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21 de janeiro de 2025

Duas cervejas e os aprendizados de mesa de bar

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Raras são as bebidas alcóolicas que agradam o meu paladar. Também tive poucas companhias para frequentar bares. Esse é um dos terrenos que ainda faltam desbravar. Uma noite dessas me deu uma sede irresistível de beber uma cerveja. Sem companhia, não queria ir para longe. Decidi aproveitar a vontade para ir sozinha no bar da esquina.

O primeiro desafio foi encontrar uma roupa adequada. Optei por um shorts jeans e uma blusa com um leve decote. Para fechar o look, um batom vermelho, brincos grandes e rasteirinha com brilho. 

Sentei perto do palco improvisado. No cenário, fumaça e luzes neon. Dali a pouco, um cantor viria desfiar seu repertório com canções sertanejas, forró das antigas e alguns hits dos anos 1980. Era quase dez da noite e em muitas mesas, as garrafas já se acumulavam.

Pedi minha cerveja e lembrei de uma saída com um amigo, poucos dias antes. Desacostumada com bebidas amargas, gostei do sabor da Bohêmia que ele me apresentou. Pedi uma. Logo, percebi os olhares insistentes do homem desacompanhado na mesa em frente. Não gostei da aparência. Contei 12 garrafas vazias. Muito provavelmente, não devia estar enxergando nada direito. Deu vontade de rir.

Olhei para trás e uma vizinha me chamou. Na mesa, duas mulheres. Como gosto muito de conversar, logo soube da história de cada uma. Dona Lucy, 77 anos, separada há uns 40 e morava com um filho que tinha se divorciado. Já tinha bebido suas oito cervejas e me contou que o segredo da longevidade era esse: ter liberdade, amigas pra rir e se divertir. Guardei comigo a lição. 

A outra estava perto dos 50 e ficou viúva na pandemia. Além da diversão aos sábados, cuidava do corpo, indo duas vezes por dia à academia. Seu ofício era orquestrar a rotina dos dois filhos como dona de casa. Domingo, era sagrado dormir até mais tarde. Não gostava de cerveja, preferia cachaça com limão. Sabia dançar bem.

Sem o hábito de beber, fiquei sorrindo, comendo meu espetinho de carne e tomando as duas cervejas que sempre são o meu limite, onde quer que eu vá. Deu 23h, segui para casa. O aprendizado é que a gente vive mais, se não quiser agradar o mundo. Isso adoece.

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