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22 de março de 2025

Dramaturgo Zé Celso deixa legado de arte que revolucionou política e costumes

Uma das características dos espetáculos de Zé Celso é a encenação para o grande público, de graça, ao ar livre ou em grandes espaços
Foto: José Celso Martinez/Instagram

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Falecido nesta quinta-feira, 6, o mais longevo dramaturgo em atividade, Zé Celso Martinez, deixa o legado de uma arte que revolucionou a política e os costumes. Ao encarar a ditadura militar, o artista foi preso, torturado e exilado por suas montagens dionisíacas, entretanto, a perseguição não impediu a produção de documentários sobre as revoluções portuguesa e moçambicana. O documentário Zé Celso: tupy or not tupy lembra que ele trabalhou com grandes nomes das artes, como Augusto Boal, Chico Buarque, Sérgio Britto, Raul Cortez e Pascoal da Conceição.

Nascido em Araraquara, em 1937, José Celso Martinez Corrêa entrou para o curso da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 1955. Apesar de nunca ter exercido a profissão, foi no período em que esteve no Largo São Francisco que formou o Teatro Oficina, onde seus primeiros textos Vento Forte para Papagaio Subir (1958) e A Incubadeira (1959), foram encenados.

No início da década de 60, Zé se profissionalizou e a sede do grupo foi transferida para o teatro da Rua Jaceguai. Três anos depois, o artista dirigia Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki. Vencedora de diversos prêmios, a peça de sucesso foi censurada no ano seguinte à sua estreia, quando o Brasil mergulhou na ditadura militar. Após um incêndio, o teatro da Rua Jaceguai foi reformado e a primeira montagem dessa nova fase foi O Rei da Vela, em 1967, com base num texto escrito por Oswald de Andrade na década de 30, também encenada por Zé Celso.

A partir de 1968, o grupo monta os espetáculos Roda Viva, Galileu Galilei e Na Selva das Cidades. Depois disso, Zé Celso se dedicou ao filme O Rei da Vela e enfrentou um período de crise, sofrendo com a repressão, chegando a ser preso em 1974. Solto 20 dias depois, se exilou em Portugal, onde fez o filme O Parto, por ocasião da Revolução dos Cravos. No ano seguinte, foi a Moçambique, onde filmou a independência do país. Zé Celso voltou para São Paulo em 1978 e retomou o trabalho à frente do Teatro Oficina.

Embora tenha dado um intervalo nas produções nos anos 80, Zé Celso passou a lutar pela permanência da companhia no local onde já havia se consolidado. A ocasião ocorreu pois, em 1982, o dono do quarteirão onde o imóvel está localizado, o Grupo Silvio Santos, anunciou a construção de um shopping center, gerando mobilização dos artistas junto à sociedade civil e autoridades governamentais. O tombamento do espaço cênico do Oficina como patrimônio histórico da cidade de São Paulo contribuiu para a resistência contra os objetivos do grupo.

TEATRO OFICINA

Com o nome de Companhia de Teatro Oficina Uzyna Uzona, a partir de 1990, a companhia entra em nova fase. Espetáculos como As Bacantes (1996), de Eurípides; e Cacilda! (1998), que relatou a vida da atriz Cacilda Becker segundo a visão de Zé Celso foram alguns dos destaques do artista na época. De 2000 em diante, o dramaturgo se dedicou a recriar a obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, publicada em 1902, e fez com que o Oficina fosse palco para assembleias de movimentos artísticos (Arte Contra a Barbárie) e sociais (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST).

O diretor trouxe ainda a construção e desconstrução do Arraial de Canudos (BA), tombado pela guerra de 1897, embate do Exército com os sertanejos liderados por Antônio Conselheiro. Fazem parte dessa epopeia musical A terra (2002), O homem – parte 1 – do pré-homem à re-volta (2003); O homem – parte 2 – da re-volta ao trans-homem (2003); A luta – parte 1 (2005) e A luta – parte 2 (2006). As peças sempre continham cerca de 50 artistas em cena, entre músicos, o núcleo de atores e as crianças e adolescentes do projeto comunitário Bexigão, referência ao bairro do Bexiga, onde fica o Oficina.

Uma das características dos espetáculos de Zé Celso é a encenação para o grande público, de graça, ao ar livre ou em grandes espaços. Um exemplo desse formato é As Dionisíacas, conjunto de quatro peças que percorreu sete capitais ao longo de 2010. As apresentações ocorriam sempre em estádios, com entrada franca. Com informações da Agência Brasil.

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