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7 de setembro de 2024

Das alegrias bestas do cotidiano

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Ilustração é de autoria do artista Isidro Cistaré

Depois de uma semana super caótica, finalmente, uns dias de paz. Não que a vida tenha parado de aperrear. Longe disso.

Do nada, vi de novo as cores das nuvens. Me alegrei com o cheiro gostoso do café do Léo, com o pão de queijo no ponto que eu gosto, logo de frente para o portão do meu condomínio.

Para continuar essa alegria, era só colocar Yamandu Costa nos fones de ouvido e seguir para deixar o caçula na escola. Em frente à escola, permanece, como sempre, o pé da minha flor preferida, o jasmim amarelo. No chão, um tapete de flores caídas. O perfume marcante no ar.

Ao atravessar a passarela por cima da BR, a esperança era encontrar os cajueiros carregadinhos de flor, com galhos entrando pelas grades. As flores do caju, culpadas do nariz entupido do João e de meio mundo de alérgicos que moram nos arredores. Porém, são tão simples e bonitas, assim como o cheiro de mato que sobe toda vez que eu desço a rampa para pegar o meu ônibus para o trabalho.

Na rua padre Mororó, o canto dos pássaros nos dois pés de ficus benjamim da parada de ônibus dão um ar mais poético aos dias, assim como o belo casarão dos anos 1930, do outro lado da pista.

Em um hospital, fotografei com o celular e o olhar, há dois meses, o chão tingido de rosa pelas flores de jambo. Dessa vez, eram os frutos caídos, assim como pássaros cantando, as copas das árvores cinquentenárias. O tempo e as estações seguem passando. Não podemos impedir a passagem dos meses e o encadear dos acontecimentos. O fluxo da natureza é implacável. Não há como apressar ou retardar o florescer e o amadurecer dos frutos nas árvores. Todas têm as suas épocas.

Enquanto o meu olhar consegue, colho motivos miúdos para seguir sorrindo. São migalhas do divino, que me alimentam e colocam para seguir em frente. Cada um tem as suas próprias motivações para continuar. Eu me apego com essas, porque são mais fáceis de achar nos caminhos. Meu olho é apurado.
Isso só não me garante companhia para a contemplação e, um dia desses, meus filhos reclamaram que, por eu ter ensinado esses segredos para eles, é difícil fazer amizades. As pessoas estranham, não compreendem bem.

Um dia, talvez eles entendam que isso é dom. Escutar o que quase ninguém ouve. Enxergar o escondido. E que salva a gente em muitas horas. Já me salvou mais de uma vez.

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