20h. A rotina da noite do João Gabriel está em andamento: banho, jantar, pijama, dentes escovados e o olhar atento para a estante. Qual será o livro de hoje? A pergunta sempre vem: “quem escolhe mamãe, eu ou você?” Depois de decidir, deitamos juntos no momento que considero o de maior calmaria e troca do dia. Conversamos um pouco, mergulhamos um na vida do outro, criamos conexões, confiança, falamos palavras doces um para o outro e envoltos naquela atmosfera de amor iniciamos a leitura.
Reduzo a luz do quarto e uso iluminação direcionada apenas ao livro. Gabriel se aconchega no meu ombro e começamos a leitura. Dou o melhor de mim. Entrego o máximo que posso para que aquelas palavras soem tão interessantes, que ele volte a procurá-las na noite seguinte. Quando o cansaço é maior do que o livro e ele adormece, concluímos depois. Mas, na maioria das vezes, conseguimos terminar e ainda falar um pouquinho sobre a história. Acho importante ouvi-lo, entender como ele enxerga as coisas e qual a profundidade das palavras em sua mente e em seu coração.
Imaginar
Há duas semanas começamos a testar algo diferente. Escolhemos um livro de quase 200 páginas e expliquei que seria uma leitura para vários dias, lendo aos poucos. Está sendo incrível! Estamos quase concluindo A Teia de Charlote, um clássico. Gabriel comentou que não imaginava que seria tão interessante. Pela idade dele, 6 anos, as ilustrações fazem muita diferença. E ele adora desenhos, então as ilustrações são uma ponte para as palavras. Porém, num livro quase sem imagens, ele descobriu o poder de imaginar. “Mamãe, eu fecho os olhos e vejo o celeiro, vejo os animais, vejo tudo o que você está lendo”. Isso se chama magia, a magia de uma narrativa.
Formação de um leitor
Gabriel está no processo de alfabetização e já sabe ler sozinho, porém, ainda engatinhando na prática. Dessa forma, ele trabalha a leitura individualizada em outros momentos do dia, na escola, nos horários livres entre as atividades… esses momentos são de esforço pessoal, de subir os degraus da leitura pelo próprio esforço.
Na outra ponta, à noite, entrego o prazer da escuta, aquela leitura aconchegante de colo de mãe, de vozes e interpretações. Manter a leitura à noite sob minha responsabilidade é como manter a magia. E assim vamos caminhando juntos.
Há ainda o estímulo profissional. Gabriel participa semanalmente do curso de formação de leitores do Grupo Encantos. Lá, há profissionais preparados para conduzir essa caminhada usando as ferramentas certas, percorrendo as etapas da escuta, da observação, da interação e da criação.
Independente da sua realidade e do quanto você possa ou deseje investir no estímulo a leitura, o que importa, na verdade, é abrir o caminho. Ofereça os livros, leia, compartilhe esse tempo com a sua criança, do seu jeito, no seu ritmo, dentro das suas possibilidades. Visite uma biblioteca, faça uma parceria com os vizinhos para compartilhar livros, escreva você mesma, ouse. Os frutos serão colhidos rápido e sempre.
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Professora, escritora e contadora de histórias, fundadora do Grupo Encantos
Ler para uma criança pode parecer desafiador. Mas é possível tornar essa “missão” prazerosa e divertida seguindo algumas orientações.
A professora, escritora e contadora de histórias Carol Bittencourt, fundadora do Grupo Encantos, tem o dom da cotação de histórias e compartilha aqui dicas bem especiais. Confira!
Conheça a história antecipadamente. Escolha enredos que dialogam com você e que despertam o seu interesse enquanto leitor.
Durante a narrativa, deixe a sua imaginação te guiar. Tente se transportar para o universo fantástico do “Era uma vez…” e busque se conectar com a história como se ela estivesse acontecendo diante dos
seus olhos.
Esteja preparado para contar e recontar incontáveis vezes a
mesma história. As crianças amam e, sempre que escutamos a mesma história, um novo diálogo interno acontece em cada um de nós. Consequentemente, novas conexões são realizadas e a bagagem do nosso leitor cresce de forma clara e madura.
Repetir é preciso!
Três elementos são fundamentais: a história, o ouvinte e o leitor. Esqueça o mundo lá fora e viva o momento com a riqueza que ele merece. Lembre-se de que você está criando vínculo afetivo e construindo memórias.
Tenha critérios na escolha dos livros. Não esqueça que as crianças estão aprendendo a enxergar as entrelinhas da vida.
Uma história de qualidade é fundamental para a formação da sua criança. Busque livros que não subestimem o pensamento e que despertem reflexões, alegrias, lembranças, mudanças de pensamentos, empatia.
Deleita-se com a leitura e com a companhia da sua criança. Deixe que a narrativa abra caminhos no coração de vocês e construa novas histórias a partir de cada leitura.
Faça vozes, caras e bocas. Não tenha medo de expor suas lembranças e inquietações.
Traga o livro para as conversas do dia a dia e apaixone-se por tudo o que vocês irão colher através desses momentos.
Retire dos seus objetivos a ideia de utilizar a história para repassar alguma bronca disfarçada, ou para ensinar algum conteúdo pedagógico. As crianças percebem e você perde e oportunidade de criar conexões verdadeiras e diálogos que realmente serão relevantes na vida da sua criança.
Dica de Livro
Silvester e a Pedrinha Mágica.
Classificação: 3 a 7 anos
Se você encontrasse uma pedrinha capaz de realizar qualquer desejo, o que você pediria?
Wiliam Stein, norte americano, mesmo autor do famoso personagem Shrek, conta e ilustra a história do Silvester, um burrinho colecionador de pedrinhas que certa manhã encontra exatamente uma pedrinha mágica. Ele fica muito feliz, é o seu dia de sorte, conseguiria realizar qualquer desejo.
Voltando para casa, já pensando em todos os pedidos que iria fazer, ele encontra no meio do caminho um leão. Assustado, sem pensar direito, Silvester deseja se transformar em uma rocha. O desejo se realiza e, em segundos, ele se transforma em uma rocha cinza, fria, pesada e apoiada ao chão. As horas passam, os dias, os meses, e ali permanece Silvester sem conseguir mudar a situação. Seus pais, aflitos, após uma linda “coincidência” encontraram a pedrinha mágica e desejam o seu bem mais precioso de volta: Silvester! A historia termina com pais e filho abraçados no sofá de casa, na segurança e no conforto do lar.
É um livro cheio de mensagens profundas, não apenas para as crianças mas também para os adultos. Ter calma ao tomar as decisões e ser grato ao que se tem fazem parte de algumas das reflexões abordadas no livro.
Por muitas vezes temos tudo o que precisamos e não sabemos. Ficamos encantados com “pedrinhas mágicas” quando a mais valiosa magia se encontra ao nosso redor, no amor que damos e recebemos.
“Um dia, talvez eles fossem querer usá-la, mas, por ora, o que mais poderiam desejar? Eles tinham tudo o que queriam.”
Trecho do livro.
Por Afra Bellucci
Empresária e Contadora de Histórias
Atividade
Pintura divertida
com ligas
Material:
– ligas de borracha coloridas;
– tintas de cores variadas;
– pincel;
– papel branco;
– depósito plástico retangular que caiba uma folha A4.
Como fazer:
Coloque as ligas de borracha de uma ponta a outra do depósito. Use pelo menos 6, com espaçamento de 5cm entre eles, para o desenho ficar bem colorido. Em seguida, estimule a criança a passar tinta nas ligas. Ela pode associar a cor da tinta à cor da liga. Depois coloque a folha branca dentro do depósito (por baixo das ligas) e peça para a criança dedilhar os elásticos. A tinta vai respingar no papel branco formando uma arte bem colorida e divertida. No final, caso a criança queria, pode incrementar a pintura a mão livre.