Crianças em corredores, filas, falta de oxigênio, superlotação, escassez de medicamentos e de profissionais. Essa é a situação do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), gerido pelo Governo do Estado. A denúncia do colapso do equipamento foi recebida pelo Sindicato dos Médicos do Ceará no último dia 25. A entidade encaminhou ofícios à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e à direção do Albert Sabin, cobrando medidas urgentes. Também em caráter de urgência, o sindicato encaminhou ofício ao governador Elmano de Freitas (PT) acerca da situação.
De acordo com uma denúncia de um caso recebida pela entidade, no momento do atendimento o único aparelho disponível não poderia ser conectado apenas no oxigênio, sendo necessário também no ar comprimido. Ainda segundo o relato, por conta disso, em apenas um dia foi necessário, por duas vezes, realizar o procedimento de ambuzar (ventilação de emergência) pacientes por mais de uma hora.
“Nestes casos, a força humana substituiu o ventilador mecânico, utilizando o equipamento denominado ambu. Ocorre que essa manobra deveria ser ministrada por apenas alguns minutos, sendo completamente inviável e arriscado que os profissionais médicos realizem esse processo por tanto tempo”, explica o médico Leonardo Alcântara, presidente do Sindicato dos Médicos.
Nos últimos dias, a entidade alega que o hospital entrou em colapso e que a situação tem gerado enormes transtornos aos pacientes e familiares, bem como aos profissionais da saúde. “As condições de atendimento estão insustentáveis, com os médicos abalados psicologicamente devido às frequentes ameaças. Os profissionais relatam que os plantões noturnos estão cada vez mais perigosos, sofrendo ameaças e abordagens de familiares dos pacientes até mesmo ao saírem do hospital“, acrescenta Leonardo.
O Sindicato dos Médicos destaca que a situação está refletindo, também, em sobrecarga aos médicos generalistas do Programa Saúde da Família (PSF) nas Unidades Básica de Saúde da Família (UBASF), pois conforme previsto no Plano de Contingência feito em parceria entre a Sesa e a Secretaria de Saúde de Fortaleza (SMS), os atendimentos pediátricos que ingressam no Hospital Albert Sabin, classificados como verde ou azul, seriam encaminhados com prioridade de referenciamento para as unidades básicas no entorno do Hias, previamente indicados pela SMS, como César Cals, Matos Dourado e Roberto Bruno. No entanto, na ausência de pediatras, tem sido imposta a realização dos atendimentos pelos médicos generalistas.
Em nota ao OPINIÃO CE, a Sesa informou que está executando o Plano de Contingência 2023 para assegurar o atendimento à população infantil e foi realizado redimensionamento de pessoal por meio da contratação de mais médicos, enfermeiros e técnicos para assegurar o acolhimento a todos os pacientes, inclusive os de nível secundário.

Como parte do plano de contingência, foram acrescidos mais 21 leitos para pacientes crônicos, quatro novos de UTI e outros 40 leitos foram contratados como retaguarda por meio do Hospital Infantil Filantrópico (Sopai).
Sobre a questão do oxigênio, na última terça-feira, 25, a Sesa confirmou que os pacientes que estavam no setor de reanimação do Centro de Emergência foram transferidos sem intercorrências para a sala mais estruturada que antes alocava uma UTI, mesma unidade, visando receber melhor suporte respiratório, com mais pontos de acesso disponíveis e evitando o processo de sobrecarga do sistema.
REPERCUSSÃO NA ASSEMBLEIA E EM BRASÍLIA
A melhora na qualidade da saúde pública segue sendo cobrada por parlamentares em âmbito estadual e federal nas últimas semanas. A reclamação de políticos também exige uma postura mais cordial entre o governador Elmano de Freitas e o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT). Ambos seguem na troca de farpas por discordâncias política e ideológica, na avaliação de oposição e aliados. O deputado Cláudio Pinho (PDT), por exemplo, cobrou celeridade na melhoria do serviço de saúde pública do Estado, durante pronunciamento no primeiro expediente da sessão plenária da Assembleia Legislativa do Ceará desta quinta-feira, 27.
A saúde pública do Ceará, na avaliação do parlamentar, está agonizando e o Governo do Estado estaria atribuindo a culpa ao prefeito de Fortaleza, José Sarto.
“Há dois anos, quando tínhamos os problemas de saúde, era fácil dizer que o problema era o presidente Bolsonaro. Agora não podemos dizer a mesma coisa, pois o presidente é aliado. E aí sobrou para Sarto, que, mesmo com muitos o aconselhando a trancar as portas do IJF para não atender mais pacientes do Interior, afirmou que jamais faria isso pois a saúde pública precisa estar a serviço de todos”, salienta.
Cláudio Pinho apelou às gestões da Capital e do Estado para se unirem em busca de uma solução, pois quem sofre com toda essa problemática é o cidadão cearense. Oposição ao Governo na Alece, a deputada Dra. Silvana (PL) também demonstrou preocupação com a saúde no Ceará. “Estamos em um período anormal, com os hospitais abarrotados, superlotados, e com o Estado registrando infecções de vias aéreas em níveis muito superiores aos últimos anos”, alerta.
No âmbito federal, o senador Eduardo Girão (Partido Novo) informou à reportagem que marcou para o dia 5 de maio uma audiência para ouvir entidades e pessoas lesadas com a problemática dos hospitais. O senador demonstra preocupação, inclusive, com a inimizade política entre Sarto e Elmano. “Nós vamos trazer as pessoas para essa audiência pública para ouvir e para saber o que está acontecendo nos hospitais do Ceará. A gente se preocupa com esse bate cabeça entre Prefeitura e Governo do Estado. E é aí que entra o Senado porque é uma situação de Direitos Humanos puro”, conclui.
O Senador publicou em suas redes sociais nesta quinta mais detalhes sobre a audiência.