Imaginem se cada pessoa pudesse utilizar um espaço público de 5 x 2,20 m em frente a sua casa ou estabelecimento para colocar uma piscina, ou uma mesa de jantar, ou armários, ou um piano, ou qualquer item que queira. É óbvio que a ideia beira o absurdo, mas quando este item é um carro, é completamente normalizada em muitos lugares. Quem defende este suposto “direito adquirido” (ou seja lá qual termo prefiram usar para essa loucura), parece se esquecer que nada mais é do que um espaço público reservado para armazenar um bem privado de uma minoria de pessoas.
A simples ideia de retirada de vagas em vias públicas para prover mais espaço para o trânsito de outras pessoas, que não estão em carros – e que são a maioria – gera revolta e mobilização contrária em motoristas e parte da mídia. Se existe espaço para estacionamento público, não pode faltar espaço para a passagem de ônibus, para calçadas seguras e confortáveis, e infraestrutura de qualidade para ciclistas.
E mesmo se tiver espaço sobrando, por que deveria ser disponibilizado de forma gratuita? Motoristas pagam caro por estacionamento em shopping, que poderia estar incluso no consumo, mas se negam a pagar R$ 2 na Zona Azul. Podem contra argumentar com questões de segurança, mas a verdade é que quase nenhum veículo é vandalizado em regiões movimentadas (onde estão a maioria das vagas rotativas), porque o movimento de pessoas gera segurança no espaço público.
A cobrança é boa para a cidade, pois pode desincentivar as pessoas a irem de carro para os lugares mais movimentados, e melhor ainda se os valores arrecadados forem investidos em transporte público ou mobilidade ativa (parabéns Fortaleza, que direciona 100% do valor para política cicloviária). E o valor é sim muito baixo, se comparado ao preço do m2 nestas regiões, ou ao prejuízo que causam aos comércios por acabar com a visibilidade das fachadas.
Se as cidades ainda querem manter vagas públicas nas ruas, que cobrem por elas de quem usa, e invistam o arrecadado em benefícios para toda a população.