Com obras paradas desde 2012, o conjunto habitação Cidade Jardim V, do Minha Casa, Minha Vida, foi entregue na tarde desta segunda-feira, 29, pelo governador Elmano de Freitas (PT) ao lado do ministro das Cidades, Jader Filho (MDB) e demais autoridades no bairro José Walter, em Fortaleza.
Apesar de cerca de 3.500 pessoas serem beneficiadas, o cenário futuro pode não ser o mesmo para algumas famílias escolhidas para residirem no local. O principal motivo da incerteza da permanência destas é a dominação das facções criminosas que organizam os conjuntos habitacionais conforme os próprios interesses. Sabendo disso, Elmano garantiu que as famílias “estão protegidas” e não precisarão “sair de suas casas porque a Polícia Militar está aqui dentro agora”.
A fala ocorreu também nesta terça, antes de começar o evento de entrega.
O gestor afirmou que a segurança no Cidade Jardim V vem, primeiramente, com a escolha correta das famílias que vão habitar o local. “As famílias que vão residir nas unidades habitacionais são pessoas que se conhecem e isso ajuda a preservar o ideal de comunidade. Nós tivemos experiências anteriores de pessoas trazidas dos mais diversos locais, ninguém se conhecia, e isso favorece que determinadas pessoas entrem erroneamente nos programas habitacionais“, revela Elmano.
Ainda conforme o petista, há um trabalho de inteligência forte. “Vamos integrar e treinar toda a inteligência das nossas polícias no Ceará, no entanto, eu considero mais importante são as famílias se conhecerem para haver um espírito de comunidade para prevenir a violência e a atuação do tráfico de drogas. Ninguém vai sair de suas casas, vai ter segurança dentro dos conjuntos habitacionais”, reforça o governador.
Na ocasião, o governador Elmano salientou que o plano central do Governo do Estado é garantir o planejamento de habitação do Ceará inteiro a partir das metas estabelecidas do Governo Federal.
“No Ceará, temos um défit habitacional de cerca de 234 mil unidades habitacionais que precisamos construir, evidentemente não vamos fazer isso em apenas um governo, mas estamos nos preparando para dar encaminhamento. Projetos habitacionais com, no máximo, 350 unidades habitacionais, preservando efetivamente a vida comunitária, como foi aqui no Cidade Jardim V. Implantamos um espaço da Polícia Militar (Copac) para fazer o policiamento nesta unidade que estamos entregando para garantir segurança para essas famílias, assim como todos os serviços sociais da Prefeitura ou do Estado”, acrescentou.
Josiane Alencar, uma das beneficiadas, esperou 11 anos para receber a chave da casa própria, mas teme a insegurança. “É um sonho realizado para mim, é a oportunidade de sair do aluguel. Moro com meus dois filhos e tendo a nossa casa própria, fica melhor para gente porque são dois quartos, sala e cozinha. Sobre a segurança, eu estou preocupada porque as famílias que vêm para cá são de três comunidades diferentes, mas eu estou mais segura com a cabine policial e pode ser que não seja igual aos outros conjuntos que foram entregues”, comenta, recuada.
A preocupação de permanecer dentro da casa nova é dúvida também de Maria Barbosa. “Moro com meu filho e meu companheiro e estou saindo do lixo para o luxo. A segurança é tudo que a gente espera para poder usufruir da nossa casa. Nós somos cidadãos e queremos ser bem-vindos em qualquer lugar e não precisar sair para a gente ficar no nosso cantinho. Aqui perto tem UPA, parada de ônibus, foi o que mais a gente pediu”, disse a beneficiada, que deve se mudar assim que receber as chaves.
NOVO MODELO DE HABITAÇÃO
Oposição ao prefeito Sarto (PDT) na Câmara Municipal, o vereador Gabriel Aguiar (Psol) conversou com o OPINIÃO CE sobre o modelo dos conjuntos habitacionais e o que precisaria melhorar no que tange à sustentabilidade e tecnologia.
“É preciso garantir unidades habitações no lugar onde as pessoas já estão com a vizinhança já formada e com familiares por perto. Eu integrei o grupo de transição do Governo Lula no Ministério das Cidades e nós pautamos muito isso e a questão da sustentabilidade nos conjuntos. Podemos ter várias soluções, como a área verde. Se você ver, não tem árvores aqui, por exemplo. Não tem também soluções para o saneamento de resíduos sólidos, como compostagem, coleta e reciclagem. É preciso mudar o paradigma de construção de habitação popular, não podem ser mais esses grandes conjuntos com milhares de apartamentos em que a população fica isolada de áreas de emprego e renda, comércio, lazer, equipamentos públicos”, critica o vereador.
