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13 de janeiro de 2025

Desobrigação do uso de máscaras no Ceará divide opiniões de especialistas

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Especialista sem epidemiologia têm opinições divergentes acerca de medida adotada pelo Governo do Estado

Ingrid Campos
ingrid.camos@opiniaoce.com.br

Foto: Natinho Rodrigues

A desobrigatoriedade do uso de máscara em espaços abertos no Ceará está em vigência desde esta segunda-feira, 21.

A flexibilização, no entanto, divide especialistas: enquanto alguns acreditam que os motivos citados pelo governador Camilo Santana na última sexta-feira, 18, são suficientes para se deixar de exigir o uso do equipamento de proteção pessoal, outros pedem cautela e alertam para os riscos da novidade.

No primeiro caso, encaixa-se Luciano Pamplona, biólogo especialista em vigilância epidemiológica. O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) destaca que esse tipo de decisão não deve ser tomada com base em “pressão dos outros estados – mais de 15 unidades federativas, além do Ceará, adotaram a medida – mas sim em dados.

“Os nossos indicadores, a nossa atual taxa de transmissão, a taxa de positividade, ou seja, quantidade de exames positivos que vão pros laboratórios, dá nesse momento a segurança para o comitê tomar essa decisão de iniciar essa flexibilização, sim.”

A medida foi acertada em reunião do Comitê Estadual de Enfrentamento à Pandemia na semana passada. A mudança ocorreu “em virtude da redução do número de casos da covid no Ceará, e o avanço da vacinação dos cearenses”, disse o governador. Para Pamplona, “não tem sentido” continuar usando máscara sempre que se sai de casa “neste momento com a transmissão em queda, muito baixa.”

“É fundamental não entender isso necessariamente como um retrocesso, pelo contrário: a gente conseguiu evoluir até agora, e neste momento os indicadores permitem essa flexibilização. As pessoas precisam, de alguma forma, voltar à sua vida o mais próximo da normalidade possível”, completa.

O docente aponta, contudo, que, além de em ambientes fechados, é necessário usar máscara quando se apresentar sintomas gripais para a autoproteção e a proteção com próximo. Pamplona ressalta ainda que está mantido o direito de as pessoas continuarem usando o equipamento em público se, assim, sentirem-se mais seguras. Quanto à medida que garantirá maior segurança epidemiológica à população, cientistas são unânimes: a vacina.

“Ampliar as coberturas vacinais para que a gente consiga alcançar a terceira dose [D3] no maior percentual da população vai ser a medida mais importante a médio prazo para a gente conseguir ficar livre dessa doença por este ano. Porque, se o cenário indicar que, de fato, ela vai se tornar uma doença endêmica, em algum momento a gente vai ter campanhas de vacinação anual como a gente já tem na gripe,” complementa.

RESSALVAS À MEDIDA
A ressalva é compartilhada pela epidemiologista Lígia Kerr. “Esse grupo de idosos com mais de 60 anos, de imunossuprimidos, de pessoas com alguma comorbidade, devem continuar usando as suas máscaras mesmo em ambientes abertos, além de buscarem as doses de reforço”, diz.

“Evidentemente que a população está cansada de máscaras, já que estamos completando dois anos de pandemia. Ninguém gosta de usar máscara o tempo todo”, comenta a também professora da UFC e médica. Apesar dessa similaridade, a docente não concorda com a liberação definida.

“Eu não concordo com a flexibilização. Nós estamos num momento em que a infecção está em baixa, mas com baixa cobertura de dose de reforço, não temos toda a população vacinada. As crianças estão começando a tomar a segunda dose agora.”

Lígia também acredita que há um risco de a linhagem BA.2 da variante Ômicron vir da Europa para o Brasil e piorar o cenário epidemiológico. “Já se mostrou que, inclusive, que ela pode atingir novamente pessoas com infecções recentes pela ômicron. Então temos visto vários países na Europa e, aparentemente, Estados Unidos já está com a pontinha querendo aumentar também.”

A pesquisadora chama atenção, também, para as aglomerações em ambientes abertos, o que invalidaria o fator da circulação de ar. “Por exemplo, você está num ponto de ônibus, num estádio de futebol, você tá muito próximo da outra pessoa. Apesar de ser aberto, ainda existe risco. Então, eu acho que essa é uma medida que pode contribuir com um futuro aumento diante dessa cobertura vacinal, que não está em número ideal ainda, e diante dessa variante, que está atingindo fortemente vários países europeus”, conclui.

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