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16 de janeiro de 2025

Estudo pioneiro da UFC revela que bicho-de-pé está presente em 98% dos municípios cearenses

Apesar da ocorrência da doença ser expressiva no Ceará, não existe nenhum programa específico de controle do Estado.
Foto: Ribamar Neto/UFC Informa

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Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), revelou que, entre os 184 municípios cearenses, 181 relataram casos de tungíase, ou, como popularmente é conhecido, o bicho-de-pé, o que representa um total de 98,3% de incidência no Estado. O estudo da doença é pioneiro no mundo, analisando uma área geográfica ampla e completa, além de dados sobre a ocorrência e a gravidade. 

O método de avaliação utilizado no estudo foi baseado em um questionário on-line aberto para profissionais de saúde e outros agentes envolvidos, permitindo que os pesquisadores obtivessem dados básicos sobre o bicho-do-pé no Estado. Em todo o Ceará, os únicos municípios que não apresentaram casos da doença foram Iracema, Lavras da Mangabeira e Várzea Alegre. Entretanto, como os dados coletados nesses três municípios foram considerados escassos, os pesquisadores assumem que a tungíase ocorre em todos os municípios do Estado. 

Para o coordenador da pesquisa, Jorg Heukelbach, professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC, a ausência de dados nessas regiões pode ser justificada pela estigmatização que associa a doença à pobreza, gerando preconceito e vergonha aos pacientes.  “Muitas pessoas, especialmente aquelas com casos mais graves, se escondem do convívio social, e os agentes de saúde acabam não tendo conhecimento sobre elas”, revela o pesquisador.

A pesquisa também aponta que 72% dos municípios identificaram a presença da doença em animais, especialmente em cães, suínos, gatos, cavalos e caprinos, o que representa uma ameaça econômica aos pecuaristas. Outro fator ligado à doença é a proximidade de habitações da praia, que são as principais regiões afetadas pelo bicho-de-pé. Em Fortaleza, por exemplo, bairros como Praia do Futuro e Vicente Pinzón apresentam mais casos. A explicação para isso é que a prevalência da tungíase está associada especialmente a más condições de vida e de moradia, se destacando em bairros com comunidades pobres da Capital. 

Outra evidência do estudo mostra que as principais vítimas são crianças, que são 80% dos infectados. Isso se justifica pelo fato de elas terem o maior costume de andar descalças em casa e na rua.  

IMPACTOS

Conforme o estudo, a infecção com o bicho-de-pé pode causar sérias complicações, já que a área afetada do corpo fica sujeita a infecções bacterianas, que podem levar ao tétano, à ulceração e à deformação dos dedos (das mãos e dos pés). Os entrevistados da pesquisa relataram casos de amputação de dedos das mãos e dos pés, perdas das unhas, lesões nas nádegas, pessoas com dificuldades de locomoção, internação e, inclusive, casos de morte. Apesar da ocorrência da doença ser expressiva no Ceará, não existe nenhum programa específico de controle do Estado.

O professor Jorg Heukelbach, coordenador da pesquisa, revela que o Rio Grande do Sul é o único do Brasil a ter o programa voltado para o problema. Segundo ele, é necessário controlar a doença por meio de um programa de saúde integrado e multidisciplinar, com ações que envolvam as condições de moradia das pessoas, de saúde, de cuidado com os animais domésticos e de conscientização para que se evitem comportamentos de risco. Segundo o doutorando Nathiel de Sousa Silva no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC, o estudo pode contribuir com informações indispensáveis para a criação de um programa de controle eficiente. Ele ainda destaca a subestimação que os impactos da doença possui. 

“Quando nós falamos da tungíase, é impossível não citar que ela é uma doença ignorada pela comunidade médica, pela comunidade científica e pela população também, que vê a doença como algo simples, não trata adequadamente, muitas vezes nem trata e nem sabe os riscos que está correndo”, afirmou o doutorando.

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