Diretores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) afirmaram que a entidade está de portas abertas para ouvir as denúncias do dono do Botafogo, John Textor. O oficial de Integridade, Eduardo Gussem, e o diretor de Competições da CBF, Júlio Avellar, falaram na tarde desta segunda-feira (29) à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas. John Textor tem feito denúncias de possíveis manipulações em partidas do futebol brasileiro. Na última segunda-feira (22), ele foi ouvido pela CPI.
Ao responder ao senador Carlos Portinho (PL-RJ), o diretor Júlio Avellar disse que não foi procurado pessoalmente por John Textor, mas registrou que a CBF está aberta a receber representantes de qualquer clube filiado. Eduardo Gussem acrescentou que as autoridades públicas são as responsáveis por analisar as possíveis provas. Na opinião dele, no entanto, o assunto veio ao conhecimento público de forma invertida, pois demandaria mais cuidado com as possíveis provas. Ele também disse que as portas da CBF estarão sempre abertas, mas apontou que o contato precisa ir além de uma conversa e indicar as provas da denúncia.
“Até este momento, estamos muito no campo de colocações e ilações abstratas e não-concretas. A CBF está atenta. Se alguma notícia grave chegar até a CBF, será enviada de imediato à Justiça, à Polícia Federal e à CPI“, declarou Eduardo Gussem.
Carlos Portinho relatou a versão de John Textor à CPI de que tentou de várias maneiras formalizar as denúncias à CBF, mas sem sucesso. Para o senador, seria importante a entidade maior do futebol brasileiro receber o dono do Botafogo e avaliar as denúncias feitas por ele, mesmo que seja para concluir que as suspeitas não são válidas.
“Nós aqui não vamos fulanizar discussão nenhuma. Nosso interesse é o mesmo. É a preservação da integridade do esporte“, declarou o parlamentar.
O presidente da CPI, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), contou que na última sexta-feira (26) falou com John Textor por meio de videoconferência. De acordo com parlamentar, o dono do Botafogo informou que há mais provas cabais de manipulações que ainda serão entregues à CPI.
Jorge Kajuru pediu urgência na entrega desses documentos, para que o assunto do futebol não vire uma novela. O senador ainda sugeriu ao presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, que peça a John Textor o mesmo material que foi entregue à CPI.
“Penso que se o presidente vir essas imagens, junto com a Comissão de Arbitragem, já seria um pontapé fortíssimo. Tenho certeza de que se o Ednaldo visse aquelas imagens, ele tomaria providência”, comentou o senador Kajuru.
APOSTAS
Na visão do vice-presidente da CPI, senador cearense Eduardo Girão (Novo), há um possível conflito de interesses entre o patrocínio de casas de apostas e a administração de campeonatos de futebol por parte da CBF. O parlamentar disse estar assustado com o que vem acontecendo com o futebol e que tem a percepção de uma degradação nos últimos tempos que coincide com o advento das apostas esportivas. Para Eduardo Girão, as denúncias de John Textor precisam de mais atenção, pois ele está querendo ajudar o futebol brasileiro.
“Eu temo que a CBF esteja ajudando a matar a galinha de ouro. Essa questão de aposta esportiva é incompatível com o futebol“, afirmou o senador cearense.
Júlio Avellar respondeu que todos os relatórios com suspeitas são encaminhados às federações e aos órgãos competentes. De acordo com ele, a CBF incluiu entre os temas de palestras da entidade para jogadores o tema da integridade, que aborda assuntos como apostas e manipulações. Ele negou que tenha sido contatado por algum jogador suspeito de envolvimento em manipulação de resultado.
Para o senador Doutor Hiran (PP-RR), as denúncias de John Textor merecem ser investigadas, até para a lisura do futebol brasileiro e para o bem da CBF. O senador questionou Eduardo Gussem sobre os critérios usados pela CBF para assinar um acordo de patrocínio com a empresa Betano, uma casa de apostas.
O dirigente respondeu que a unidade está voltada para a integridade e para a responsabilidade relacionadas a possíveis manipulações de resultado. Assim, disse ele, não é possível dar detalhes sobre o contrato, que é administrado por outros setores dentro da CBF. Eduardo Gussem acrescentou que há leis que tratam do assunto e que a CBF busca seguir a legislação.
GRÊMIO
Jorge Kajuru disse considerar grave a declaração do técnico do Grêmio, Renato Portaluppi (Renato Gaúcho), após o jogo do time do Rio Grande do Sul contra o Bahia no último sábado (27). O treinador gremista reclamou de decisões da arbitragem e, em protesto, retirou todos os jogadores reservas do banco de reservas do Grêmio antes de o jogo terminar. Na entrevista coletiva, ele perguntou se não seria importante que os envolvidos no futebol dessem mais atenção às denúncias de John Textor, que tem falado sobre possíveis manipulações nas partidas dos campeonatos nacionais.
Na mesma linha, o senador Carlos Portinho classificou como gravíssima a denúncia de Renato Gaúcho, que questionou como uma pessoa externa ao jogo teria influenciado na expulsão de um atleta do Grêmio. Ao questionar o diretor Julio Avellar, o senador Romário Farias também citou o caso de Grêmio e Bahia. o dirigente da CBF afirmou que a pessoa indicada por Renato Gaúcho estava trabalhando na partida. Segundo o diretor, não houve qualquer interferência externa, como pode ser conferido pelos áudios do VAR da partida já divulgados pela CBF.
O senador Jorge Kajuru relatou ter sido informado de que houve uma mudança na súmula do jogo, na parte da indicação da função da pessoa apontada por Renato Gaúcho como autora da interferência indevida. Diante da informação, o diretor Eduardo Gussem admitiu a importância de a CBF apurar a denúncia.
Fonte: Agência Senado