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22 de abril de 2025

E se a Enel “tirar os calços”?

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No jargão popularíssimo cearense, “tirar os calços” é uma expressão que significa ir embora. Na vida prática, tiram-se os calços que impedem que o carro ou um caminhão deslize ladeira abaixo para o veículo poder, enfim, se deslocar. Nas relações cotidianas, as pessoas saem de cena. Simples assim: “Vamo tirá os calço?” “Bó!” A explicação, que para muitos pode parecer despropositada, desinteressante, repetitiva ou dispensável, tem a ver com o caráter estrangeiro da empresa Enel – uma megacompanhia italiana de distribuição de energia elétrica que se fixou no Ceará e, neste momento, se depara com a possibilidade de deixar o mercado, o qual domina sozinha. É uma marca que não conhece fala, gostos e necessidades locais, mas, assim mesmo, veio aqui vender energia. Valeu-se, para tanto, da generosa entrega da estatal Coelce para a espanhola Endesa, que depois passou o patrimônio adiante. Pode-se resumir o negócio assim: o Governo do Estado vendeu a Coelce para a espanhola Endesa por R$ 987 milhões (“ninharia” já na época, considerando que a fábrica de cachaça Ypióca foi comprada pouco depois por R$ 1 bilhão pela britânica Diageo) e em seguida a Endesa a vendeu para a Enel num pacote de bilhões de Euros para a italiana Enel. A gestão tucana do Ceará ficou de braços cruzados só vendo o que se passava.

Dá choque?
Agora, a Enel pode ir embora, pressionada pela política, pelos consumidores e pela Justiça. Os prejuízos podem ficar para os clientes – pessoas físicas e jurídicas que, não por opção, têm de se submeter a serviços deficitários prestados pela empresa e que já têm de amargar dificuldades como quedas seguidas de fornecimento. O que pode acontecer?

Interruptor
A migração da distribuição de energia elétrica no Ceará, deixando as mãos particulares e voltando ao Estado, não há de ser fácil nem barata. A começar pelo fato de que o Estado precisaria recuperar toda a estrutura de postes, fiações, edifícios e equipamentos implantada pela Enel desde 1998 – quando Tasso Jereissati vendeu a Coelce. Se for implementado, será um processo custoso e pesado, deve-se estimar.

Dura lex, sed lex
Mas não devemos ficar no escuro. O artigo 301 da Constituição do Estado é claro (perdão pela ironia involuntária): “Cabe ao Estado e aos Municípios garantir a implantação dos serviços, de equipamentos e infraestrutura básica, visando à distribuição equilibrada e proporcional à concentração e à densidade populacional, tais como: (…) II – energia e sistema telefônico”.

Uma luz
Mais ainda: também obrigado pela Constituição, o Governo do Ceará tem um Conselho Estadual de Energia “com atribuição de estabelecer a política energética estadual, promover e acompanhar sua implementação”.

Dignidade
Essa é para estremecer conservadores, bolsonaristas e inimigos da Madonna: a deputada Lia Gomes (PDT) pôs para tramitar na Assembleia projeto que cria o Dia da Arte Transformista, a ser celebrado em 29 de junho, todo ano, entrando no calendário oficial do Estado do Ceará. A causa é justa: fortalecer a cultura LGBT, gerando oportunidades de trabalho e renda e permitindo a inclusão social. É o tipo do projeto que soma respeito e responsabilidade, daí ter tudo para ser combatido e agredido por “cidadãos de bem”.

Na gringa
Fortaleza entrou no Programa Cities Forward, lançado pelo Governo dos Estados Unidos. É a única capital do Nordeste selecionada para participar do Programa. O foco do Cities Forward é apoiar cidades na implementação de soluções que fomentem investimentos em serviços urbanos.

Oportunismo
O homicídio do suplente de vereador Erasmo Morais (PL), no Crato, movimentou discussões nesta semana no plenário da Assembleia. Antes de qualquer conclusão da Polícia, deputados bolsonaristas como Reginauro Sousa e Aloísio Gomes (União) correram para o microfone e para os holofotes para dizer que o crime foi político. E para acusar “ditadura e totalitarismo”. Ainda atacaram a Imprensa. Imagine se o assunto não fosse tão sério.

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