Fortaleza receberá as belezas e encantamentos da pernambucana Lia de Itamaracá, eternizadas na exposição “Lia de Itamaracá – Cirandar é Resistir”. De 7 de fevereiro a 11 de maio de 2025, o público poderá vislumbrar a trajetória de vida e arte da cantora que, aos 81 anos, permanece como uma das principais vozes da cultura popular brasileira. A mostra convida os expectadores a pensar sobre a importância das tradições e dos mestres e mestras da cultura brasileira na contemporaneidade, e acontece nas galerias 1 e 2, de terça a domingo, das 10h às 18h.
A programação contará ainda, no dia 8 de março, com a presença da própria artista, que já esteve em terras alencarinas anteriormente. A exposição mergulha na trajetória de Maria Madalena Correia do Nascimento, e traz o público para refletir sobre a resistência cultural e os desafios enfrentados por Lia em sua carreira, em um contexto de reafirmação da identidade afro-brasileira e valorização da ciranda como patrimônio imaterial.
Após passar com grande sucesso de público e de mídia por galerias em São Paulo e Recife, a mostra vem com novidades à Caixa Cultural Fortaleza. Sendo um registro vivo da trajetória de Lia, a exposição se renova constantemente, incorporando novos símbolos da história da mestre.
A curadoria é assinada pela artista visual e cineasta Lia Letícia, pela jornalista e escritora Michelle de Assumpção (autora da biografia Lia de Itamaracá, nas Rodas da Cultura Popular) e pelo empresário e produtor cultural Beto Hees, guardião do acervo do Centro Cultural Estrela de Lia, na Ilha de Itamaracá. A curadoria fotográfica é de Ythallo Barreto, também autor de algumas fotos e vídeos que compõem a exposição.

EIXOS TEMÁTICOS
A proposta é construída a partir de três eixos temáticos que guiam os expectadores. O Eixo Verde Louco, inspirada na canção de mesmo nome do repertório de Lia, mergulha no lado mais pessoal da artista, apresentando a Ilha de Itamaracá como a terra fértil, de onde surge Lia e toda sua arte. Três instalações compõem o espaço expositivo. Em Mar de Lia, por meio de óculos de realidade virtual, os visitantes embarcam em uma jangada imaginária e se deslumbram com as águas verdes e vibrantes que envolvem a ilha. A instalação Casa de Lia é um convite à intimidade da vida de Lia de Itamaracá, trazendo à galeria objetos e elementos do seu universo particular. Ao percorrer esse espaço, o visitante é transportado para o lugar onde Lia encontra sua paz, seus amores e sua raiz.
Outra novidade na exposição é um recorte do projeto Letras da Ilha, da designer Lili Nascimento, que também assina a identidade visual da exposição. Este projeto destaca a tipografia vernacular das embarcações tradicionais da Ilha de Itamaracá, destacando a feitura dos letreiros, langanhos e a arte feita pelos pintores letristas locais, com destaque para Natanael Pires, o Tuca, reconhecido pintor letrista da região. Ao integrar fotografias e obras do projeto à exposição, a mostra amplia o alcance dessa rica tradição cultural, que se conecta profundamente ao cancioneiro e ao imaginário de Lia de Itamaracá.
O Eixo Quem é essa preta? convida à reflexão sobre identidade e a luta contra o racismo na cultura popular. Nesse ambiente, a instalação inédita Sossego de Lia surge como um contraponto poético, homenageando a Praia do Sossego, local de nascimento da artista. A instalação oferece aos visitantes a serenidade da praia, com redes que convidam ao repouso e o som das ondas e das cirandas, compondo uma atmosfera de contemplação.
Já o Ciranda no Mundo é o eixo norteador que apresenta a trajetória ascendente da artista, apesar de todas as adversidades. A canção Mar de Fogo, baseada num ponto para o orixá Exu, simboliza as conquistas de Lia em contraponto às adversidades que enfrentou ao longo de sua carreira. “Para chegar aqui/ atravessei o mar de fogo/ Pisei no fogo, o fogo não me queimou/ Pisei na pedra, a pedra balanceou.” Nesse espaço, a curadoria enfatiza a importância de honrar e valorizar, por meio das vitórias de Lia no mercado das artes, os grandes mestres e mestras que fazem da cultura brasileira um pilar identitário e espiritual de nosso povo.
Aqui a instalação Ciranda de Ritmos ganha destaque, composta pelos instrumentos reais da ciranda, disponíveis para interação do público, e acompanhada por um documentário de shows internacionais e espetáculos diversos, a instalação exibe também figurinos, joias e adereços da artista, revelando facetas que conectam tradição e contemporaneidade.

OUTRAS ATIVIDADES
A mostra também contará com atividades especiais com a presença de Lia, iniciando com a Roda de Diálogo Racismo na Cultura Popular, dialogando com o eixo Quem é essa Preta? O encontro, que acontecerá no dia 08 de março, contará com a participação de Lia de Itamaracá, dos curadores, de artistas e gestores culturais convidados, e abordará o racismo estrutural.
No encerramento, Lia se apresentará ao lado do DJ Dolores, produtor do álbum Ciranda sem Fim, que traz inovações sonoras ao universo de Lia. Já no dia 09, a artista participa, ao lado de músicos de sua banda, da Vivência Aprendendo a Cirandar, um encontro pedagógico, onde o público poderá ter a oportunidade de conhecer mais sobre a ciranda. A atividade culminará com o show Ciranda de Lia, em que a artista apresenta o repertório tradicional de cirandas e cocos de roda.
Confira a programação completa:
Sábado (08 de março)
- 16h – Roda de Diálogo “O Racismo na Cultura Popular”:
- 20h – Apresentação de Lia de Itamaracá e DJ Dolores
Domingo (09 de março)
- 16h – Vivência “Aprendendo a Cirandar”:
- 19h – Show Ciranda de Lia