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24 de abril de 2025

Enchentes matam mariscos e peixes e impactam pescadores no Rio Jaguaribe

Comunidades pesqueiras sofrem com as consequências após derramamento de petróleo em 2019, a pandemia do novo Coronavírus e, agora, as cheias do rio
Foto; Francisca Carneiro/Ronaldo Gonzaga

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Comunidades de pesca artesanal localizadas nos municípios de Fortim e Aracati estão sendo afetadas pelas fortes chuvas ocorridas no Ceará desde o início de abril. O alto volume pluviométrico está ocasionando diversas cheias no Rio Jaguaribe, o que interrompe a pesca na região e resulta na morte de várias espécies de pescados. A situação é agravada por conta dos impactos remanescentes do crime do derramamento de petróleo ocorrido em 2019, que afetou a renda das famílias no litoral nordestino, e da pandemia de covid-19, que obrigou o fechamento de feiras e mercados onde os peixes eram vendidos.

A cheia do Rio Jaguaribe, ocasionada pelas fortes chuvas, vem gerando insegurança alimentar e econômica para as famílias das comunidades próximas ao leito, que dependem da pesca.

De acordo com o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), desde o crime ambiental, em 2019, a pesca artesanal foi severamente afetada e nenhum auxílio ou reparação alcançou a comunidade. O conselho também afirma que, após a pandemia, os moradores da região estavam se reerguendo economicamente neste momento. Segundo a entidade, com a pandemia, a venda dos peixes e mariscos foi comprometida pelo fechamento dos pontos de venda em consequência do lockdown. Quando as famílias retomavam suas atividades, a pescaria foi, mais uma vez, ameaçada pelo excesso de água no rio, o que ocasionou deslizamentos e enxurradas.

A marisqueira Francisca Maria de Albuquerque, relembrou os momentos de dificuldades enfrentados pela comunidade. “Passamos por dois períodos difíceis, que foi a pandemia e o derramamento do óleo. Nós da comunidade do Jardim, trabalhamos com marisco e estamos sofrendo. A água do rio está muito alta, está havendo muita sujeira. As marisqueiras e pescadores não tão tendo como sustentar suas famílias, é dali que a gente tira a nossa renda”, explicou Francisca.

Segundo a marisqueira, é causa de tristeza para a comunidade olhar para o que está acontecendo com um rio tão rico. “O nosso Rio Jaguaribe é a mãe rica, que nos fortalece e nos alimenta.  Agora é sinal de dor relembrar tudo que a gente tirava do rio. Não temos a quem pedir socorro. Então, nós ficamos como? Não sabemos até quando as águas vão subir com essas chuvas”, lamentou.

Foto; Francisca Carneiro/Ronaldo Gonzaga

INSEGURANÇA ECONÔMICA E ALIMENTAR 

Para o pescador artesanal Ronaldo Gonzaga, a chegada do grande fluxo de chuvas na região vai dificultar, ainda mais, a vida da comunidade pesqueira, pois a principal fonte de renda das famílias locais vem do marisco. “Várias espécies de peixe que tem no Rio Jaguaribe, nosso estuário, não vão suportar tanta água doce, muitos morrem ou fogem pro mar. Além do marisco que boa parte vai morrer”, pontua. “Isso aí é um grande dano para nós e para a renda na região, pois várias famílias vão sofrer. É incalculável o dano que essa enchente vai causar nas comunidades”, afirmou Ronaldo.

O pescador também recorda o histórico de lutas que as famílias já travam desde 2019. “A gente já vem sofrendo desde o derramamento do petróleo e não temos nenhum apoio do governo. 90% dos pescadores não receberam nenhuma quantia, nem as marisqueiras”, argumentou. “Essas famílias vão sobreviver de que? Muitas já estão preocupadas. A tendência é de mais água vir, e com isso, menos chance de os mariscos sobreviverem. A gente fica na expectativa de que os órgãos públicos vejam isso e nos ajudem de alguma maneira. Vamos precisar porque ficaremos sem a nossa principal fonte de renda e alimento”, finaliza Gonzaga.

De acordo com Camila Batista, secretária executiva do CPP, é fundamental que o governo e as autoridades locais ofereçam apoio e políticas públicas para reparar os danos causados e proteger as famílias tradicionais pesqueiras contra a insegurança alimentar e econômica. “As famílias pesqueiras que moram na região, sofrem desde o grande impacto do derramamento do petróleo, e nesse período com o aumento das águas do rio. Elas precisam de uma política pública de atenção para que quando chegar esse período das chuvas, as famílias pesqueiras não venham a ficar em situação de vulnerabilidade socioeconômica, socioambiental e com risco de insegurança alimentar”, alerta.

As informações são da Assessoria de Comunicação do CPP.

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