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20 de abril de 2025

Dia Nacional do Idoso: a velhice vista e contada de diversos ângulos

Dia Nacional do Idoso é comemorado há 23 anos no Brasil, em 27 de setembro, após ter sido estabelecido pela Comissão de Educação do Senado Federal
Zuila Pereira e Sheila Martins, ambas com 66 anos
Foto: Marlone Melo

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David Mota
david.mota@opiniaoce.com.br

O Dia Nacional do Idoso é comemorado há 23 anos no Brasil, em 27 de setembro, após ter sido estabelecido pela Comissão de Educação do Senado Federal, buscando refletir a situação do idoso no país, além de seus direitos e dificuldades.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com mais de 21,5 milhões de idosos – cerca de 900 mil somente no Ceará. O Estatuto do Idoso foi criado em 2003 e permite prioridade e garantia de acesso a serviços como alimentação, cultura, educação, lazer, saúde e trabalho.

A lei federal 10741/2003, que dispõe sobre o documento, foi criada no dia 1º de outubro, data em que também é celebrado o Dia Internacional da Terceira Idade. Uma pessoa começa a ser considerada idosa a partir dos 60 anos de idade. Durante decadas, o imaginário popular tinha como idosa aquela pessoa com cabelos brancos, fazendo uso de bengalas e fazendo tricô ou lendo jornal. Mas, nos dias atuais, o paradigma está mudando.

É o caso de Zuila Pereira, de 66 anos, que pratica atividades físicas e se considera idosa, mas não velha. “Existe a diferença entre idosa e velha. Eu estou na faixa etária idosa, mas não me sinto velha, porque me cuido, caminho, faço academia. Sou uma pessoa muito ativa. Chego até a sentir um preconceito por não aparentar a idade que eu tenho.” Atividade física é um dos segredos para uma vida saudável na idade mais avançada, recomenda o geriatra Alexandre Cavalcanti.

“As dicas são beba menos. Não é proibido beber, mas não pode exagerar. Não fume, pratique exercícios físicos pelo menos quatro vezes por semana, porém, se conseguir, faça atividade física todos os dias, até porque nosso corpo foi feito para se movimentar. Coma moderadamente, sem exageros. Pode comer de tudo, mas em pequenas quantidades. Também se deve ter uma vida motivada, para que a cabeça esteja sempre desenvolvendo atividades novas. Evite isolamento, para afastar uma depressão, afinal, o ser humano foi feito para conviver com as outras pessoas.”

O médico orienta também “uma espiritualidade, sempre que possível.” Acredito que isso ajude a manter uma vida positiva. Tome as vacinas e durma bem. Seguindo isso, você terá uma velhice tranquila e uma saúde muito boa.” Quem também segue os conselhos é Sheila Martins, de 66 anos, que ressalta que é um privilégio chegar a essa idade sem nenhuma doença.

“Chegar aos 66 anos e não ter nenhuma doença, além de não depender de ninguém, é, realmente, um privilégio. Tenho um estilo de vida saudável, em que me alimento bem. Gosto de fazer atividades físicas, de interagir com amigos e família. Não tomo nenhum remédio, não tenho nenhum problema de saúde, hipertensão, essas coisas. Não tenho nada disso”, afirma.

MARCAS DO PASSADO
Porém, ninguém chega a essa idade sem as marcas do passado, como Norma da Silva, que também tem 66 anos, mesma idade de Zuila e Sheila. Diferentemente de ambas, Norma ainda não está aposentada e segue trabalhando. “Quando chega na velhice, é dor em todo canto. Tenho problema no joelho, já operei as duas vistas e não tenho mais a coragem que tinha antigamente. Já trabalhei muito. Sempre trabalhei em casas de família, desde os meus 23 anos. Tomava conta de tudo, mas hoje em dia não consigo mais fazer isso.”

O também geriatra Rafael Pinheiro alerta para a importância do profissional de saúde voltado para idosos, visto que a população está envelhecendo. “É necessário que haja o aumento de profissionais que cuidam dessa população. A porcentagem de idosos no Brasil e no mundo é muito maior do que já foi há alguns anos, e a formação de médicos geriatras, gerontólogos e outros profissionais de saúde ainda é baixa.’

O médico afirma que o público idoso precisa de cuidados específicos. “É uma população diferente, que necessita de um olhar diferenciado, mais amplo, sobre o cuidado com esses idosos. Muitas vezes, os problemas desses pacientes são causados por vários fatores, por isso é necessário esse olhar mais amplo. E é muito gratificante trabalhar com a população idosa e conseguir, com o nosso trabalho, trazer mais funcionalidade e qualidade de vida para essa população.”

Alexandre Cavalcanti, por sua vez, explica o processo de envelhecimento, que vai refletir todas as decisões tomadas durante a vida. “A velhice é um processo natural. O ser humano, em sã consciência, sempre quer viver mais. Só que, para que nós consigamos envelhecer com saúde, é preciso um cuidado de toda uma vida. Uma pessoa que bebeu e fumou a vida inteira e não pratica exercícios físicos não vai ter uma velhice decente. Provavelmente, o corpo dessa pessoa não suportará todos os desgastes de uma vida mal construída.”

O profissional frisa que “a velhice é como se fosse uma poupança, se, durante a vida, você toma atitudes corretas, você vai acumulando um ‘dinheirinho’ nessa poupança, mas, se você não poupar, quando chega na velhice não tem reserva.”

O geriatra ainda pontua que “envelhecer é um momento que pode ser bastante prazeroso, desde que se tenha uma reserva funcional, ou seja, se consiga fazer as coisas por si só, além da reserva cognitiva, que nada mais é do que ser lúcido, para que possa decidir as coisas por si só, e isso não é mágica, é uma decisão que devemos tomar desde a primeira infância, é uma construção.”

Para Norma, a velhice não é a “melhor idade.” “Eu acho que a idade da mocidade é melhor que a da velhice. Eu tenho que tomar vários remédios, para a pressão e o joelho, e é muito difícil. Às vezes, no posto de saúde está faltando muito remédio. E remédio não é barato.”

Para Sheila, “a melhor idade é a que se está vivendo.” “Na infância, você tem suas dificuldades, seus limites, sua dependência do outro. Não tem autonomia para muita coisa. Na adolescência, na vida adulta e na velhice, você vive as mesmas coisas. Então, acho que melhor idade é a que eu estou vivendo, porque é ela que eu tenho.”
Zuila valoriza as outras fases da vida, mas diz que a velhice vem sendo a melhor. “Cada fase da vida da gente tem uma parte boa, mas acho que essa é a melhor idade mesmo.”

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