A segunda-feira sempre fica melhor quando uns amigos, encontram-se ali, na João Brígido e, cada um como quer, e de forma generosa presenteia democraticamente o balcão com um petisco, uma iguaria – com direito a recitação de poesias, audições de canções, conversas sobre memórias de músicos e músicas, violão e composições gestadas à mesa. Eita, no dia 16 eu faltei. A filha que apresentei à Beira-Mar, ainda nos braços, pediu para caminhar. Depois da caminhada paramos em um daqueles quiosques simpáticos para degustar um sorvete. Em vinte minutos, sete pedintes se aproximaram.
Na quarta chuvosa, antes do almoço na casa da mama, vejo dois queridos amigos e dou uma parada no Bar do Vicente. Sento à mesa, e logo chega um pedinte. Em seguida, para meu desespero silencioso uma família – um homem de uns trinta e cinco anos, com uma criança no braço e uma grande sacola, a mulher com outra bonita sacola e os outros dois filhos bem vestidos, com cerca de dez e doze anos, cada um oferecendo, vendendo bolo. Eram todos brancos, olhos claros e daqui mesmo.
Pareceu-me tratar-se de uma classe média empobrecida. Pensei: Todos estamos empobrecendo! Conversando com um grupo reduzido, de colegas e amigos, a partir do discurso do nosso ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Fórum Econômico Mundial do Davos, na sempre quieta Suíça, cometei-lhes que todos impostos pagos pelas empresas brasileiras, desanimam qualquer candidato à empresário e que a sonegação, o desequilíbrio da carga tributária, diga-se, do imposto de renda como determinante para a desigualdade social na pátria querida. De fato, a tributação sobre o consumo é sentida por toda a população, mas quem tem menor poder aquisitivo sofre mais. Aos sindicalistas, Lula soltou o verbo: “O pobre que ganha R$ 3 mil paga proporcionalmente mais do que quem ganha R$ 100 mil”.
Onde já viu, um professor ter que trabalhar os três expedientes para tentar dar uma vida digna à família, e ainda pagar 27,5% de imposto, quer dizer, sobre salário!? Pois é, na segunda, enquanto caminhávamos na Beira-Mar, e observávamos o crescimento mendicância no entorno – a Oxfam, uma confederação de organizações não-governamentais com mais de 3.000 parceiros, em 90 países publicou seu relatório desalentador: “1% mais rico do mundo embolsou quase duas vezes a riqueza obtida no resto do mundo nos últimos dois anos”. Vixe! Então, por aqui, os mais ricos têm que pagar mais impostos, e não ir morar em Portugal, um país de governo socialista.