Há três dias do segundo turno das eleições em Fortaleza, o governador Elmano de Freitas (PT) defendeu que a polarização entre Lula e Bolsonaro seja intensificada para os últimos momentos da campanha. Uma das lideranças petistas no Estado, o chefe do Executivo, apoia a candidatura de Evandro Leitão (PT) para a Prefeitura da capital cearense. O adversário do postulante, o deputado federal André Fernandes (PL), tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em entrevista ao podcast Questão de Opinião, do OPINIÃO CE, Elmano explicou que, quando se fala em Lula e Bolsonaro, não está colocando em discussão apenas as pessoas, mas os projetos aos quais esses agentes políticos representam. “O eleitor sabe que não é só isso. Porque o Lula representa um conjunto de ideias. Quando o cidadão pensa no Lula, ele lembra do “Bolsa Família”, do “Minha Casa, Minha Vida”, do “Mais Médicos”. E não é porque ele pensa ou imagina, é porque ele vivencia”, afirmou.
Sobre Bolsonaro, o governador direcionou um questionamento ao eleitor. “Pergunto ao cidadão uma obra que o Governo Bolsonaro entregou em Fortaleza. Me diga uma”. Utilizando como exemplo as moradias populares do Residencial Cidade Jardim, no bairro José Walter e vinculados ao “Minha Casa, Minha Vida”, o petista destacou que, enquanto o ex-presidente, em quatro anos, não conseguiu terminar nenhum apartamento, o atual presidente Lula, em dois anos, já entregou dois mil.
A candidatura de Evandro tem se utilizado do vínculo do candidato a Lula, ao ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e a Elmano como estratégia. André, por outro lado, busca não citar o nome de Bolsonaro. Agentes da política cearense veem o movimento como um receio de que a rejeição ao ex-chefe de Estado possa impactar negativamente no pleito.
O governador, durante a entrevista, também falou sobre o que representa Camilo, tido hoje como a principal liderança do grupo governista do Ceará. “O que é o Camilo? Não é só a pessoa. Ele expressa a responsabilidade e o carinho que teve quando cuidou, na pandemia, do povo do Ceará”, disse. Elmano destaca que Evandro defendeu o posicionamento do então governador Camilo Santana no combate à pandemia de covid-19. Ele ressalta ainda, por outro lado, que André se posicionava contra as vacinas.
“Onde estava André Fernandes? O deputado, não o adolescente. O deputado estava do outro lado, atacando o Camilo, ‘porque tinha tomado um hospital de um particular’. Não tinha tomado, tinha desapropriado um hospital que não funcionava e abriu os leitos para salvar o povo. Essas são as diferenças”, afirmou.
Sobre o programa Mais Médicos, Elmano explicou como a ação funciona e expôs preocupação com essa política se Fernandes for eleito. “O que é o Mais Médicos: caso não tenha médico no posto de saúde do Conjunto Palmeiras, José Walter, Jangurussu, o Governo Federal chega para o médico, ‘se você topar trabalhar no Conjunto Palmeiras, vamos pagar seu salário’. O médico se cadastra e vai para o posto de saúde”. Como continuou o governador, quem faz o cadastro dos postos são os prefeitos, daí a preocupação: “Ele [André Fernandes] é contra o Mais Médicos. Como esse deputado, virando prefeito, vai querer botar médico no posto de saúde, se como deputado ele votou contra?. O Evandro é a favor”, completou.
Uma das lideranças do grupo político governista, o senador Cid Gomes (PSB), afirmou, na última segunda-feira (21), que o momento seria de “conquistar as pessoas que não estão vinculadas nem a Bolsonaro, nem a Lula e convencê-las de que o melhor para Fortaleza é Evandro”, apostando em uma estratégia que descontinuasse a polarização. Elmano comentou que discorda do ex-governador neste ponto.
“Minha diferença com ele, nessa questão de interpretação política, é de que eu acho que o nosso povo já faz essa associação. Nosso povo não vê o Lula apenas como pessoa, porque nosso povo vivenciou e vivencia o Lula como presidente. (…) Quando o Lula não estava [como presidente], outras coisas aconteceram e teve prejuízo para o povo. Então, acho que devemos intensificar a polarização do projeto que o Bolsonaro representa”.
POSIÇÃO DE ROBERTO CLÁUDIO E PARTE DO PDT
Sobre o posicionamento do ex-prefeito de Fortaleza e presidente do PDT na cidade, Roberto Cláudio, que definiu apoio a André Fernandes, o governador disse ter uma “decepção muito grande”. Segundo ele, no entanto, o pior não é a decepção dele, mas a do eleitor, “que imaginava Roberto como um outro tipo de político”. Lideranças nacionais do partido, como o deputado federal cearense André Figueiredo – presidente interino da Nacional da sigla – e o presidente licenciado, Carlos Lupi, se posicionaram a favor de Evandro. Questionado, Elmano confirmou haver um indicativo de um novo racha no PDT.
Como lembrou o petista, que está na legenda desde os seus 16 anos, em 1989, o PDT de Leonel Brizola – então candidato à presidência – apoiou Lula no segundo turno da disputa pela Presidência da República contra Fernando Collor. “Quem é da minha geração, sabe da disputa dura que teve entre o Lula e o Brizola em 89. Nós somos do mesmo campo, no sentido de quem é progressista na sociedade. Mas tem alguém que é progressista que é do PT, do PDT, do PCdoB ou do PSB. Somos de partidos distintos, mas temos uma certa comunhão de ideias”, acrescentou.
“Eu, infelizmente, pela minha vivência política, realmente acho que o pensamento que o Roberto Cláudio tem o raciocínio de que, se o candidato do PT ganha a Prefeitura, não apoia ele para governador. E ele está na expectativa de que o André prefeito pode apoiar ele para governador. É só um cálculo de poder”, completou, afirmando lamentar muito.
O chefe do Executivo ressaltou ainda que o grupo de RC, junto ao prefeito Sarto e o ex-governador e ex-ministro, Ciro Gomes (PDT), sabem o que é o bolsonarismo e o que representa a candidatura de André Fernandes. “Eles sabem que o André Fernandes fez campanha de rua contra a vacina. Ele é da turma que saia espalhando coisas para o WhatsApp, e demais redes sociais, de que a vacina ia dar câncer, matar alguém ou era invenção da China para dominar o mundo”, disse. “Quando tomamos decisões na vida, ficamos numa dúvida se aquilo, racionalmente, é o melhor ou, às vezes, se o coração está pedindo outra coisa. Mas o caso do RC com o Sarto e o Ciro, se esqueceu o coração e a cabeça e decidiu com o fígado. E o fígado costuma oferecer veneno, e o veneno é o bolsonarismo”, finalizou.