O documentário “Mestras”, produzido pela RDT em parceria com a Narrativa Entretenimento, reúne cinco mestras da cultura cearense para abordar a importância do seu trabalho de resgate e preservação da tradição, além de mostrar a história de vida dessas mulheres. São elas: Raimundinha Lopes, que é referência na arte da renda de bilro, Lúcia Pequeno, destaque como louceira, Expedita Moreira, um dos maiores símbolos da dança de São Gonçalo, Dina Vaqueira, vaqueira e cantora de aboio, e Ana da Rabeca, musicista e única mulher que toca rebeca no Ceará.
Os principais critérios considerados na escolha entre as 31 mestras existentes foram a localização em diferentes regiões do Ceará e a diversidade de habilidades.
A produtora RDT havia realizado uma produção sobre o mestre do reisado cearense João Paulo Vieira, em Meruoca. A partir dessa ligação com histórias de pessoas que guardam saberes tradicionais do Ceará, a produtora decidiu fazer outro recorte de gênero e ampliar a quantidade de histórias a serem contadas. Em entrevista ao OPINIÃO CE, Emily Bernardo, que participou da direção de arte e assistência de produção do filme, destaca a importância de conhecer as histórias dessas mulheres para além dos conhecimentos que carregam.
“Todas elas têm uma história de vida muito forte, muito emocionante, cada uma com a sua individualidade, mas todas elas, para além das suas habilidades, contam suas histórias de vida, como começaram, o que as levou a serem mestras, como se casaram, tiveram filho. A gente também entra nesse meio mais pessoal. O filme não é só focado no que elas fazem, elas falam também um pouco da história de vida delas”, explicou Emily.
Além das mestras da cultura, a produção audiovisual, que possui direção de Ana Patrícia dos Santos, trouxe os depoimentos de outras nove pessoas, entre familiares e amigos, que foram impactadas pelas mestras e sua cultura, repassando sua tradição para outras gerações. O filme contou com 25 profissionais cearenses em sua produção, montagem e finalização, demorando cerca de um ano para ficar pronto. Emily caracteriza o processo de produção como uma “experiência incrível”, lembrando que a equipe passou por cinco municípios cearenses para realizar a gravação do documentário: Umari, Canindé, Tianguá, Trairi e Limoeiro do Norte.
DIFUSÃO
Lançado em agosto deste ano, o filme, com 1h16 de duração, já teve exibições em Meruoca, Limoeiro do Norte, Canindé e Umari. Em novembro, o documentário voltará a ser reproduzido em municípios cearenses, como Tianguá e Trairi, em referência ao local de origem das mestras Expedida e Raimundinha, respectivamente. O filme é contemplado com o XIV Edital Ceará de Cinema e Vídeo da Secult, que possui distribuição garantida por meio da Lei Paulo Gustavo, através do Edital de apoio ao Audiovisual Cearense – Difusão, Formação e Pesquisa.
TESOUROS VIVOS E A PRESERVAÇÃO DA CULTURA
O longa-metragem aborda a história de cinco figuras importantes para a cultura cearense, que recebem o título de “mestra da cultura”, através dos Tesouros Vivos da Cultura do Ceará, da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará). Em 2023, quando a política pública completou 20 anos de existência, existiam 100 pessoas e instituições reconhecidas no Estado. Conforme a Secult, atualmente, existem 86 mestres da cultura, sendo 31 mulheres e 55 homens. Os mestre e mestras recebem um diploma com o reconhecimento e o auxílio financeiro mensal. Os grupos reconhecidos recebem apoio em suas atividades. A política foi criada para preservar diferentes tradições e saberes.
Emily relembra que, durante o processo de produção do filme, algo em comum entre as entrevistadas foi o medo de sua tradição se perder entre as gerações futuras. “Todas elas falavam a mesma coisa, que elas têm medo que a cultura delas se acabe. Porque é uma coisa, pelo o que elas contam, que não são muitas pessoas que vão atrás de procurar fazer”, disse a produtora.
A mestra da Cultura Ana da Rabeca, que foi reconhecida em 2022, atualmente preserva sua tradição através de aulas em sua casa, que também é um Museu Orgânico. O espaço, localizado em Umari, recebeu o seu nome. Em entrevista ao OPINIÃO CE, a mestra aborda a importância da política dos Tesouros do Ceará.
“Foi uma grande honra receber esse título, porque é muito interessante para a gente, que fica valorizada. Ficam sabendo como é a cultura e como são os saberes da gente. Foi muito bom para Umari, que ficou muito valorizado com esse movimento da cultura. A cultura a gente não pode deixar acabar, a gente tem que continuar e a gente está trabalhando para isso, para não deixar a cultura e os saberes se acabarem”, disse a Mestra Ana da Rabeca.