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16 de janeiro de 2025

Estudo prevê a perda de pelo menos 10 metros de faixa de areia até 2040 na costa cearense

A tendência de avanço do mar para 2040 também afetará a Costa Oeste do Estado, que inclui Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante, Trairi, Itapipoca, entre outros municípios
Foto: Natinho Rodrigues

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O estudo Análise espaço-temporal e modelagem preditiva da linha de costa do Estado do Ceará”, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), revela que quase metade da costa cearense deverá perder pelo menos 10 metros de faixa de areia até 2040, afetando 49,16% dos 573 quilômetros de costa do Estado. Outra previsão da pesquisa aponta que Fortim é o município que apresenta a projeção mais acentuada de erosão. 

“Processos erosivos acentuados podem prejudicar demasiadamente esta região de grande importância econômica, ambiental, social e cultural, que desempenha um papel vital na sustentabilidade e no bem-estar das comunidades locais e na biodiversidade costeira”, avalia a professora do Departamento de Geologia da UFC e uma das autoras do estudo, Narelle Maia de Almeida. 

Por se tratar de uma região de estuário, que, naturalmente, possui uma dinâmica sedimentar mais complexa, a margem noroeste do Rio Jaguaribe, no município de Fortim, apresenta as taxas mais elevadas de avanço do mar. Entre o ano de 2020 e 2030, a área em questão perderá 318 metros de costa. Já quando é analisado o período entre 2020 e 2040, são perdidos, pela erosão, 436 metros de areia. Além de Fortim, a pesquisa mostra que os municípios de Icapuí, Cascavel, Caucaia, Paracuru, Paraipaba, Trairi, Amontada, Itarema, Acaraú e Camocim devem sofrer com intensas erosões até 2030.

A tendência de avanço do mar para 2040 também afetará a Costa Oeste do Estado, que inclui Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante, Trairi e Itapipoca. A previsão é que o fenômeno chegue ao Extremo Oeste, alcançando Amontada, Itarema, Acaraú, Cruz e Camocim. Segundo Narelle, caso o estudo se confirme, os prejuízos vão impactar diversos setores. 

 “A costa abriga uma diversidade de ecossistemas, como manguezais, dunas e recifes, fundamentais para a biodiversidade marinha e para a pesca. A atividade pesqueira e a aquicultura são cruciais para a economia local, garantindo alimentação e renda. O turismo costeiro, impulsionado pela beleza natural das praias e esportes aquáticos, é uma importante fonte de receita e emprego. A cultura e identidade locais também estão intimamente ligadas ao mar e à pesca”, destaca a geóloga. 

O ESTUDO

Para a realização da pesquisa, foi elaborado um banco de dados de imagens de satélite da linha de costa do Ceará do período de 1984 a 2020, obtidas através do repositório EarthExplorer, disponibilizado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

Com a ajuda de um software, foram comparadas as linhas costeiras em diferentes momentos e calculadas as mudanças ao longo do tempo. “Com base nas mudanças identificadas na linha de costa do Ceará ao longo do tempo, o software utilizou métodos de modelagem estatística para prever a posição futura da linha de costa. Essas previsões são feitas com base em tendências históricas de mudança e podem ser usadas para planejar medidas de gestão costeira e adaptação”, explica Narelle de Almeida.

O estudo também revelou variações anuais na costa cearense, constatando que 38,28% da área sofreu erosão, 13,73% passou por um processo de acresção e 47,98% se manteve em equilíbrio. O geólogo e também autor da pesquisa, Luiz Henrique Joca Leite, esclarece que a erosão pode ter causas tanto naturais quanto por ação humana. 

“Identificamos cenários de erosão severa claramente causados por interferência antrópica [humana], como a praia do Icaraí, em Caucaia, e outros que apontam para uma possível interferência humana, mas que seriam necessários alguns estudos em escala de maior detalhe para confirmar estas hipóteses, como as erosões incipientes observadas nas pontas litorâneas dos municípios de Paraipaba e Trairi”, informa o pesquisador. 

Estudos em escala de maior detalhe ainda não estão sendo realizados pela equipe do Departamento de Geologia por falta de financiamento.

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