O deputado estadual Renato Roseno (Psol) destacou negativamente as recentes falas do governador Elmano de Freitas (PT) sobre o papel da esquerda nas políticas de segurança pública e combate à violência. Em entrevista ao podcast Questão de Opinião, do OPINIÃO CE, o parlamentar afirmou que as falas do chefe do Executivo foram injustas com o campo progressista. Roseno ressaltou ter se sentido pessoalmente injustiçado, já que estuda e trabalha com o tema da segurança pública há três décadas. “Foi injusto o governador dizer isso e foi mais injusto o ministro Camilo [Santana] reiterar”, afirmou o deputado.
No início deste mês de junho, ao empossar o novo secretário da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Roberto Sá, o governador chegou a dizer que em uma nova fase das forças de segurança cearense, “bandido vai ser tratado como bandido”. Também no mês, Elmano cobrou que a esquerda “atualize o seu discurso” em relação às políticas de segurança. Em entrevista ao O Globo veiculada no dia 9, o petista destacou que a desigualdade e a pobreza são causas importantes da violência, mas que não são as únicas. De acordo com ele, se a pessoa for para o mundo do crime, ela deve ser tratada como “inimiga do povo e da Democracia”.
“(…) A esquerda tem que atualizar o discurso e propor uma ação muito dura contra o crime. É defender claramente que as organizações criminosas são inimigas do povo no seu dia a dia, e que querem abalar nossas instituições. Precisamos de um projeto com oportunidades para a população, mas, se a pessoa resolver ir para o mundo do crime, vamos tratá-la como inimiga do povo e da democracia”, disse Elmano, à época.
Conforme Roseno, a esquerda e o campo progressista possuem propostas de políticas de segurança que já se mostraram efetivas. O deputado destaca, como uma ideia, a dissuasão focada. Tal metodologia procura levar aos infratores a compreensão de todo o contexto social que leva uma determinada pessoa ao crime, com um reforço também para levar a responsabilização aos criminosos. A dissuasão focada é combinada com ações de aplicação da lei, mobilização comunitária e serviços sociais em localidades específicas.
De acordo com o parlamentar, a metodologia tende a gerar “um círculo vicioso de queda” nos índices de violência de um território. “Isso é muito importante e o mundo inteiro utiliza”. Como completou o psolista, a “reação ostensiva”, mais reativa aos problemas gerados pela insegurança, não é mais utilizada por ser “cara e pouco eficiente”. Roseno destacou duas cidades brasileiras, Pelotas e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que puderam colher indicadores “muito bons da queda de homicídios” com a dissuasão focada.
Para conferir a entrevista completa, você pode acessar o portal do OPINIÃO CE no YouTube.
PRESSÃO DA SOCIEDADE
Por outro lado, o deputado estadual compreendeu também que o governador está sofrendo uma pressão da sociedade para uma resposta de curto prazo. “Eu também seria [pressionado], qualquer um que sentasse na cadeira de governador. Não dá para esperar produzir retorno em dois, três anos, ele tem que produzir efeito agora”, afirmou. No entanto, disse ser importante que, além da resposta imediata, o Estado mostre sua presença e construa um plano estratégico de prevenção.
“Essas duas coisas não são antagônicas, elas devem e se retroalimentam. Até para o estado social entrar no território, é preciso que o Estado recupere o controle do território, pois tem hoje territórios controlados por organizações armadas”, destacou.
Na Comissão dos Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), Roseno, presidente, pontuou que recebe cotidianamente famílias vítimas de expulsão de suas residências pelas organizações armadas. “Obviamente, ele [o governador] tem que dar conta disso, mas tem um apelo muito grande que é o apelo da resposta forte, do imediatismo, da frase de efeito. Às vezes, diz uma frase mal colocada e gera uma interpretação que autoriza a violência, mas tudo tem que ser dentro da legalidade”, completou. Ainda sobre esse ponto, o parlamentar ressalta que o uso legal da força, se dentro da legalidade, não é antagônico aos direitos humanos, amplamente defendido pelo campo político de esquerda.