“Manera Fru Fru Manera ou O Último Pau de Arara” é uma daquelas obras históricas da música brasileira. Marcou a estreia, como artista nacional, do cearense Raimundo Fagner, quando voavam alto nomes como Jorge Ben, Caetano Veloso e Milton Nascimento. O disco, um dos marcos do “Pessoal do Ceará”, foi o marco inicial de uma carreira que nunca se furtou do apelo popular.
Fagner colecionou sucesso, sem ser tragado pelas modas. O artista diz que saiu da pandemia numa nova fase de explosão criativa, de produção contínua e de novos projetos. Até o fim do ano, põe na praça dois novos álbuns. Um, em parceria com Renato Teixeira, e o outro, o primeiro solo de inéditas e quase uma década. Ao OPINIÃO CE, não precisou as datas. Dessa parte, ele explicou, cuidam outros companheiros de produção; ele, apaixonado pelo estúdio e pela artesania das canções, prefere mergulhar na composição, na gravação e na interação com quem cria com ele.
OPINIÃO CE: Você têm mantido uma agenda de lançamentos com uma boa média. Lançou dois álbuns no ano passado, um com canções de (e com) Belchior; e outro ao lado do Renato Teixeira. O que tem preparado?
FAGNER: O Renato [Teixeira] e eu terminamos um disco novo, só de participações. É bem diferente do primeiro. O leque tá bem variado. Estamos entregando ele pela Kuarup. E estou finalizando o meu de inéditas, celebrando os 50 anos do “Manera”. Vai sair pela Universal. No momento, é isso que estamos fazendo.
OPINIÃO CE: Hoje não há a pressão dos primeiros tempos de ir com frequência aos estúdios e lançar canções novas, mas você tem apresentado sempre novidades. O que o move nesse sentido?
FAGNER: Depois da pandemia isso ficou mais intenso. A pressão do começo da carreira, de ter que lançar disco todo ano, até atrapalhava um pouco. Às vezes você não tinha uma coleção de canções do nível do trabalho anterior, o mercado podia avaliar assim. Mas, agora, voltou essa intensidade, especialmente depois da pandemia. Mas é uma intensidade criativa. Está sendo um momento muito gratificante: estimula. Sou ligado a maestro, a arranjador, compositor, músico… Eu gosto de estúdio! Nesse disco de inéditas, fiz questão de gravar algumas músicas com a banda. Gravei no Midas, do Rick Bonadio, buscando esse som humano.
OPINIÃO CE: Sua música é celebrada por artistas de outras gerações. Você busca ficar atualizado com o que se tem feito na música?
FAGNER: Procuro muito saber, mas raramente encontro algo que me surpreende. Às vezes você tem uma atenção e a coisa não decola. De artistas de outra geração, mais novos, o primeiro que me surpreendeu, há um bom tempo, foi o [Zeca] Baleiro, tanto que depois nos tornamos parceiros musicais. Outro foi o Chico Cesar, desde quando ele lançou aquele primeiro vídeo (“Mama África”). É um talento. Outro dia, mandei para ele uma música e, no dia seguinte, ele já me mandou uma letra tão especial.
OPINIÃO CE: Você gosta de ter parceiros na música.
FAGNER: Adoro. Estou comemorando 50 anos de carreira e uns 40 de parceria com o Fausto Nilo. A gente promete há uns cinco anos fazer um disco com a nossa obra. Merece mesmo. O Fausto é a maior referência (entre os parceiros musicais de Fagner). Temos que fazer esse trabalho. Temos muitas canções inéditas. Nossas, dele com outras pessoas. Com o Baleiro tem umas novas.
OPINIÃO CE: Um grande parceiro seu, em disco inclusive, foi o Gonzagão. Você tem uma gravação inédita com ele. Alguma chance se sair?
FAGNER: Geneton Moraes Netto, meu grande amigo, era um jornalista da Globo e ele pegou esse material e fez cópia. Esse material existia, sumiu, depois reapareceu. Tem uma história meio maluca. É uma coisa de 1986, 1987. A mulher do Glauber Rocha tava lá, no meio dessa gravação, e foi ela quem pensou em fazer vídeo. “Vaca estrela e boi fubá”, desse registro, está disponível, mas fizemos outras. Senti falta de mais câmeras, mas teve um pouco de Glauber, digamos. Espero que salve alguma coisa. É histórico.
OPINIÃO CE: Outro projeto antigo que você tem é de um livro, sobre sua relação com o futebol. Em que pé ele está?
FAGNER: Tem uns 10 anos que comecei isso com o Orlando Mota. Ele fez o boneco, levei pro Rio. O material é inesgotável e ainda tem malas de coisas para abrir. O futebol foi minha paixão.
OPINIÃO CE: A MPB, nos anos 70, 80, tinha uma relação forte com o futebol que não vemos tanto na música hoje…
FAGNER: Não, não. Tem sim! Taí o Neymar, os pagodeiros. É outra turma que faz hoje, mas a relação existe. Na minha época tinha muito o Jorge Ben, eu, o Ivan Lins, o Evandro Mesquita. Ele é de outra geração, mas tinha muito disso, pelo amor.
OPINIÃO CE: Mas quem jogava melhor?
FAGNER: Difícil dizer. Agora, eu fiz muito gol. Pela altura, a vontade. Não sou muito habilitoso, mas sempre fui peladeiro, de gostar de jogar descalço. Peguei aqui, do futebol de salão. Nos anos 80, tive um problema de joelho, parei, depois voltei. E hoje, claro, tem a idade, estou parado, por falta de atividade física esmo, mas não me furto de estar num campo, de receber uma bola. É um lugar onde me sinto bem.