O ex-presidente Lula (PT), de 77 anos, foi eleito neste domingo, 30, presidente da República do Brasil pela terceira vez. Lula derrotou nas urnas, pela margem mais apertada de votos de uma disputa presidencial desde a redemocratização, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). O Nordeste foi, assim como aconteceu no primeiro turno, decisivo para a consolidação do resultado do petista. Na região, Lula teve 22.534.716 votos, mais de 12,5 milhões a mais que o atual presidente (9.971.881).
O petista venceu nos nove estados nordestinos, ficando com 69,3% dos votos válidos desta parte do Páis. Excluindo brancos e nulos, 32.506.597 nordestinos votaram. No geral, Lula e Bolsonaro ampliaram seus números em relação ao primeiro turno.
Lula teve, neste domingo, 60.345.999 votos (50,9%) – 3 milhões a mais que no 1º – frente a 58.206.354 (49,1%) de Bolsonaro – 7 milhões a mais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concluiu a totalização dos votos às 00h18 desta segunda-feira, 31. Do total de 156.454.011 eleitores aptos a votar, 124.252.796 compareceram às urnas, número equivalente a 79,41%. Os votos válidos totalizaram 118.552.353. A abstenção alcançou 32.200.558, representando 20,59%. Os votos nulos foram 3.930.765, o que corresponde a 3,16% do total de votos. Já os votos em branco somaram 1.769.678 (1,43%).
No total, foram apuradas 472.075 seções eleitorais, a última delas no Amazonas.
Divisão política
O triunfo de Lula se deu em um cenário de forte divisão política da sociedade e representou uma significativa recuperação pessoal. O petista passou um ano e sete meses preso após ser condenado na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro no processo do triplex do Guarujá (SP). O líder máximo do PT deixou a cela especial da Polícia Federal em Curitiba em novembro de 2019. Em abril do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou as condenações impostas a ele pela operação, permitindo que Lula disputasse as eleições deste ano.
Em menos de quatro anos – próximo do período em que Bolsonaro exerceu o cargo de presidente -, o petista, que teve a prisão decretada pelo então juiz e atual senador eleito Sérgio Moro (em abril de 2018), passou da ruína ao auge político. Nos próximos 60 dias, o Brasil terá o desafio de fazer uma transição sem traumas, com foco único e absoluto no interesse nacional. A travessia governamental está regulamentada por lei e permite que o novo presidente convoque uma equipe de até 50 pessoas para a ocupação de cargos especiais durante esse período.
A Lula caberá a significativa tarefa de conduzir o País a um processo de pacificação e retomada do desenvolvimento social e econômico. O Brasil que será herdado pelo ex-presidente tem características muito distintas do que ele assumiu há 20 anos, após vencer a disputa de 2002.
CENÁRIO POLÍTICO
O PT volta ao poder central também sob a exigência de fazer um governo mais amplo e negociar com um Legislativo ideologicamente mais hostil. Os partidos de direita, com predomínio das legendas do Centrão, conquistaram a maioria das cadeiras da Câmara e do Senado em disputa. Somente o PL, partido de Bolsonaro, elegeu a maior bancada do Congresso.
A sigla terá 99 deputados na Câmara a partir de 2023. A federação formada por PT, PCdoB e PV ficou com 80 deputados. O núcleo duro do Centrão, formado por PL, PP, Republicanos e União Brasil, elegeu 246 deputados, o que representa 48% da Câmara. No Senado, a eleição também foi marcada pela vitória de aliados de Bolsonaro e políticos associados ao presidente. Os partidos de direita emplacaram 19 nomes. É diante desse Congresso mais à direita e com uma parcela mais radicalizada que Lula terá de governar. A campanha petista não foi capaz, porém, de iluminar as pretensões de uma nova gestão da legenda. Um plano detalhado de propostas ficou na promessa.
Apenas faltando três dias para a votação em segundo turno, a campanha do ex-presidente divulgou uma carta aberta na qual promete combinar “política fiscal responsável” com “responsabilidade social e desenvolvimento sustentável”. Um documento considerado genérico e superficial pelos agentes econômicos.
LIRA E PACHECO
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou ontem em pronunciamento, que o Brasil deu uma demonstração de vitalidade da democracia, de força das instituições e do povo, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. “A vontade da maioria manifestada nas urnas jamais deverá ser contestada e seguiremos em frente na construção de um País soberano, justo e com menos desigualdades”, disse.
Lula terá de trabalhar para reunificar o Brasil, disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Em entrevista coletiva nesta noite, ele disse que a Casa está disposta a contribuir em apreciar os projetos do atual governo nos dois próximos meses e a ajudar na transição para o próximo governo.
“[Houve] uma clara divisão da sociedade brasileira, por votações quase simétricas, muito próximas umas das outras, para um candidato e para outro candidato. O papel dos novos mandatários é seguramente o de reunificarem o Brasil, buscarem encontrar, através da União, as soluções reclamadas pela sociedade brasileira”, disse o presidente do Senado.
Segundo Pacheco, as instituições devem procurar acalmar os ânimos e conter o ódio e o futuro presidente da República deve governar para toda a sociedade. “Dando um basta ao ódio, à intolerância, ao respeito às divergências, temos um país plural e diverso. O exemplo das instituições é fundamental que sejam dados para que a sociedade brasileira possa se reunir novamente e que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, possa governar para todos”, continuou.