajuda do MPCE. O promotor de Justiça Germano Rodrigues, titular da 6ª Promotoria de Justiça da Pessoa Idosa e da Pessoa com Deficiência de Fortaleza, soube da situação da família e decidiu ajudar. “Entendi que o Ministério Público do Ceará poderia atuar de alguma forma nessa questão, tendo em vista a presença de uma idosa em situação de extrema vulnerabilidade”, destaca o membro do MP.

O pai comenta que a ideia de mudar para o país veio de um canal do YouTube, quando ele conheceu um canal que mostrava o dia a dia de brasileiros que moravam em Manila, capital filipina. Curioso para saber mais detalhes, ele começou a trocar mensagens com a dona do canal, que também atuava recrutando brasileiros para trabalhar no exterior. “Você ir para um país que você sempre quis conhecer, ganhando quatro até cinco vezes mais, isso realmente cresce os olhos”, comentou sobre a oportunidade.

Após conversar com a esposa, a família decidiu agarrar a oportunidade. Em 20 de junho de 2023, o marido viajou na frente e desembarcou no Aeroporto Internacional Ninoy Aquino (MNL), em Parañaque, onde foi recebido pela recrutadora. Com uma jornada de 12h diárias e uma folga na semana, o cearense atendia cerca de 500 a 700 clientes por dia e recebia 100 mil pesos filipinos por mês (aproximadamente R$ 10 mil). “O que eu não sabia era que o custo de vida lá é muito alto”, confessou.

Os gastos subiram ainda mais com a chegada da esposa, os filhos e a sogra, em 1º de fevereiro de 2024. Entretanto, mesmo com o aumento de gastos, as despesas ficavam em torno de R$ 7 mil, valor que, apesar de salgado, ainda era possível se manter. No entanto, tudo mudou, em 21 de julho de 2024, quando o presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos Júnior, ordenou o fechamento de todos os cassinos online que funcionavam no país. A medida foi tomada diante da ligação das plataformas com o tráfico humano, escravidão, golpes e até com o crime organizado chinês.

O decreto presidencial determinou que todos os estrangeiros que trabalhassem na atividade deixassem o território filipino até 31 de dezembro do ano. “Muitas empresas saíram no último dia e muitos funcionários também, mas uma grande parte deles não conseguiu. Eu fui um dos que não conseguiu”, explicou. Assim como os outros, eles tiveram o visto de trabalho revogado imediatamente após a decisão.

Cearense com colegas de trabalho na entrada da empresa (Foto: Divulgação/ MPCE)

Vale ressaltar que, ainda antes do decreto, o cearense já que havia sido demitido, em junho de 2024, após uma reportagem veiculada em uma emissora nacional denunciar que brasileiros estavam trabalhando em condições análogas à escravidão em cassinos online no Laos, também no Sudeste Asiático. Em 10 de outubro, o pai publicou um vídeo no qual pedia ajuda financeira, em suas redes sociais, para tentar sair do país. O vídeo não chegou diretamente a uma autoridade do Governo brasileiro, mas sim a um velho amigo da igreja evangélica que a família frequentava no Brasil, o pastor guineense Luís Mantampa. Foi ele quem intermediou o contato entre a família e o promotor de Justiça do MP do Ceará, Germano Rodrigues.

Em novembro de 2024, o promotor do MP realizou uma audiência virtual com a família. “Conversei com o casal, com a idosa e com as duas crianças. Pude ver um pouquinho do ambiente doméstico e atestei a realidade dura que eles estavam passando. A idosa também necessitava de alguns medicamentos, já que possui algumas comorbidades. Por isso, resolvi atuar, com o viés centralizado nos direitos da pessoa idosa”, disse Germano Rodrigues.

O MPCE comunicou o caso ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) e à Secretaria de Direitos Humanos do Ceará (Sedih) no dia 11 de novembro, reforçando a necessidade de repatriação da família.  Em 2 de dezembro de 2024, o Itamaraty respondeu ao pedido do MPCE, dando ciência que passaria a acompanhar o caso. No mesmo mês, a Sedih informou ao MP que prestaria o suporte necessário para que a família fosse repatriada em segurança.

A família começou a retornar para o Brasil no dia 4 de janeiro de 2025. No dia 5, eles chegaram a São Paulo e embarcaram em outro voo até Fortaleza. Hoje, ele, a esposa, os dois filhos e a sogra estão em segurança na residência de familiares em Fortaleza, um alívio após meses de tensão.

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