A discussão da ética no futebol veio à tona nesta semana com a bombástica coluna do jornalista Renato Maurício Prado, que reproduziu declarações que teriam sido dadas por Jorge Jesus. Numa conversa com o jornalista, o técnico português teria basicamente dito que quer voltar a treinar o Flamengo, e falou até em prazo. O problema? Por lá, existe um treinador empregado. Paulo Sousa, compatriota de Jorge Jesus, não deve ter gostado nada da “cavada” do antigo treinador do Rubro-Negro carioca.
Já acompanho futebol há mais de duas décadas e confesso que poucas vezes vi uma postura tão rasteira de um personagem do esporte. Achei indelicado, desrespeitoso e fora de tom. Há quem critique o jornalista por ter publicado tais informações, mas não concordo com essa visão. Ora, se não foi a ele pedido que as declarações ficassem em “off”, mérito dele em divulgar. Mas, saindo um pouco deste recorte, é difícil falar de ética num ambiente tão promíscuo quanto o do futebol.
Jogadores trocam de clubes, na grande maioria das vezes, pensando apenas na questão financeira, sem se preocupar com o sentimento dos torcedores. As equipes, por vezes, transformam os atletas em dispensáveis ou moedas de troca de acordo com a sua conveniência. Técnicos são substituídos como se fossem meras trocas de roupas. Na última semana, Fábio Carille foi demitido após 21 dias de trabalho no Athlético-PR.
E essa é apenas a 9ª demissão mais rápida de times do Brasileirão. Quando há um gesto fora da curva, como aconteceu com Muricy Ramalho que, convidado para assumir a Seleção Brasileira em 2010, lembrou ao então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que tinha contrato em vigor e que o dirigente precisaria negociar com o Fluminense, clube treinado por Muricy na época. A postura foi tão atípica que muita gente criticou o treinador na época. Mas ele não estava certo? Não havia contrato assinado e acordo com uma instituição?
Enfim, o correto se torna inusitado num ambiente onde a correção, a honra e a tal da ética são tão raras quanto gols olímpicos.