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8 de dezembro de 2024

Exposição: o cancioneiro de formas e cores de João Vitor

Exposição “As Velas do Mucuripe”, do artista plástico João Vitor, homenageia a tradição das jangadas, inspirado no clássico de Fagner e Belchior. Testemunho do papel transformador da arte, a mostra individual abre nesta segunda-feira, 13
O artista plástico João Vitor, com obras da exposição “As Velas do Mucuripe” Foto: Arquivo Pessoal

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“Um sorriso ingênuo e franco/De um rapaz novo, encantado/Com 20 anos de amor”. Os versos de ‘Mucuripe’, clássico cearense do cancioneiro nacional, parecem descrever João Vitor, espátula em punho, espalhando cores e criando formas sobre a tela.

Da composição de Raimundo Fagner e Belchior, também veio o título e o tema da primeira exposição do artista. “As Velas do Mucuripe” será aberta ao público na segunda-feira, 13, às 19 horas, na Ceneged (Rua Cariré, 64 – Farias Brito). Reúne 11 obras, uma série recente de João Vitor, retratando o velejar das jangadas artesanais sobre o mar de Fortaleza.

“Raimundo Fagner é um amigo da família e um ídolo musical para nós. Desde pequeno, o João Vitor passou a admirá-lo. A gente vai sempre para Acopiara. Lá, meu filho fica numa radiola, ouvindo os LPs do Fagner. Ele tem um gosto muito apurado”, conta o empresário Renato Felipe, pai do jovem pintor, explicando de onde veio tema e inspiração para as obras. “João Vitor sempre pinta ouvindo música. E quem ele mais escuta, enquanto faz seus trabalhos, é o Fagner”, revela a artista plástica Lourdes Chaves, a Magu. Há seis anos o jovem é aluno de artes em seu ateliê.

João Vitor tem uma dificuldade cognitiva, sem diagnóstico conclusivo, que impõe algumas limitações. A família buscou atividades que contribuíssem para o seu desenvolvimento. “A gente procurou sempre coisas de que ele gostasse. Foi para as artes marciais e fez equitação por um tempo. Então, um dia, visitamos uma exposição e ele se encantou. Sentiu a necessidade de ficar mais próximo da arte”, relembra o pai, Renato Felipe.

Da composição de Raimundo Fagner e Belchior, também veio o título e o tema da primeira exposição do artista. Foto: Arquivo Pessoal

Aos 14 anos, João Vitor começou a frequentar o ateliê de Magu. A identificação foi instantânea. “De todas as coisas que ele faz, posso dizer que a expressão artística – a manipulação da tinta, da espátula – é aquilo que mais o realiza”, avalia Renato.

Concentração e criação

“A arte mexe com os dois lados do cérebro, por isso muita gente se cura através das artes”, afirma Magu, a partir da experiência com alunos de todas as idades. “Muita gente não entende a extensão transformadora da arte. Acha que é uma coisa fugaz, e não é“, explica a artista. “A arte ajudou meu filho a desenvolver a concentração e a responsabilidade. Ele é extremamente dedicado e compromissado com as suas coisas. Quando ele está ali, pintando, criando, nada o abala“, conta o pai do jovem.

No ateliê, João Vitor foi introduzido a diversas técnicas, mas também incentivado a conquistar sua autonomia criativa. “No começo, tínhamos que fazer algumas partes para ele, mas ele se desenvolveu, foi apresentado ao desenho artístico, de observação. Vamos acompanhando, apresentando coisas novas. As obras da exposição são feitas com espatulado, uma técnica com a qual ele se identificou muito, e vem tralhando“, detalha Magu.

Aos 14 anos, João Vitor começou a frequentar o ateliê de Magu. A identificação foi instantânea. Foto: Arquivo Pessoal

O pintor, conta a artista, brinca com a tinta e cria formas. Em 11 obras, João Vitor reinventa as cores e a luz com que o mar e do pôr do sol enfeitam as jangadas. Quem quiser conferir de perto e vê-las velejar sobre a tela, pode anotar: a mostra fica em cartaz de terça, 14, à sexta, 17, das 9h às 12h e de 14h às 16h, na sede da Ceneged.

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