Voltar ao topo

18 de abril de 2025

É tempo de celebrar a vida: Setembro Amarelo e a importância da prevenção ao suicídio

O dia 10 do mês é considerado, oficialmente, o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa acontece durante os 365 dias do ano
Foto: Divulgação

Compartilhar:

O Setembro Amarelo é uma campanha da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organizada em território nacional desde 2014. O dia 10 do mês é considerado, oficialmente, o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa acontece durante os 365 dias do ano. A ação, atualmente, é a maior de combate ao estigma no mundo. Neste ano de 2022, o lema escolhido foi A vida é a melhor escolha! O intuito do Setembro Amarelo é conscientizar a população sobre o suicídio e formas de evitá-lo, ultrapassando a barreira expressiva que ainda existe ao falar sobre o problema.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, quando foi realizada a última pesquisa para analisar a problemática, mais de 700 mil suicídios foram registrados por ano, sem levar em consideração os episódios subnotificados – caso entrem na contagem, ultrapassa a marca de 1 milhão de casos, diz a entidade. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil por ano, o que, em média, significa o número alarmante de 38 pessoas tirando a sua própria vida todos os dias.

Os países da América estão na contramão da tendência mundial, cujos quantitativos passam por queda. Quase 100% dos casos ocorridos estavam relacionados a doenças mentais, principalmente as que são tratadas de maneira incorreta ou não diagnosticadas. Dito isso, a imensa maioria dos casos poderia ter sido evitada com o acesso do paciente ao tratamento psiquiátrico e informações úteis.

Conforme a professora Lia Sanders, doutora em Psicologia, “um paciente deprimido, por exemplo, perde o interesse pelas atividades, torna-se mais recluso, sente-se culpado, tem alterações do sono, do apetite. Há uma progressão dos sintomas. Em algum momento a pessoa pode pensar em sumir, desaparecer. Não havendo tratamento adequado, pode ser que esse quadro evolua para um pensamento de atentar contra a própria vida, por exemplo.”

Atenção aos sintomas da depressão (Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde):

  • Humor triste, ansioso ou desânimo persistente
  • Irritabilidade
  • Problemas de sono (insônia ou dormir em excesso)
  • Desânimo, cansaço fácil e indisposição frequente
  • Alterações no apetite (perda ou ganho)
  • Dificuldade de concentração, raciocínio mais lento
  • Sentimento de culpa, inutilidade
  • Falta de vontade para realizar atividades antes prazerosas
  • Diminuição do desempenho sexual e da libido
  • Dores e alterações no corpo (dores de cabeça)

Gatilhos para a depressão (Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde):

  • Eventos estressantes
  • Solidão
  • Consumo de álcool e drogas
  • Doenças crônicas
  • Dar à luz

Todas as pessoas devem ser ativas na ajuda na prevenção ao suicídio, tema que ainda é visto como tabu, e na conscientização da importância da vida. É necessário tratar o assunto para que pessoas que estejam passando por dificuldades e crises busquem ajuda e optem sempre pela melhor escolha: a vida. Quando uma pessoa decide encerrar o seu ciclo, suas ações, sentimentos e pensamentos se apresentam de forma muito restritas, com o pensamento constante sobre suicídio. O paciente se torna incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar o problema e, consequentemente, sair dele.

O sofrimento emocional impõe um pensamento distorcido e rígido da realidade. Para a também doutora em Psicologia e diretora da área da Saúde da Uninassau, Ana Cláudia Alexandre, “o suicídio aparece como o final de um processo que já vem se estendendo há muito na pessoa. Quando uma pessoa se suicida, ela, na verdade, não quer morrer, ela quer sarar a dor. Ela vem sofrendo há muito tempo.” A melhor saída para lutar é se informar, buscando aprender e pedir ajuda ao próximo. As pessoas próximas têm um papel importante, e é bom que saibam identificar e ajudar, com escutar, sem julgamento, e se mostrando disponível, de forma empática, mas sem substituir o papel do psiquiatra, que tem capacidade para lidar com a situação e salvar o paciente.

Para Elaine Ribeiro, neuropsicóloga e especialista em Psicologia Clínica e Terapia Cognitivo-Comportamental, “uma das formas de ajudar as pessoas que se encontram em sofrimento é ouvir e acolher.

Outra ajuda pode ser direcioná-las para o suporte em saúde mental em psicoterapia e psiquiatria que poderão agir no diagnóstico e no tratamento adequado. Muitas vezes, uma pessoa nessa situação tem uma dificuldade efetiva em encontrar acolhimento, em se reconhecer e até vergonha de ser repreendida. Quem se encontra num processo depressivo, por exemplo, tem a falta de sentido e motivo como uma das principais coisas que se perde.”

Mais que HIV

O suicídio é um problema de saúde pública mundial, que impacta a sociedade como um todo. De acordo com a OMS, morrem mais pessoas devido ao suicídio que ao HIV, à malária, ou câncer de mama – até mais do que em guerras e homicídios. Entre os jovens de faixa etária de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta causa que mais mata, atrás apenas de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Porém, o tema é um fenômeno complexo que pode afetar pessoas de diferentes origens, culturas, sexos, idades e classes sociais.

No Brasil, 12,6% para cada 100 mil homens em comparação com 5,4% para cada 100 mil mulheres tiram a própria vida. As taxas entre homens são mais altas, geralmente, em países de alta renda (16,6% a cada 100 mil). Entre as mulheres, as taxas mais altas são encontradas, em países de baixa-média renda (7,1% a cada 100 mil). A taxa global diminuiu, assim como em todo mundo, com exceção das Américas.

A taxa global diminuiu em 36%, no Mediterrâneo Oriental a queda foi de 17%, na Europa e no Pacífico Ocidental, diminuiu quase pela metade, sendo 47% e 49%, respectivamente. A região das Américas foi a única com aumento, de 17%, no período entre 2000 e 2019. Alguns países até colocaram a prevenção do suicídio no topo das suas agendas. Entretanto, muitos permanecem não comprometidos o suficiente. Atualmente, apenas 38 nações são reconhecidas por suas estratégias nacionais de prevenção ao suicídio.

Números do Ceará

No Ceará, os números vinham diminuindo de 2018 até 2020, com aumento do número de mortes por suicídio em 2021. Porém, 2022 está com a menor marca registrada dos últimos cinco anos – considerando o período até julho, onde está o último registro deste ano, que ainda não contabilizou o mês de agosto.

Os dados são da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica e Prevenção em Saúde, Célula de Vigilância Epidemiológica e do Sistema de Informação sobre Mortalidade e consideram lesões autoprovocadas intencionalmente e sequelas de lesões autoprovocadas como morte por suicídio. O Hospital Regional do Vale do Jaguaribe (HRJV) passará a oferecer tratamento psiquiátrico para pacientes com transtornos mentais graves, a partir da próxima segunda-feira, 12, que sejam encaminhados pela Central Estadual de Regulação.

A Sesa disponibiliza ações voltadas para a saúde mental, entre elas o Plantão Psicológico ProVida que funciona pelo WhatsApp (85) 98439-0647, pelo aplicativo Ceará App ou pelo site, na plataforma Plantão Saúde. O atendimento é realizado por profissionais de psicologia, de segunda a sexta-feira, das 7 às 19 horas.

Procurada pelo OPINIÃO CE, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse que, em Fortaleza. A SMS informou “que em 2021 foram registrados 108 suicídios em Fortaleza. Em 2020, o número foi de 104, e em 2019, de 108.” O Ministério da Saúde também foi procurado, mas até o fechamento deste conteúdo não deu retorno.

CAIO SALGUEIRO
caio.salgueiro@opiniaoce.com.br

DAVID MOTA
david.mota@opiniaoce.com.br

[ Mais notícias ]